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São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 2003

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ELIO GASPARI

O tamanho da herança (maldita?)

FFHH sempre insistiu numa coisa: o Brasil tem rumo. Tem, e é para trás. É a tal da "herança maldita" que as tungas e os juros de Lula preservam e aprofundam. Como lembra o vice-presidente José Alencar, no primeiro trimestre deste ano, gastaram-se com juros R$ 44,9 bilhões (12,28% do PIB). A despesa ficou 54,85% acima do mesmo período do ano passado, o último da maldita herança. A cada ano os governantes anunciam que no ano que vem a economia vai crescer. Tomara que a promessa petista para 2004 possa ser cumprida, porque 2003 já foi ao vinagre. Até lá, pode-se visitar o estrago.
Nem uma migalha dessa ruína foi produzida por Lula ou pelo PT. Eles apenas se encantaram pela política que a produziu.
A revista "Estudos Avançados", da Universidade de São Paulo, está circulando com um artigo intitulado "O mercado de trabalho na região metropolitana de São Paulo", da socióloga Marise Pimenta Hoffmann e do economista Sérgio Mendonça, ambos do Dieese. É um estudo do que aconteceu entre 1989 e 2001 com a mão-de-obra da principal área urbana do país, onde vivem perto de 20 milhões de pessoas. Uma devastação, parecida com a de outras grandes cidades brasileiras. As principais desgraças foram três. A saber:
1) Destruíram-se os empregos:
Em 1989 havia 6,43 milhões de trabalhadores empregados em São Paulo. Os desempregados eram 614 mil. Em 2001 os empregados eram 7,6 milhões. Os desempregados, 1,62 milhão. Produziram-se mais desempregados do que empregos. Desapareceram 600 mil postos de trabalho nas indústrias. Em 1989 um desempregado gramava 15 semanas para arrumar serviço. Em 2001, gramou 48 semanas. Um cidadão que tenha ficado sem trabalho no último dia de governo FFHH talvez só se empregue perto do Natal. (Nos próximos meses as ekipekonômicas dos governos Itamar Franco, FFHH e Lula poderão realizar uma cerimônia para marcar a quebra da barreira dos 2 milhões de desempregados na Grande São Paulo.)
2) Deteriorou-se o mercado de trabalho:
Os trabalhadores do setor privado com carteira assinada caíram de 67,3% para 54,9%. Grosseiramente, se em 1989 havia cinco metalúrgicos para um empregado doméstico, em 2001, para cada cinco metalúrgicos, havia dois empregados domésticos. Esse pedaço da mão-de-obra passou de 6,1% para 8,4%.
3) Trabalha-se mais para ganhar menos:
Mais de 40% dos assalariados sempre trabalharam 45 ou mais horas semanais. Em 1989 eram 42,7%. Em 2001, 43,3%. Até aí tudo bem, trabalhar não faz mal a ninguém. O problema está em trabalhar mais para ganhar menos.
Em 2001 a renda ficou 30% abaixo de 1989. Todos os setores perderam renda e quem mais apanhou foi o comércio (-40,9%). A turma dos salários mais baixos perdeu menos, caindo de R$ 240 (em dinheiro de 2001) para R$ 202. O terço superior da massa trabalhadora caiu de R$ 2.642 para R$ 1.822. Como observam os autores do artigo: "A distribuição de renda (...) pode estar melhorando pela retração dos rendimentos médios da população ocupada. Um fenômeno inverso ao "bolo" milagre econômico, que agora está encolhendo em vez de crescer".
Para quem trabalha, a vida está dura. Para quem vive de juros, ela continua maravilhosa. Entre 1989 e 2001, a renda nesse mundo de afortunados foi remunerada a taxas que, como lembra o vice José Alencar, "em determinados casos a gente poderia tachá-las de assalto". Diziam que um governo petista mudaria isso.


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