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SEMINÁRIO
Sociólogo chileno Enzo Faletto participará na USP de discussão sobre a teoria da dependência, que ajudou a formular
Intelectuais revêem obra teórica de FHC
CÉLIA DE GOUVÊA FRANCO
da Reportagem Local
Três décadas depois de ter sido
formulada, a principal contribuição intelectual do presidente Fernando Henrique Cardoso, que ficou conhecida como teoria da dependência, está sendo revista -e
criticada duramente.
Há 30 anos era publicado o livro
"Dependência e Desenvolvimento na América Latina", escrito por
FHC em conjunto com o sociólogo chileno Enzo Faletto.
A obra foi escrita no Chile, onde
os dois trabalhavam para a Cepal
(Comissão Econômica para a
América Latina e Caribe das Nações Unidas) e influenciou o pensamento de muitos sociólogos e
economistas latino-americanos.
Em resumo, os dois estudaram a
situação de dependência dos países mais pobres em relação aos
mais ricos, mas inovaram o pensamento dominante na Cepal recusando, por exemplo, a idéia de que
a dependência implicava necessariamente estagnação econômica.
Além disso, defenderam a proposta de se estudar o caso de cada
país individualmente e não como
parte de um bloco econômico.
Durante algum tempo, a teoria
foi considerada uma das principais contribuições latino-americanas ao pensamento econômico,
embora tenha sido escrita por dois
sociólogos. Nos últimos anos, passou a ser criticada por intelectuais
de esquerda e de direita.
Muitos acham que não poderia
sequer ser chamada de teoria -
seria mais uma compilação de observações sobre o que acontecia na
região na década de 60.
O próprio Fernando Henrique
Cardoso já reviu sua teoria da dependência. Em artigo publicado
pela Folha em 95, FHC escreveu
que a globalização dos mercados
criou uma "interdependência",
que levou tanto as economias em
desenvolvimento quanto as desenvolvidas a se tornarem dependentes.
Em 1996, o presidente, em entrevista à Folha, lembrou que enquanto ele e Faletto, no Chile, escreviam "Dependência e Desenvolvimento", na América Latina
como um todo predominava o debate sobre a luta contra o imperialismo e o latifúndio.
"Para nós, no entanto, houvera
uma transformação. O país, de fato, se industrializava. Antes você
tinha um capitalismo internacional que não industrializava a periferia -porque não interessava-,
mas agora ele a industrializa. O
mercado interno passa a ser importante para as empresas estrangeiras que vêm para cá", disse o
presidente.
Amanhã e terça-feira, a teoria da
dependência será o tema central
de um seminário em que a principal atração deverá ser Faletto.
Ele classifica como de centro-direita o governo do seu amigo Fernando Henrique Cardoso -a
quem se refere simplesmente como Fernando.
O seminário é organizado pelo
Instituto de Estudos Avançados da
USP (Universidade de São Paulo),
pelos departamentos de economia
da PUC (Pontifícia Universidade
Católica) de São Paulo e da FGV
(Fundação Getúlio Vargas) e pelos
departamentos de ciência política
e sociologia da USP.
Participam, entre outros, Luiz
Carlos Bresser Pereira, ministro
da Administração e professor da
FGV, os cientistas políticos Gabriel Cohn e Fernando Haddad e o
economista Paul Singer. O encontro será no anfiteatro da Faculdade
de Geografia da USP.
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