São Paulo, sexta-feira, 14 de maio de 2004 |
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IMPRENSA Presidente frustra expectativa de senadores, que acreditavam na revisão do cancelamento do visto de Larry Rohter Lula diz que só recua se jornal se retratar
RAQUEL ULHÔA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem aos líderes aliados do Senado e ao presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), que revogará a decisão de cancelar o visto do correspondente do "New York Times" Larry Rohter se houver uma clara retratação do jornal ou do jornalista pela reportagem que atribuiu a ele uso excessivo de bebida alcoólica. Lula frustrou a expectativa dos senadores, que acreditavam na revisão da medida ainda ontem. Na reunião com os líderes, o ministro José Dirceu (Casa Civil) fez a mais enfática defesa do ato do governo dizendo que o Estados Unidos precisam entender que o Brasil não é uma "republiqueta". Na véspera, após um dia inteiro de críticas no Senado à suspensão do visto de Rohter, considerada "truculenta" e "antidemocrática", o líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), negociou com Lula, por telefone, a audiência com Sarney e os líderes da Casa. Nem Dirceu nem o ministro Aldo Rebelo (Articulação Política) foram consultados. Ficaram sabendo após a reunião ser acertada por telefonemas de senadores e deputados. A oposição (PSDB e PFL), que se dispunha a ir à reunião, voltou atrás ao saber por Sarney que não havia nada combinado para Lula recuar da decisão. Mercadante anunciou no Senado que seria discutida uma "solução alternativa" para o problema, admitindo que o cancelamento do visto "agredia a liberdade de imprensa" e "não era o instrumento mais adequado" para reagir ao que o governo considera uma agressão à honra de Lula. Lula sinalizou a Mercadante que iria reconsiderar a expulsão de Rohter, porque, naquele momento, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que estava na Suíça, negociava com um advogado do "New York Times" uma retratação do jornal. Mas a carta negociada por Bastos foi considerada insuficiente: "A carta não resolve nada. Defende mais o jornalista do que eu", disse Lula. O presidente afirmou que exige um gesto claro do jornal retirando o que foi dito na reportagem para não cancelar o visto de Rohter. Mais tarde, na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o presidente respondeu às acusações de autoritarismo: "Em toda a nossa vida sindical, partidária, de oposição, e agora de governo, defendemos e praticamos o diálogo democrático, a negociação política intensa como base nesses princípios". Disse ainda que há uma "visão superficial e preconceituosa" de que governar sem diálogo e sem reuniões torna a gestão mais eficiente: "Nós não acreditamos nisso". Ofensa pessoal "O presidente disse que se sente impossibilitado de rever a decisão, se não houver um quadro novo, um gesto claro de retratação. Ele acha que está defendendo a imagem do país. Considera que não se trata de uma ofensa pessoal, mas uma questão de Estado", disse Sarney após a reunião. Lula se mostrou indignado com a reportagem e com o fato de o jornal ter se negado adotar um gesto de retratação. Disse aos senadores que já foi muito atacado como homem público e tem a "casca dura de tanto apanhar". Ele afirmou que, como representante do Brasil, não poderia viver com a acusação de que seus atos seriam prejudicados pela bebida. Demonstrou estar revoltado com a ausência de instrumentos legais para se defender, mas disse que voltaria atrás se houvesse retratação. Na reunião, Dirceu fez a intervenção mais dura em defesa do ato do governo. Disse aos senadores que a reportagem de Rohter era uma "afronta" ao país e atingia a soberania nacional. Colaborou GABRIELA ATHIAS, da Sucursal de Brasília Texto Anterior: Jornal se diz "satisfeito" com decisão Próximo Texto: Panfletagem: Centrais chamam Rohter de "alienígena" Índice |
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