São Paulo, sábado, 14 de junho de 2008

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ENTREVISTA

GILBERTO KASSAB


Prefeito afirma que Serra é seu aliado e Alckmin, adversário

Democrata diz que usará imagem de tucano em sua propaganda de TV e que não dará trégua a ex-governador no primeiro turno

CATIA SEABRA
FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Na véspera da oficialização da candidatura, o prefeito Gilberto Kassab, 47, avisa: usará imagens do governador José Serra na campanha. Dizendo-se "feliz" com os tucanos pró-aliança, Kassab descarta ainda um pacto com Geraldo Alckmin (PSDB). Para ele, Alckmin ficará sem discurso. "Ele está no meu governo. Se tiver críticas, estranho que não tenha feito antes."

 

FOLHA - Sua candidatura está registrada para a convenção. Então...
GILBERTO KASSAB
- Agora é fato concreto. Uma candidatura que fiz questão de registrar como natural. Não havia decisão porque negociávamos com outros partidos. Hoje, é uma proposta concreta para a convenção. Aliás, a única.

FOLHA - O sr. insiste que sua candidatura é natural. Por quê? Acha que Alckmin está fazendo prevalecer a vontade dele?
KASSAB
- Não faria uma afirmação dessas. Até porque percebo que, no PSDB, existem vozes a favor da candidatura dele. E vozes discordantes, que defendem a minha.

FOLHA - O sr. apóia os tucanos que propõem sua candidatura?
KASSAB
- Não poderia dizer que apóio. Seria uma ingerência. Mas fico muito contente, me sinto feliz. É legítimo, faz parte da democracia partidária. Quero registrar minha gratidão à bancada de vereadores do PSDB. Seria hipocrisia dizer que não fico feliz em ver companheiros que defendem a aliança. Vamos aguardar a convenção [do PSDB].

FOLHA - Ainda tem esperanças?
KASSAB
- Não digo esperanças, mas há condições técnicas de que haja aliança.

FOLHA - A candidatura Alckmin contraria a naturalidade?
KASSAB
- Sob um aspecto, sim. Os grandes partidos aspiram à candidatura própria. Sob esse aspecto, é legítima. Mas, do ponto de vista administrativo e de alianças, não tem naturalidade. Este é um governo que merece ser continuado.

FOLHA - Alckmin vai ficar sem discurso na campanha?
KASSAB
- Terá dificuldade para fazer críticas. Se tiver críticas a fazer, estranho que não tenha feito antes. Alckmin está no meu governo, seu partido está no meu governo. Não teria sido correto ou leal da parte dele não ter me procurado, ou os secretários. É incoerente. Afinal, são mais de dois anos que estou no governo. Se tivesse algo para ser corrigido, ele tem espírito público, teria me procurado.

FOLHA - Ele falou que a cidade está triste, o trânsito é um problema...
KASSAB
- Ele pode ter propostas diferentes para o futuro. Nenhum governo resolve tudo numa única gestão. Mas, em relação ao meu governo, tenho certeza de que não terá críticas.

FOLHA - O governador José Serra (PSDB) diz que terá de apoiar Alckmin se essa for a decisão do partido.
KASSAB
- Ele disse "se". E todos sabem a estima que tenho pelo governador, nossa excelente relação pessoal e política e o excelente entrosamento administrativo. Queria agradecer as considerações que faz à minha pessoa e ao meu governo.

FOLHA - Quando diz que "todos sabem a estima", é porque ninguém pode ignorar a aliança de vocês?
KASSAB
- O importante é que ficou claro que ele torceu, ou ainda torce, para que a aliança continue. Tem sido muito cuidadoso. Nestas eleições, ele tem dois aspectos que precisam ser registrados: um, este é também um governo dele. Ele, com certeza absoluta, tem muito orgulho das nossas realizações. O segundo: ele é uma pessoa de partido. Confio muito na sua competência para administrar essa situação, muito complexa.

FOLHA - O Alckmin impôs um constrangimento a Serra?
KASSAB
- Vamos ficar no termo situação complexa. E não foi Serra que causou.

FOLHA - O sr. vai usar imagem do governador no programa eleitoral?
KASSAB
- Sim. Não tem por que não. O meu governo tem a presença dele muito forte. É evidente. Vejo com muita naturalidade a presença dele e de outros filiados ao PSDB.

FOLHA - O sr. acredita num pacto de não-agressão com o PSDB, sabendo que vai disputar com Alckmin a vaga do segundo turno?
KASSAB
- A conduta é ditada pelos candidatos. Confio no meu bom senso. Vou me concentrar na apresentação do que meu governo fez e das propostas para os próximos quatro anos.

FOLHA - Mas, no primeiro turno, não tem trégua?
KASSAB
- Não tem trégua. É uma disputa eleitoral. Todos são adversários. Se existem outras candidaturas, é porque têm outras propostas. São adversários, no sentido técnico.

FOLHA - A temperatura não pode subir entre PSDB e o DEM?
KASSAB
- Toda campanha tem seus momentos de tensão. Quem se apresentar como candidato sabe que, em alguns momentos, tem clima de tensão. Estou preparado para viver esses momentos.

FOLHA - O que espera do secretariado tucano após as convenções?
KASSAB
- Tenho muito orgulho. Espero tê-lo até o fim da campanha, da gestão.

FOLHA - Por que a aprovação de seu governo não se converte em intenção de voto?
KASSAB
- Porque não sou candidato. Ainda não estou em campanha.

FOLHA - O sr. tem debatido mais com a ex-prefeita Marta Suplicy. É uma estratégia?
KASSAB
- Não. Ela fez considerações sobre minha administração e tive que responder.

