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JANIO DE FREITAS
Os benfeitores
Eram chamados de malfeitores. Sem maiores distinções. Hoje são chamados de bandidos. Sem maiores nem menores
distinções. Assaltantes pequenos
ou graúdos, traficantes, contrabandistas de quinquilharias, homicidas ferozes, parlamentares e
outros políticos da variada corrupção respondiam, todos, pela
condição brandamente generalizada de malfeitores. Viraram todos bandidos sem diferenciações,
diria uma explicação cordial,
porque malfeitor ressoava jornalismo antiquado. Explicação
mais objetiva está no engrossamento geral do jornalismo, pelo
menos do nosso, e não só vocabular. Mas, já que se fala deste, dirá
tudo a "liberdade" de publicar
palavrões insultuosos que você
não diz à sua filha ou ao filho, à
sua mãe ou ao pai. À margem disso prevalece ainda, no entanto, a
diferença entre liberdade e cafajestice.
Pois bem, nesta manhã de sábado leio em um grande jornal que
delegacias e postos da PM de São
Paulo "foram metralhados ontem
à noite, supostamente por bandidos ligados a uma facção criminosa". Se é apenas suposição que
sejam "bandidos de uma facção
criminosa", talvez fossem, então,
frades e freiras, cirurgiões e redatores, que se organizaram para
atacar delegacias e PMs por diletantismo? Abandonados na suposição, não sabemos. Há 50 ou
mais anos os leitores saberiam,
pelo menos, que foram
malfeitores.
Em louvor aos tempos atuais,
porém, é justo fazer uma ressalva.
Por serem malfeitores, os "supostamente bandidos de uma facção
criminosa" não ficam impedidos
de ser benfeitores. O ataque a instalações e integrantes das polícias, com as conseqüências brutais que buscou e alcançou, está
mostrando a São Paulo que a
chamada criminalidade urbana
subiu muitos níveis. No Brasil todo, sim, e sem a exceção que São
Paulo, por seus ilusionismos jornalísticos, parece ser.
O ataque em São Paulo não foi
um erro geográfico, de um ataque
que devesse ocorrer no Rio. É obra
do nível que a ação da criminalidade alcançou também em São
Paulo e outros Estados, em armamento, estrutura e disposição de
buscar os seus objetivos. Esse nível
não subiu repentinamente. Avança como em degraus. Mas, como
resposta, não houve nem há iniciativa alguma, de ordem legal ou
de reformulação institucional,
que procure os modos mais adequados de elevar o nível de proteção das cidades ao mesmo nível
crescente do que as ameaça
de dentro.
O Rio, Belo Horizonte, Recife,
entre tantas, têm os núcleos da
criminalidade disseminados na
zona urbana principal. São Paulo, diferente, está cercada. Mas o
efeito não difere. Hoje, as tais "supostamente facções criminosas"
guerreiam-se e agem, no crime,
por conta própria. No dia em que
perceberem a sua força caso se
unam -paro aqui. É melhor não
imaginar, se nem para a realidade já à nossa frente os poderes e as
"elites" voltam mais do que a
atenção burocrática.
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