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Família de guerrilheiro se manifesta contra governo
Irmã vê pressão política para ossada não ser identificada
SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
Inconformada com o rumo
da identificação da ossada desenterrada em 1996 na região
do Araguaia, a irmã mais velha
do guerrilheiro Bergson Gurjão Farias, Tânia Gurjão Farias, 65, afirmou não entender
a razão da demora e que acredita haver pressões políticas
para que o caso jamais seja esclarecido.
Como a Folha mostrou ontem, a perícia encomendada
pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara concluiu
existir a possibilidade de o esqueleto ser de Bergson. Ele integra a lista dos desaparecidos
nos combates entre militares e
os guerrilheiros rurais enviados ao Araguaia (sudeste do
Pará, norte de Goiás, hoje Tocantins, e sul do Maranhão) pelo então clandestino PC do B,
nos anos 60 e 70.
Administradora de empresa
aposentada, Tânia lamentou,
em entrevista por telefone de
Fortaleza, onde mora, que, passados 13 anos da descoberta
dos restos mortais no cemitério de Xambioá (TO), a família
não tenha ainda uma resposta.
"De vez em quando surge a
informação de que a ossada pode ser do Bergson. Não consigo
entender por que esse povo está demorando tanto para fazer
a identificação. Quanto mais
demora mais difícil vai ficar."
Tânia disse que a esperança
de vir a enterrar os restos mortais do irmão vai aos poucos se
diluindo. "Morro de pena de
minha mãe. Ela [Luiza], que
tem 94 anos, quer morrer só
depois que resolver essa questão. Ela ainda acha que ele pode chegar a qualquer hora."
Há três anos, ela, a mãe e o irmão Jessiner tiveram amostras
de sangue coletadas pela Comissão dos Mortos e Desaparecidos Políticos da Presidência
para exame de DNA. Só há três
dias, por telefone, ela recebeu a
informação de que o exame dera resultado inconclusivo. Para
tornar oficial o reconhecimento, é preciso fazer novo exame
de DNA nos restos mortais.
Responsável pela contratação do perito Domingos Tocchetto, autor do relatório, o deputado Pompeo de Mattos, ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos, disse que pedirá audiência ao presidente
Lula para que sejam retomados
os processos de identificação
de 11 ossadas recolhidas no
Araguaia. "A identificação é
mais que viável. Há possibilidade técnica e científica de se
identificar a pessoa a quem
corresponde o esqueleto e se
essa pessoa é o Bergson."
A opinião é partilhada pela
jornalista Myrian Alves, ex-assessora da Comissão de Direitos Humanos e especialista sobre a guerrilha do Araguaia. Ela
disse que ele nem deveria ser
tido como desaparecido. "Ele
foi enterrado no cemitério de
Xambioá diante de testemunhas. Os militares tinham de
mostrar às pessoas que guerrilheiros estavam morrendo."
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