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Militante diz que objetivo dos
movimentos é chegar ao poder
da Reportagem Local
Filho de trabalhadores rurais pobres de São João da Serra (PI), Raimundo Bonfim, 10 irmãos, veio
para São Paulo, "em busca de melhores condições", em 1982.
Tinha 18 anos, experiência no
trabalho de roça, vivência de uma
seca (a de 79) e estudo que hoje
equivaleria à sétima série.
De 82 a 84, foi peão de construção civil. Em 85, trabalhou numa
lavanderia industrial e foi copeiro
de padaria -até entrar numa siderúrgica, onde foi operador de
máquina, até 88. Virou militante
da Pastoral de Moradia.
Casado pela segunda vez, com
uma ativista da CMP, tem duas filhas (12 e 6 anos) do primeiro casamento. Mora em residência própria (um apartamento da Cohab) e
tem um Gol 1986 e um telefone celular ("comprado em seis vezes"). Vive do que lhe paga a
CMP. Estuda o supletivo pelas manhãs. Leia trechos da entrevista.
(LMC)
Folha - O que pretende a CMP?
Raimundo Bonfim - Os movimentos populares são fragmentados. O papel principal da central é
juntar esses movimentos e trazê-los, além das lutas específicas,
para as lutas mais gerais, de mudanças profundas na sociedade.
Folha - Como se organiza a logística das grandes mobilizações?
Bonfim - Nós reunimos a direção nacional e tomamos a deliberação: "Ó, companheirada, a
prioridade número 1 é dia 20 em
Brasília". Aí entra o trabalho de
articulação nos Estados e municípios, que têm fóruns próprios.
Folha - Dê um exemplo.
Bonfim - O do dia 20 (de maio),
em Brasília. Minas levou 220 ônibus. Foi muito bom porque o conjunto de todas as entidades, que é o
Fórum Estadual, soube trabalhar
direito. O fundamental é o trabalho de quem está na base, as formiguinhas. Fazem bingos, saem arrecadando, mobilizam o pessoal.
Motivação é que não falta.
Folha - Como se dá a ligação com
o MST?
Bonfim - Já havia essa articulação antes de o MST atingir essa
projeção. Em 1990, nós fizemos
uma campanha chamada "Terra
pra Morar e Terra pra Plantar".
Folha - E hoje?
Bonfim - O contato depende da
conjuntura. Um deles foi no dia 25
de julho do ano passado. Eles estavam na marcha, ligaram para nós.
Sentamos, avaliamos e decidimos
fazer a marcha nas cidades.
Folha - Qual é o objetivo dessa
unidade?
Bonfim - Um deles é colocar a
reforma urbana na agenda nacional, com a mesma visibilidade que
tem a questão da reforma agrária.
Ocupar, no espaço urbano, o papel do MST na área rural.
Folha - Esse é o objetivo maior?
Bonfim - O objetivo maior é tomar o poder. Os trabalhadores assumirem o governo -e, a partir
disso, construir o poder de fato.
Folha - Como seria essa tomada
do poder, concretamente?
Bonfim - Além da luta pela moradia, pela saúde, pela educação,
nós vemos o seguinte: com esse
sistema que está aí, e com as pessoas que estão no governo, não é
possível resolver esses problemas.
Então, além de ir fazendo as pequenas conquistas, nós vamos levando o discurso de politização,
que é necessário você eleger representantes comprometidos com os
trabalhadores, eleger governadores, deputados, presidente e ir
conscientizando a massa.
Folha - A proposta, então, é pela
via parlamentar?
Bonfim - Parlamentar. Hoje
não tem como ser de outra forma.
Folha- Com que formas de luta?
Bonfim - A mobilização. E ela
vai crescer, independentemente
da nossa vontade, porque o desemprego e a miséria são muito
grandes. O governo tem sido um
completo fracasso nesse sentido. É
por isso que o movimento popular
cresce e é, queiram ou não, um
ator importante na sociedade. O
Fernando Henrique deveria dar
graças a Deus que a central e as outras entidades estejam organizando isso. Seria ruim pra democracia
se fosse espontâneo.
Folha - O que o governo Fernando Henrique pode esperar?
Bonfim - As manifestações vão
crescer. Vêm aí o 25 de julho e o 7
de setembro, onde nós estamos
juntinhos. O governo pode esperar
muita luta e muita mobilização.
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