São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 2008

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Planalto avalia que a saída foi "espetacularizada" por Marina

LETÍCIA SANDER
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou contrariado com a forma escolhida pela ministra Marina Silva para anunciar seu desligamento da pasta. Para o Planalto, Marina espetacularizou a própria saída ao divulgá-la para a imprensa antes de discutir o assunto internamente. O governo teme desgaste de sua imagem no exterior com o episódio, pois a ministra era uma espécie de símbolo internacional na área ambiental.
Às 19h30 de ontem, a Presidência divulgou a carta de demissão enviada pela ministra e confirmou que Lula, após ler o conteúdo, tinha aceitado o pedido. Em relação ao substituto, o Planalto negou que um convite já tivesse sido feito.
O presidente chegou a falar com o governador Sérgio Cabral (PMDB) sobre a possibilidade de chamar o secretário de Meio Ambiente do Rio, Carlos Minc, para o ministério. Mas, segundo assessores, tratou-se de uma sondagem, não de um convite formal.
A carta com o pedido de demissão da ministra chegou ao chefe-de-gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, às 13h15 de ontem. Lula estava no Itamaraty, numa recepção ao chanceler austríaco, Alfred Gusenbauer. Enquanto esperava o chanceler, foi ríspido com assessores, mas o Planalto diz que àquela altura ele ainda não sabia das intenções da subordinada.
O ministro José Múcio (Relações Institucionais) tentou entrar em contato com Marina ao longo da tarde. Não conseguiu e, a partir daquele momento, a saída da ministra passou a ser dada como irreversível.
Lula comentou com auxiliares que já não agüentava os seguidos pedidos de demissão da subordinada. Disse que a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) sempre se queixava da pasta da colega, argumentando que todos os projetos para obras são considerados negativos pelo Meio Ambiente, sem análise detalhada.
Um ministro disse que a forma da demissão foi pensada para causar dano político ao governo. Hoje, a chanceler alemã, Angela Merkel, irá encontrar Lula em Brasília. Há previsão de assinatura de convênios, alguns na área ambiental.
Marina também pediu demissão a dois dias da exibição de um programa especial preparado pela BBC, rede britânica de rádio e TV. O programa discute o desmatamento e se chama "Dilema na Amazônia".

Rispidez presidencial
A ministra pediu seu desligamento cinco dias depois do lançamento do PAS (Plano Amazônia Sustentável), que teve evento no Palácio do Planalto. Na solenidade, ela foi chamada por Lula de "mãe do PAS", mas, no mesmo discurso, o presidente anunciou que o coordenador das anunciadas estratégias para a Amazônia não seria Marina, mas sim o ministro extraordinário de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger. A ministra, segundo assessores, não gostou.
Marina Silva demonstrou distanciamento em relação ao governo em outro episódio recente. Enquanto o presidente Lula subia o tom para defender os biocombustíveis contra críticas externas e internas, a ministra não fez esforço para manifestar apoio à política governamental.
A ONU, parte dos movimentos sociais e alguns países (como Venezuela e Cuba) apontam o etanol como uma das causas principais da recente inflação alimentar. Lula chegou a classificar como "distorção absurda" a vinculação entre a crise mundial de alimentos e a produção de biocombustíveis.


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