FOLHA - O sr. vai comparar seu trabalho com o do Alckmin? Vai chegar a esse ponto?
KASSAB
- O comparativo é muito importante. Precisamos comparar, sim, com o ex-governador, comparar a ação da candidata Marta com a ação dela de prefeita, ver o que cada um fez pelo metrô, pelo Rodoanel, na área da saúde, pela valorização dos servidores, em relação às escolas de lata, na questão do meio ambiente...

FOLHA - O sr. disse que, na campanha, será possível comparar em que estado estava a CET...
KASSAB
- Temos a oportunidade de relembrar às pessoas como estava. A CET totalmente sucateada.

FOLHA - O sr. usará essas imagens?
KASSAB
- Sim. Evidente. A comparação é muito importante. As pessoas precisam ver como estava a cidade quando assumi. Como estava o hospital M'Boi Mirim: um terreno baldio. Como estava o hospital Tiradentes: um esqueleto. As escolas de lata. Como estava o programa de recapeamento? Os corredores de ônibus que foram feitos funcionam? O corredor da Rebouças funciona? Não. Foi feito atabalhoadamente.

FOLHA - O sr. fala muito em investimento do metrô. É um antídoto por imaginar que o trânsito será seu ponto fraco?
KASSAB
- São afirmações, se forem feitas, de quem não conhece administração pública. Numa cidade como São Paulo não se consegue, do dia para noite, R$ 1 bilhão para investir.

FOLHA - O sr. está preparado para ser saco de pancadas nessa área?
KASSAB
- Ninguém gosta de ser saco de pancadas. Estou preparado para discutir em alto nível.

FOLHA - A saída do presidente do CET é o reconhecimento de que a coisa estava errada?
KASSAB
- Não. Porque ele continua no governo. A mudança é administrativa. Ele continua no conselho. A saída foi de vontade própria. Ele tem outras atribuições, mais restritas ao campo conceitual.

FOLHA - Dizem que ele reclamou muito de cortes no orçamento?
KASSAB
- Quem não reclama?

FOLHA - A Folha demonstrou a demora na retirada de carros e caminhões quebrados, o que é um problema da sua gestão...
KASSAB
- Recebemos a cidade com problemas na licitação dos guinchos, o que foi superado. Hoje estamos com esse problema resolvido, com 48 novos guinchos e três pátios estratégicos. O que nos permite ter agilidade e velocidade maior em relação aos acidentes.

FOLHA - Para Alckmin, o trânsito é causa do sofrimento do povo. Além de chamar a administração de medíocre, a Marta disse que o trânsito é o grande problema. O slogan de Maluf deve ser "anda, São Paulo".
KASSAB
- Tenho discordância em relação às três afirmações. Quanto à prefeita Marta, não é a expressão apropriada para debatermos em alto nível. Medíocre também é uma administração fazer investimentos sem se dar prioridade à eliminação de escolas e salas de lata. Sobre o ex-governador Geraldo Alckmin. É evidente que o trânsito é uma questão grave. Não podemos criticar os ex-governadores por não terem dado velocidade à conclusão do Rodoanel, por não terem feito mais metrô. Importante é elevar o nível e mostrar proposta para o futuro.

FOLHA - Alckmin errou ao não ter autorizado pedágio no Rodoanel para acelerar as obras.
KASSAB
- No Rodoanel, sim. E todos erraram em não investir mais em metrô. O governo federal, estadual e as prefeituras. O governador José Serra está acertando. Vamos comparar o que ele está investindo e a velocidade com quem está executando as obras do Rodoanel. O governo do Estado investiu muito pouco no metro nas últimas décadas. O Serra está corrigindo a distorção.

FOLHA - O caso Alstom pode prejudicar a candidatura do PSDB?
KASSAB
- O que sei é o que tem sido veiculado na imprensa. Espero que isso não aconteça, ficarei muito decepcionado se tiver acontecido problemas no governo Geraldo Alckmin.

FOLHA - O sr. vai abrir mão dos conselhos do Serra na campanha?
KASSAB
- Ele tem muita experiência na vida pública. Portanto, tendo eu essa liberdade com ele e, tenho certeza, tendo ele essa estima por mim, ele em nenhum momento se negará a estar comigo dialogando sobre a cidade, sobre as questões que existem na vida pública hoje. Isso vai continuar, independentemente dos caminhos.

FOLHA - Vamos falar das alianças. Hoje os cargos mais importantes estão com tucanos. Não causará ciúme nos aliados: PMDB, PR e PV?
KASSAB
- O momento agora é de fazermos a campanha, de apresentarmos a proposta. Estruturação de governo vem depois das eleições. Acabei de dizer que a aliança continua e vai continuar. Estarei defendendo a aliança do meu partido para uma candidatura do Serra, se existir, para presidente.

FOLHA - Esses novos aliados têm falado em participar do governo. O PV reivindicou a subprefeitura da Mooca, o PR, do Butantã.
KASSAB
- Não existiu reivindicação. Queria registrar a postura correta dos partidos que compõem minha aliança. Em nenhum momento houve conversa em relação à ocupação de cargos. Até seria natural e pode até acontecer.

FOLHA - O sr. teme o uso do episódio do "vagabundo" da campanha?
KASSAB
- Não. Foi uma manifestação feita em uma instituição de saúde. Indignado, eu me excedi. Um prefeito não pode se exceder. Pedi desculpas.

FOLHA - Quem vai financiar a sua campanha? O sr. vai impedir a doação de fornecedores da prefeitura?
KASSAB
- O importante é que tudo seja feito com muito cuidado, com muita ética e com muita responsabilidade.


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