São Paulo, sexta-feira, 14 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

IMPRENSA

Presidente frustra expectativa de senadores, que acreditavam na revisão do cancelamento do visto de Larry Rohter

Lula diz que só recua se jornal se retratar

Antonio Cruz/Agência Brasil
ESQUERDA VOLVER Jaques Wagner, Lula e Antonio Palocci apontam para a esquerda, durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social ontem

RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem aos líderes aliados do Senado e ao presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), que revogará a decisão de cancelar o visto do correspondente do "New York Times" Larry Rohter se houver uma clara retratação do jornal ou do jornalista pela reportagem que atribuiu a ele uso excessivo de bebida alcoólica.
Lula frustrou a expectativa dos senadores, que acreditavam na revisão da medida ainda ontem. Na reunião com os líderes, o ministro José Dirceu (Casa Civil) fez a mais enfática defesa do ato do governo dizendo que o Estados Unidos precisam entender que o Brasil não é uma "republiqueta".
Na véspera, após um dia inteiro de críticas no Senado à suspensão do visto de Rohter, considerada "truculenta" e "antidemocrática", o líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), negociou com Lula, por telefone, a audiência com Sarney e os líderes da Casa. Nem Dirceu nem o ministro Aldo Rebelo (Articulação Política) foram consultados. Ficaram sabendo após a reunião ser acertada por telefonemas de senadores e deputados. A oposição (PSDB e PFL), que se dispunha a ir à reunião, voltou atrás ao saber por Sarney que não havia nada combinado para Lula recuar da decisão.
Mercadante anunciou no Senado que seria discutida uma "solução alternativa" para o problema, admitindo que o cancelamento do visto "agredia a liberdade de imprensa" e "não era o instrumento mais adequado" para reagir ao que o governo considera uma agressão à honra de Lula.
Lula sinalizou a Mercadante que iria reconsiderar a expulsão de Rohter, porque, naquele momento, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que estava na Suíça, negociava com um advogado do "New York Times" uma retratação do jornal. Mas a carta negociada por Bastos foi considerada insuficiente: "A carta não resolve nada. Defende mais o jornalista do que eu", disse Lula. O presidente afirmou que exige um gesto claro do jornal retirando o que foi dito na reportagem para não cancelar o visto de Rohter.
Mais tarde, na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o presidente respondeu às acusações de autoritarismo: "Em toda a nossa vida sindical, partidária, de oposição, e agora de governo, defendemos e praticamos o diálogo democrático, a negociação política intensa como base nesses princípios". Disse ainda que há uma "visão superficial e preconceituosa" de que governar sem diálogo e sem reuniões torna a gestão mais eficiente: "Nós não acreditamos nisso".

Ofensa pessoal
"O presidente disse que se sente impossibilitado de rever a decisão, se não houver um quadro novo, um gesto claro de retratação. Ele acha que está defendendo a imagem do país. Considera que não se trata de uma ofensa pessoal, mas uma questão de Estado", disse Sarney após a reunião.
Lula se mostrou indignado com a reportagem e com o fato de o jornal ter se negado adotar um gesto de retratação. Disse aos senadores que já foi muito atacado como homem público e tem a "casca dura de tanto apanhar".
Ele afirmou que, como representante do Brasil, não poderia viver com a acusação de que seus atos seriam prejudicados pela bebida. Demonstrou estar revoltado com a ausência de instrumentos legais para se defender, mas disse que voltaria atrás se houvesse retratação. Na reunião, Dirceu fez a intervenção mais dura em defesa do ato do governo. Disse aos senadores que a reportagem de Rohter era uma "afronta" ao país e atingia a soberania nacional.

Colaborou GABRIELA ATHIAS, da Sucursal de Brasília


Texto Anterior: Jornal se diz "satisfeito" com decisão
Próximo Texto: Panfletagem: Centrais chamam Rohter de "alienígena"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.