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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/ GUERRA DAS TELES
Dono do Opportunity diz que não deu credibilidade às denúncias contra os petistas nem passou qualquer papel à revista "Veja"
Dantas nega ter documentos sobre contas
JANAINA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
O banqueiro Daniel Dantas, o
controlador do Opportunity, negou ontem possuir documentos
sobre contas bancárias de autoridades brasileiras no exterior. Ele
conversou, do Rio de Janeiro,
com a reportagem da Folha em
São Paulo, por meio de uma videoconferência. Leia a seguir os
principais trechos da entrevista:
Folha - O sr. contratou serviços de
detetives para descobrir contas de
integrantes do governo lá fora?
Dantas - Não, nem soube da
existência de qualquer tipo de investigação desse tipo. Tive conhecimento posterior, isso sim, de
que havia suspeita da existência
de cópias de tais contas.
Folha - O que exatamente informaram ao sr.? E quem contou?
Dantas - Disseram-me que havia
o número das contas no exterior
de pessoas ligadas ao governo, inclusive do presidente Lula. Mas
não vou falar quem me disse, pois
não dei a menor credibilidade.
Folha - O sr. obteve documentos
sobre essas contas?
Dantas - Não, nem passei esse
material à revista "Veja" relativo a
esse caso. Também não mandei
ninguém fazê-lo.
Folha - O sr. acusa o governo de
persegui-lo. Por que a divulgação
das contas iria prejudicá-lo?
Dantas - A minha sensação é que
havia, sim, corrupção no governo,
mas os dados das contas não tinham nada a ver com a disputa
societária [na Brasil Telecom]. Na
verdade não tenho a menor idéia
se existem essas contas ou não.
"Veja" mente quando diz que tinha um compromisso comigo para preservar meu nome como
fonte, caso essas contas fossem
verdadeiras. Isso nunca existiu.
Folha - No caso Kroll, o sr. repetiu
inúmeras vezes que não teve responsabilidade porque a empresa
foi contratada por executivos de
uma empresa sobre a qual o sr. não
tinha poderes diretos. Não é possível que tenha ocorrido o mesmo?
Dantas - Não tive conhecimento
prévio sobre a Kroll, mas fui informado posteriormente. Ou seja,
eu sabia da investigação, embora
não cuidasse dos detalhes. Não recebia os relatórios, mas fui entrevistado pela Kroll. Reportei a eles
o que achava ou sabia.
Folha - Qual era seu relacionamento com o ex-presidente da
Kroll no Brasil Frank Holder?
Dantas - Não tive muito relacionamento. Acabei conversando
mais quando os relatórios da
Kroll foram divulgados pela imprensa e a Brasil Telecom me pediu para ajudar a discutir uma estratégia conjunta de comunicação
sobre o tema. A partir daí tive
conversas mais freqüentes com
Frank Holder e Jules Kroll, que
era o presidente mundial da Kroll.
Folha - O sr. pagou a alguém do
PT? Ou mandou o Opportunity fazê-lo? Ou algum laranja fez isso?
Dantas - Não. E eu não tenho laranjas.
Folha - Quem foi o petista que
procurou representantes do Opportunity para pedir dinheiro?
Dantas - O PT abordou Carlos
Rodenburg dizendo que eles tinham dificuldades. Na época, pelo que me lembro, Carlos me reportou que Delúbio Soares teria
dito a ele que o partido era uma
coisa separada do governo. Que,
na verdade, existia uma necessidade financeira do partido, de uns
US$ 50 milhões, decorrente de
despesas e coisas que o valham, e
que isso não tinha nada a ver com
o governo. Ele entendeu -não
sei se o sr. Delúbio Soares disse ou
não- que era possível que nós
pudéssemos "ser úteis" a essas dificuldades, que eles poderiam tentar diminuir as hostilidades que
vínhamos sofrendo do governo.
Folha - Ou seja, se pagasse ao PT,
o Opportunity deixaria de ter dificuldades junto ao governo.
Dantas - Esse resumo que você
está fazendo, e que a "Veja" tentou fazer, não aconteceu. Ele [Delúbio] nunca disse que, se porventura nós pudéssemos contribuir e
ajudar nas dificuldades [do PT],
que de forma automática cessariam as hostilidades.
Folha - Mas isso foi insinuado?
Dantas - Eu não estava presente
à reunião. O que entendi, a partir
daí, e a precaução que tomei e se
tornou pública foi a seguinte: já
existia uma versão que circulava
na imprensa e em outras conversas que, por conta disso, havia
uma hostilidade para conosco. O
motivo alegado era o fato de Carlos Rodenburg ter devolvido uma
caixinha, um kit, que Ivan Guimarães [ex-presidente do Banco Popular, ligado ao PT] tinha levado a
ele em 2002. Essa caixinha era um
símbolo, uma contribuição de
campanha. Carlos não sabia do
que se tratava e devolveu. Depois
foi alegado que essa devolução foi
encarada como símbolo de hostilidade da nossa parte. Ele [Carlos]
procurou de todas as maneiras
demonstrar que não tínhamos
nada contra ou a favor de qualquer partido. Nossa função era
meramente empresarial, queríamos tocar o nosso negócio e
pronto. Tínhamos obrigação de
obedecer a lei e seguir as normas.
Dentro dessa tentativa, Carlos
acabou tendo um encontro com o
sr. Delúbio Soares e foi sugerido a
ele que, nesse encontro, pudesse
explicar a situação. Foi nesse encontro, segundo me foi reportado, que Delúbio Soares relatou as
dificuldades do partido.
Folha - Quem sugeriu o encontro
a Carlos Rodenburg?
Dantas - O publicitário Marcos
Valério [Fernandes de Souza].
Folha - Como Marcos Valério entrou na história?
Dantas - A Telemig já era cliente
da agência de publicidade dele,
muito embora eu não o conhecesse. Perguntei a Carlos Rodenburg
e ele me explicou que conhece
bem o sócio de Marcos Valério.
Folha - O sr. foi extorquido pelo
PT ou representantes do governo?
Dantas - Não.
Folha - Mas isso não contradiz sua
defesa no processo em Nova York?
Dantas - A linguagem da Corte
tem de ser uma linguagem mais
forte, mais firme.
Folha - Perdoe-me, mas ou o sr.
foi extorquido ou não foi.
Dantas - Ninguém chegou para
mim e disse que, se fosse feito um
pagamento de tanto, acabariam
todos os problemas. Isso não
aconteceu: seria chantagem. O
que aconteceu é que foi "sugerida" a contribuição e o pagamento
não foi feito, exatamente como está nos documentos. Tínhamos
contratos que foram descumpridos, colocaram pressão contra
nós e fomos discriminados. Fato é
que fomos prejudicados.
Folha - Nas CPIs, em 2005, o sr.
negou a extorsão. Voltaria a negar
agora com a mesma veemência?
Dantas - Não, porque agora tenho novos elementos.
Folha - Quais?
Dantas - Estou proibido de falar,
por conta do processo em Nova
York. Há cerca de 1 milhão de documentos por lá. Eles só podem
ser usados para o processo, estão
sob sigilo. Eu gostaria muito que
eles se tornassem públicos.
Folha - Seus advogados dizem
que o PT tinha ódio do sr. Por quê?
Dantas - Existiam três visões distintas. Tinha sido informado que
havia um compromisso entre o
governo e a Telemar para que esta
última comprasse a Brasil Telecom. Outra era a de que o problema era diplomacia, de que tínhamos uma postura antipática. E
outra era a de que não tínhamos
contribuído na campanha.
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