São Paulo, domingo, 14 de junho de 1998

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SEMINÁRIO
Sociólogo chileno Enzo Faletto participará na USP de discussão sobre a teoria da dependência, que ajudou a formular
Intelectuais revêem obra teórica de FHC

CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO
da Reportagem Local

Três décadas depois de ter sido formulada, a principal contribuição intelectual do presidente Fernando Henrique Cardoso, que ficou conhecida como teoria da dependência, está sendo revista -e criticada duramente.
Há 30 anos era publicado o livro "Dependência e Desenvolvimento na América Latina", escrito por FHC em conjunto com o sociólogo chileno Enzo Faletto.
A obra foi escrita no Chile, onde os dois trabalhavam para a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe das Nações Unidas) e influenciou o pensamento de muitos sociólogos e economistas latino-americanos.
Em resumo, os dois estudaram a situação de dependência dos países mais pobres em relação aos mais ricos, mas inovaram o pensamento dominante na Cepal recusando, por exemplo, a idéia de que a dependência implicava necessariamente estagnação econômica.
Além disso, defenderam a proposta de se estudar o caso de cada país individualmente e não como parte de um bloco econômico.
Durante algum tempo, a teoria foi considerada uma das principais contribuições latino-americanas ao pensamento econômico, embora tenha sido escrita por dois sociólogos. Nos últimos anos, passou a ser criticada por intelectuais de esquerda e de direita.
Muitos acham que não poderia sequer ser chamada de teoria - seria mais uma compilação de observações sobre o que acontecia na região na década de 60.
O próprio Fernando Henrique Cardoso já reviu sua teoria da dependência. Em artigo publicado pela Folha em 95, FHC escreveu que a globalização dos mercados criou uma "interdependência", que levou tanto as economias em desenvolvimento quanto as desenvolvidas a se tornarem dependentes.
Em 1996, o presidente, em entrevista à Folha, lembrou que enquanto ele e Faletto, no Chile, escreviam "Dependência e Desenvolvimento", na América Latina como um todo predominava o debate sobre a luta contra o imperialismo e o latifúndio.
"Para nós, no entanto, houvera uma transformação. O país, de fato, se industrializava. Antes você tinha um capitalismo internacional que não industrializava a periferia -porque não interessava-, mas agora ele a industrializa. O mercado interno passa a ser importante para as empresas estrangeiras que vêm para cá", disse o presidente.
Amanhã e terça-feira, a teoria da dependência será o tema central de um seminário em que a principal atração deverá ser Faletto.
Ele classifica como de centro-direita o governo do seu amigo Fernando Henrique Cardoso -a quem se refere simplesmente como Fernando.
O seminário é organizado pelo Instituto de Estudos Avançados da USP (Universidade de São Paulo), pelos departamentos de economia da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de São Paulo e da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e pelos departamentos de ciência política e sociologia da USP.
Participam, entre outros, Luiz Carlos Bresser Pereira, ministro da Administração e professor da FGV, os cientistas políticos Gabriel Cohn e Fernando Haddad e o economista Paul Singer. O encontro será no anfiteatro da Faculdade de Geografia da USP.



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