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HISTÓRIA
Pesquisadora reconstrói a resistência de 23 deputados à eleição indireta do general Ernesto Geisel, em 1974
Livro conta a luta dos 'Autênticos do MDB'
ANTONIO CARLOS SEIDL
da Reportagem Local
No dia 15 de janeiro de 1974, 23
deputados do MDB (Movimento
Democrático Brasileiro), a oposição no sistema bipartidário dos
anos do regime militar no país, denunciaram como uma farsa a sessão da Câmara para a eleição indireta, pelo Colégio Eleitoral, do general Ernesto Geisel para a Presidência da República.
Conhecidos como o Grupo Autêntico do MDB, esses deputados
divulgaram um documento na
ocasião, devolvendo o voto a
quem consideravam o grande ausente, o povo brasileiro, e expressando sua contrariedade em relação ao comportamento de Ulysses
Guimarães, que, descumprindo
acordo com o grupo, compareceu
à sessão na condição de candidato.
Agora, quase 25 anos depois, o
livro "Autênticos do MDB, Semeadores da Democracia" (editora Paz e Terra) chega às livrarias
para registrar, pela primeira vez,
os motivos que levaram esses 23
deputados (veja lista nesta página)
a fazer política de oposição no período mais duro do regime militar.
Para contar a história desse período da política brasileira, a autora do livro, Ana Beatriz Nader, 42,
componente do Neho (Núcleo de
Estudos de História Oral), da USP,
entrevistou 17 dos 23 integrantes
do Grupo Autêntico (cinco deles
já tinham morrido antes do início
da pesquisa, em dezembro de
1993, e um, Álvaro Lins, que morreu no ano passado, negou-se a
conceder entrevista).
O livro resultou de uma tese de
doutorado da autora na Universidade de Campinas, defendida,
com sucesso, em 1997.
Ana Beatriz usou a metodologia
da história oral, que é baseada na
narrativa individual, segundo a
versão de quem vivenciou diretamente o processo.
Ana Beatriz diz que o trabalho
surgiu do interesse dela de evitar
que o tempo enterrasse a história
de um grupo de oposição não intelectual, não insurrecional, não terrorista, mas de parlamentares, que
foi a "sementeira da resistência
democrática no país".
"A impossibilidade de estudar a
história do grupo utilizando apenas a documentação existente foi a
principal razão da escolha do método da história oral de vida."
O resultado são depoimentos sobre a contribuição do Grupo Autêntico para o restabelecimento da
democracia no país, mantendo viva a memória de um assunto sobre
o qual é praticamente inexistente
um acervo documental.
Nas entrevistas gravadas, os Autênticos falaram sobre sua infância
e adolescência, sobre os motivos
que os levaram a fazer política partidária e de oposição em um momento histórico tão adverso e sobre sua visão do mundo e da sociedade atuais.
O livro será lançado amanhã,
durante a 10º Conferência Internacional de História Oral, na Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro.
Em sua obra, Ana Beatriz mostra
que o Grupo Autêntico não possuía, de início, um projeto comum, um plano de oposição sistemática e nem era entidade orgânica. Apenas resguardava laços institucionais mínimos e obrigatórios
com o MDB.
O grupo era formado por políticos de diferentes correntes ideológicas, mas que se uniram em torno
de um objetivo comum: a volta ao
Estado democrático.
A proposta de levar o país para o
regime democrático, enfatiza a autora, passava pela convocação de
uma Assembléia Nacional Constituinte, idéia lançada desde o início
da existência do grupo, durante
seminário, em Recife, em 1971.
O Grupo Autêntico ganhou destaque internacional com a idéia de
uma anticandidatura na passagem
do governo do general Emílio Garrastazu Médici para o general Ernesto Geisel, em 1974. A função
dessa anticandidatura seria usar a
mídia e o espaço público para,
além de divulgar o ideal oposicionista, denunciar todos os atos arbitrários do regime militar.
Ulysses Guimarães foi lançado
"anticandidato", assumindo o
compromisso de renunciar no dia
da eleição, mas prosseguiu até o
fim, dando assim legitimidade à
eleição de Ernesto Geisel, em janeiro de 1974.
Ana Beatriz mostra em seu livro
que foi a partir daí e da eleição legislativa de 1974, revestida de caráter plebiscitário e vencida pelo
MDB, que a sociedade passou a se
organizar buscando a volta do Estado de Direito.
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