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ENTREVISTA
GILBERTO KASSAB
Prefeito afirma que Serra é seu aliado e Alckmin, adversário
Democrata diz que usará imagem de tucano em sua propaganda de TV e que não dará trégua a ex-governador no primeiro turno
CATIA SEABRA
FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Na véspera da oficialização da candidatura, o prefeito
Gilberto Kassab, 47, avisa: usará imagens do governador José Serra na campanha. Dizendo-se "feliz" com
os tucanos pró-aliança, Kassab descarta ainda um
pacto com Geraldo Alckmin (PSDB). Para ele, Alckmin ficará sem discurso. "Ele está no meu governo. Se
tiver críticas, estranho que não tenha feito antes."
FOLHA - Sua candidatura está registrada para a convenção. Então...
GILBERTO KASSAB - Agora é fato
concreto. Uma candidatura
que fiz questão de registrar como natural. Não havia decisão
porque negociávamos com outros partidos. Hoje, é uma proposta concreta para a convenção. Aliás, a única.
FOLHA - O sr. insiste que sua candidatura é natural. Por quê? Acha que
Alckmin está fazendo prevalecer a
vontade dele?
KASSAB - Não faria uma afirmação dessas. Até porque percebo
que, no PSDB, existem vozes a
favor da candidatura dele. E vozes discordantes, que defendem a minha.
FOLHA - O sr. apóia os tucanos que
propõem sua candidatura?
KASSAB - Não poderia dizer que
apóio. Seria uma ingerência.
Mas fico muito contente, me
sinto feliz. É legítimo, faz parte
da democracia partidária. Quero registrar minha gratidão à
bancada de vereadores do
PSDB. Seria hipocrisia dizer
que não fico feliz em ver companheiros que defendem a
aliança. Vamos aguardar a convenção [do PSDB].
FOLHA - Ainda tem esperanças?
KASSAB - Não digo esperanças,
mas há condições técnicas de
que haja aliança.
FOLHA - A candidatura Alckmin
contraria a naturalidade?
KASSAB - Sob um aspecto, sim.
Os grandes partidos aspiram à
candidatura própria. Sob esse
aspecto, é legítima. Mas, do
ponto de vista administrativo e
de alianças, não tem naturalidade. Este é um governo que
merece ser continuado.
FOLHA - Alckmin vai ficar sem discurso na campanha?
KASSAB - Terá dificuldade para
fazer críticas. Se tiver críticas a
fazer, estranho que não tenha
feito antes. Alckmin está no
meu governo, seu partido está
no meu governo. Não teria sido
correto ou leal da parte dele
não ter me procurado, ou os secretários. É incoerente. Afinal,
são mais de dois anos que estou
no governo. Se tivesse algo para
ser corrigido, ele tem espírito
público, teria me procurado.
FOLHA - Ele falou que a cidade está
triste, o trânsito é um problema...
KASSAB - Ele pode ter propostas diferentes para o futuro.
Nenhum governo resolve tudo
numa única gestão. Mas, em relação ao meu governo, tenho
certeza de que não terá críticas.
FOLHA - O governador José Serra
(PSDB) diz que terá de apoiar Alckmin se essa for a decisão do partido.
KASSAB - Ele disse "se". E todos
sabem a estima que tenho pelo
governador, nossa excelente
relação pessoal e política e o excelente entrosamento administrativo. Queria agradecer as
considerações que faz à minha
pessoa e ao meu governo.
FOLHA - Quando diz que "todos sabem a estima", é porque ninguém
pode ignorar a aliança de vocês?
KASSAB - O importante é que ficou claro que ele torceu, ou ainda torce, para que a aliança
continue. Tem sido muito cuidadoso. Nestas eleições, ele
tem dois aspectos que precisam
ser registrados: um, este é também um governo dele. Ele, com
certeza absoluta, tem muito orgulho das nossas realizações. O
segundo: ele é uma pessoa de
partido. Confio muito na sua
competência para administrar
essa situação, muito complexa.
FOLHA - O Alckmin impôs um constrangimento a Serra?
KASSAB - Vamos ficar no termo
situação complexa. E não foi
Serra que causou.
FOLHA - O sr. vai usar imagem do
governador no programa eleitoral?
KASSAB - Sim. Não tem por que
não. O meu governo tem a presença dele muito forte. É evidente. Vejo com muita naturalidade a presença dele e de outros filiados ao PSDB.
FOLHA - O sr. acredita num pacto
de não-agressão com o PSDB, sabendo que vai disputar com Alckmin
a vaga do segundo turno?
KASSAB - A conduta é ditada pelos candidatos. Confio no meu
bom senso. Vou me concentrar
na apresentação do que meu
governo fez e das propostas para os próximos quatro anos.
FOLHA - Mas, no primeiro turno,
não tem trégua?
KASSAB - Não tem trégua. É
uma disputa eleitoral. Todos
são adversários. Se existem outras candidaturas, é porque
têm outras propostas. São adversários, no sentido técnico.
FOLHA - A temperatura não pode
subir entre PSDB e o DEM?
KASSAB - Toda campanha tem
seus momentos de tensão.
Quem se apresentar como candidato sabe que, em alguns momentos, tem clima de tensão.
Estou preparado para viver esses momentos.
FOLHA - O que espera do secretariado tucano após as convenções?
KASSAB - Tenho muito orgulho.
Espero tê-lo até o fim da campanha, da gestão.
FOLHA - Por que a aprovação de
seu governo não se converte em intenção de voto?
KASSAB - Porque não sou candidato. Ainda não estou em
campanha.
FOLHA - O sr. tem debatido mais
com a ex-prefeita Marta Suplicy. É
uma estratégia?
KASSAB - Não. Ela fez considerações sobre minha administração e tive que responder.
