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Vavá diz à PF que fez pedido direto a Lula
O Palácio do Planalto anunciou que não se manifestará sobre informações que não sejam oficiais; Vavá afirma que pedido foi negado
Irmão do petista disse ter feito uma "sondagem" para saber se poderia colocar máquinas de terraplanagem na empresa Vale do Rio Doce
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE
RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A CAMPO GRANDE
Genival Inácio da Silva, o Vavá, afirmou em depoimento à
Polícia Federal que numa conversa com o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, seu irmão,
fez "uma sondagem para saber
se havia possibilidade de colocar umas máquinas [de terraplanagem] para trabalhar na
empresa Vale do Rio Doce".
Vavá diz que o pedido foi negado pelo presidente, já que ele
"não admite esse tipo de coisa".
A conversa ocorreu em 25 de
março. Nesse dia, em diálogo
com o empresário de jogos Nilton Cezar Servo, gravado pela
PF na investigação da máfia dos
caça-níqueis, Vavá diz que "o
homem [Lula] esteve aqui hoje". "Falou com você?", pergunta Servo. "Conversou. Eu falei
para ele sobre o negócio das
máquinas lá. Ele disse que só
precisa andar mais rápido."
No domingo, o advogado de
Vavá, Nelson Passos Alfonso,
disse em entrevista à imprensa
que as máquinas a que Vavá se
refere na conversa eram de terraplanagem, e não de caça-níqueis. Alfonso não esclareceu
como, onde e para quem o serviço seria realizado.
O irmão do presidente foi indiciado sob suspeita de tráfico
de influência e exploração de
prestígio na Operação Xeque-Mate, no dia 4 de junho.
Baseada em escutas telefônicas, a PF afirma que há dois casos em que Vavá pede dinheiro
para fazer tráfico de influência
e exploração de prestígio.
Em um dos casos, ele se comprometeu a interferir em licitação para garantir obra a uma
construtora, representada por
uma pessoa chamada "Acássio". A PF não sabe qual obra
nem o nome da empreiteira.
Em depoimento à PF, Vavá
disse ter se encontrado uma
vez com o empreiteiro "Acássio", que disse ser do ramo de
terraplanagem. A versão remete às máquinas da conversa
com Lula, mas a PF não diz que
Vavá fez lobby com o presidente para a empresa de Acássio.
No encontro de Acássio com
Vavá, estava presente Servo, o
mesmo que fala das máquinas
na conversa do dia 25. Vavá admitiu o encontro com Acássio
após ouvir um diálogo de sua
conversa com Servo, datada de
14 de março -11 dias antes de
falar com o presidente.
Pelo lobby para a empresa de
Acássio, Vavá pediu R$ 5.000 a
Servo, diz a PF. Na conclusão
das investigações, a PF aponta
que Vavá cometeu crime de exploração de prestígio ao tentar
reverter uma ação no Superior
Tribunal de Justiça desfavorável a agropecuaristas de Assis
(SP). A PF não localizou a ação.
Documentos
Na casa de Vavá, a PF encontrou dois documentos. Uma
carta da Distribuidora Rezende, do Rio de Janeiro, que pretendia acesso à CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) para receber uma dívida de
R$ 13,7 milhões. O pedido deveria ser repassado ao senador
Aloizio Mercadante (PT-SP).
O outro documento era endereçado ao próprio Lula: um
pedido para o presidente agilizar um processo de desapropriação de terra da 7ª Vara Federal de Porto Alegre. O processo, que entrou na Justiça em
agosto de 1985, envolve R$ 2,87
milhões. A União é autora da
ação e há 29 réus.
Vavá diz em depoimento que
não entregou os documentos a
Mercadante nem a Lula.
Outro lado
O Palácio do Planalto afirmou ontem, por meio da Secretaria de Imprensa da Presidência da República, que não se
manifestará sobre informações
que não sejam oficiais.
Em depoimento, Vavá disse
que nunca fez lobby nem recebeu dinheiro do empresário de
jogos Nilton Cezar Servo para
atuar como lobista.
A reportagem não conseguiu
falar ontem com o advogado
Nelson Passos Alfonso, que defende o irmão do presidente.
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