São Paulo, quinta-feira, 14 de junho de 2007

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Vavá diz à PF que fez pedido direto a Lula

O Palácio do Planalto anunciou que não se manifestará sobre informações que não sejam oficiais; Vavá afirma que pedido foi negado

Irmão do petista disse ter feito uma "sondagem" para saber se poderia colocar máquinas de terraplanagem na empresa Vale do Rio Doce


HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A CAMPO GRANDE

Genival Inácio da Silva, o Vavá, afirmou em depoimento à Polícia Federal que numa conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu irmão, fez "uma sondagem para saber se havia possibilidade de colocar umas máquinas [de terraplanagem] para trabalhar na empresa Vale do Rio Doce".
Vavá diz que o pedido foi negado pelo presidente, já que ele "não admite esse tipo de coisa".
A conversa ocorreu em 25 de março. Nesse dia, em diálogo com o empresário de jogos Nilton Cezar Servo, gravado pela PF na investigação da máfia dos caça-níqueis, Vavá diz que "o homem [Lula] esteve aqui hoje". "Falou com você?", pergunta Servo. "Conversou. Eu falei para ele sobre o negócio das máquinas lá. Ele disse que só precisa andar mais rápido."
No domingo, o advogado de Vavá, Nelson Passos Alfonso, disse em entrevista à imprensa que as máquinas a que Vavá se refere na conversa eram de terraplanagem, e não de caça-níqueis. Alfonso não esclareceu como, onde e para quem o serviço seria realizado.
O irmão do presidente foi indiciado sob suspeita de tráfico de influência e exploração de prestígio na Operação Xeque-Mate, no dia 4 de junho.
Baseada em escutas telefônicas, a PF afirma que há dois casos em que Vavá pede dinheiro para fazer tráfico de influência e exploração de prestígio.
Em um dos casos, ele se comprometeu a interferir em licitação para garantir obra a uma construtora, representada por uma pessoa chamada "Acássio". A PF não sabe qual obra nem o nome da empreiteira.
Em depoimento à PF, Vavá disse ter se encontrado uma vez com o empreiteiro "Acássio", que disse ser do ramo de terraplanagem. A versão remete às máquinas da conversa com Lula, mas a PF não diz que Vavá fez lobby com o presidente para a empresa de Acássio.
No encontro de Acássio com Vavá, estava presente Servo, o mesmo que fala das máquinas na conversa do dia 25. Vavá admitiu o encontro com Acássio após ouvir um diálogo de sua conversa com Servo, datada de 14 de março -11 dias antes de falar com o presidente.
Pelo lobby para a empresa de Acássio, Vavá pediu R$ 5.000 a Servo, diz a PF. Na conclusão das investigações, a PF aponta que Vavá cometeu crime de exploração de prestígio ao tentar reverter uma ação no Superior Tribunal de Justiça desfavorável a agropecuaristas de Assis (SP). A PF não localizou a ação.

Documentos
Na casa de Vavá, a PF encontrou dois documentos. Uma carta da Distribuidora Rezende, do Rio de Janeiro, que pretendia acesso à CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) para receber uma dívida de R$ 13,7 milhões. O pedido deveria ser repassado ao senador Aloizio Mercadante (PT-SP).
O outro documento era endereçado ao próprio Lula: um pedido para o presidente agilizar um processo de desapropriação de terra da 7ª Vara Federal de Porto Alegre. O processo, que entrou na Justiça em agosto de 1985, envolve R$ 2,87 milhões. A União é autora da ação e há 29 réus.
Vavá diz em depoimento que não entregou os documentos a Mercadante nem a Lula.

Outro lado
O Palácio do Planalto afirmou ontem, por meio da Secretaria de Imprensa da Presidência da República, que não se manifestará sobre informações que não sejam oficiais.
Em depoimento, Vavá disse que nunca fez lobby nem recebeu dinheiro do empresário de jogos Nilton Cezar Servo para atuar como lobista.
A reportagem não conseguiu falar ontem com o advogado Nelson Passos Alfonso, que defende o irmão do presidente.


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