FOLHA - O sr. vai comparar seu trabalho com o do Alckmin? Vai chegar
a esse ponto?
KASSAB - O comparativo é muito importante. Precisamos
comparar, sim, com o ex-governador, comparar a ação da candidata Marta com a ação dela
de prefeita, ver o que cada um
fez pelo metrô, pelo Rodoanel,
na área da saúde, pela valorização dos servidores, em relação
às escolas de lata, na questão do
meio ambiente...
FOLHA - O sr. disse que, na campanha, será possível comparar em que
estado estava a CET...
KASSAB - Temos a oportunidade de relembrar às pessoas como estava. A CET totalmente
sucateada.
FOLHA - O sr. usará essas imagens?
KASSAB - Sim. Evidente. A comparação é muito importante. As
pessoas precisam ver como estava a cidade quando assumi.
Como estava o hospital M'Boi
Mirim: um terreno baldio. Como estava o hospital Tiradentes: um esqueleto. As escolas de
lata. Como estava o programa
de recapeamento? Os corredores de ônibus que foram feitos
funcionam? O corredor da Rebouças funciona? Não. Foi feito
atabalhoadamente.
FOLHA - O sr. fala muito em investimento do metrô. É um antídoto por
imaginar que o trânsito será seu
ponto fraco?
KASSAB - São afirmações, se forem feitas, de quem não conhece administração pública. Numa cidade como São Paulo não
se consegue, do dia para noite,
R$ 1 bilhão para investir.
FOLHA - O sr. está preparado para
ser saco de pancadas nessa área?
KASSAB - Ninguém gosta de ser
saco de pancadas. Estou preparado para discutir em alto nível.
FOLHA - A saída do presidente do
CET é o reconhecimento de que a
coisa estava errada?
KASSAB - Não. Porque ele continua no governo. A mudança é
administrativa. Ele continua
no conselho. A saída foi de vontade própria. Ele tem outras
atribuições, mais restritas ao
campo conceitual.
FOLHA - Dizem que ele reclamou
muito de cortes no orçamento?
KASSAB - Quem não reclama?
FOLHA - A Folha demonstrou a demora na retirada de carros e caminhões quebrados, o que é um problema da sua gestão...
KASSAB - Recebemos a cidade
com problemas na licitação dos
guinchos, o que foi superado.
Hoje estamos com esse problema resolvido, com 48 novos
guinchos e três pátios estratégicos. O que nos permite ter
agilidade e velocidade maior
em relação aos acidentes.
FOLHA - Para Alckmin, o trânsito é
causa do sofrimento do povo. Além
de chamar a administração de medíocre, a Marta disse que o trânsito é
o grande problema. O slogan de Maluf deve ser "anda, São Paulo".
KASSAB - Tenho discordância
em relação às três afirmações.
Quanto à prefeita Marta, não é
a expressão apropriada para
debatermos em alto nível. Medíocre também é uma administração fazer investimentos sem
se dar prioridade à eliminação
de escolas e salas de lata. Sobre
o ex-governador Geraldo Alckmin. É evidente que o trânsito é
uma questão grave. Não podemos criticar os ex-governadores por não terem dado velocidade à conclusão do Rodoanel,
por não terem feito mais metrô.
Importante é elevar o nível e
mostrar proposta para o futuro.
FOLHA - Alckmin errou ao não ter
autorizado pedágio no Rodoanel
para acelerar as obras.
KASSAB - No Rodoanel, sim. E
todos erraram em não investir
mais em metrô. O governo federal, estadual e as prefeituras.
O governador José Serra está
acertando. Vamos comparar o
que ele está investindo e a velocidade com quem está executando as obras do Rodoanel. O
governo do Estado investiu
muito pouco no metro nas últimas décadas. O Serra está corrigindo a distorção.
FOLHA - O caso Alstom pode prejudicar a candidatura do PSDB?
KASSAB - O que sei é o que tem
sido veiculado na imprensa. Espero que isso não aconteça, ficarei muito decepcionado se tiver acontecido problemas no
governo Geraldo Alckmin.
FOLHA - O sr. vai abrir mão dos conselhos do Serra na campanha?
KASSAB - Ele tem muita experiência na vida pública. Portanto, tendo eu essa liberdade com
ele e, tenho certeza, tendo ele
essa estima por mim, ele em
nenhum momento se negará a
estar comigo dialogando sobre
a cidade, sobre as questões que
existem na vida pública hoje.
Isso vai continuar, independentemente dos caminhos.
FOLHA - Vamos falar das alianças.
Hoje os cargos mais importantes estão com tucanos. Não causará ciúme nos aliados: PMDB, PR e PV?
KASSAB - O momento agora é
de fazermos a campanha, de
apresentarmos a proposta. Estruturação de governo vem depois das eleições. Acabei de dizer que a aliança continua e vai
continuar. Estarei defendendo
a aliança do meu partido para
uma candidatura do Serra, se
existir, para presidente.
FOLHA - Esses novos aliados têm
falado em participar do governo. O
PV reivindicou a subprefeitura da
Mooca, o PR, do Butantã.
KASSAB - Não existiu reivindicação. Queria registrar a postura correta dos partidos que
compõem minha aliança. Em
nenhum momento houve conversa em relação à ocupação de
cargos. Até seria natural e pode
até acontecer.
FOLHA - O sr. teme o uso do episódio do "vagabundo" da campanha?
KASSAB - Não. Foi uma manifestação feita em uma instituição de saúde. Indignado, eu me
excedi. Um prefeito não pode
se exceder. Pedi desculpas.
FOLHA - Quem vai financiar a sua
campanha? O sr. vai impedir a doação de fornecedores da prefeitura?
KASSAB - O importante é que
tudo seja feito com muito cuidado, com muita ética e com
muita responsabilidade.
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