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Planalto avalia que a saída foi "espetacularizada" por Marina
LETÍCIA SANDER
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou contrariado
com a forma escolhida pela ministra Marina Silva para anunciar seu desligamento da pasta.
Para o Planalto, Marina espetacularizou a própria saída ao divulgá-la para a imprensa antes
de discutir o assunto internamente. O governo teme desgaste de sua imagem no exterior
com o episódio, pois a ministra
era uma espécie de símbolo internacional na área ambiental.
Às 19h30 de ontem, a Presidência divulgou a carta de demissão enviada pela ministra e
confirmou que Lula, após ler o
conteúdo, tinha aceitado o pedido. Em relação ao substituto,
o Planalto negou que um convite já tivesse sido feito.
O presidente chegou a falar
com o governador Sérgio Cabral (PMDB) sobre a possibilidade de chamar o secretário de
Meio Ambiente do Rio, Carlos
Minc, para o ministério. Mas,
segundo assessores, tratou-se
de uma sondagem, não de um
convite formal.
A carta com o pedido de demissão da ministra chegou ao
chefe-de-gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, às 13h15 de ontem. Lula estava no Itamaraty,
numa recepção ao chanceler
austríaco, Alfred Gusenbauer.
Enquanto esperava o chanceler, foi ríspido com assessores,
mas o Planalto diz que àquela
altura ele ainda não sabia das
intenções da subordinada.
O ministro José Múcio (Relações Institucionais) tentou entrar em contato com Marina ao
longo da tarde. Não conseguiu
e, a partir daquele momento, a
saída da ministra passou a ser
dada como irreversível.
Lula comentou com auxiliares que já não agüentava os seguidos pedidos de demissão da
subordinada. Disse que a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) sempre se queixava da pasta da colega, argumentando
que todos os projetos para
obras são considerados negativos pelo Meio Ambiente, sem
análise detalhada.
Um ministro disse que a forma da demissão foi pensada para causar dano político ao governo. Hoje, a chanceler alemã,
Angela Merkel, irá encontrar
Lula em Brasília. Há previsão
de assinatura de convênios, alguns na área ambiental.
Marina também pediu demissão a dois dias da exibição
de um programa especial preparado pela BBC, rede britânica de rádio e TV. O programa
discute o desmatamento e se
chama "Dilema na Amazônia".
Rispidez presidencial
A ministra pediu seu desligamento cinco dias depois do lançamento do PAS (Plano Amazônia Sustentável), que teve
evento no Palácio do Planalto.
Na solenidade, ela foi chamada
por Lula de "mãe do PAS", mas,
no mesmo discurso, o presidente anunciou que o coordenador das anunciadas estratégias para a Amazônia não seria
Marina, mas sim o ministro extraordinário de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger.
A ministra, segundo assessores,
não gostou.
Marina Silva demonstrou
distanciamento em relação ao
governo em outro episódio recente. Enquanto o presidente
Lula subia o tom para defender
os biocombustíveis contra críticas externas e internas, a ministra não fez esforço para manifestar apoio à política governamental.
A ONU, parte dos movimentos sociais e alguns países (como Venezuela e Cuba) apontam o etanol como uma das causas principais da recente inflação alimentar. Lula chegou a
classificar como "distorção absurda" a vinculação entre a crise mundial de alimentos e a
produção de biocombustíveis.
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