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São Paulo, segunda-feira, 14 de julho de 2003

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CONFLITO AGRÁRIO

Sem-terra monta acampamento com mil moradores da zona urbana ao lado de fazenda do reverendo Moon

MST recruta diretor de escola e taxista em MS

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) montou um acampamento com pelo menos mil moradores da zona urbana de Miranda (194 km de Campo Grande, na entrada do Pantanal). O município possui 20,8 mil habitantes, pouco mais da metade deles está na cidade.
Ao lado de barracos feitos com lona preta, bambus e folha de palmeiras, ficam estacionados carros, camionetes, motos e caminhões de parte dos acampados.
Entre as pessoas que moram nos barracos, estão o professor Elcio Ojeda, 37, também diretor de uma escola estadual, e o taxista João Ferrari, 49, cujo táxi, um Monza cinza, pode ser visto ao lado de um barraco logo na entrada. Eles também têm casas na cidade, situada a 10 km do local.
Os moradores da cidade que viraram sem-terra contam também com a assistência de um advogado. O acampamento que começou com 35 pessoas no dia 7 de junho já possui, segundo estimava feita na semana passada pela Polícia Militar, 1.050 moradores. Na versão do MST, são 4.500.
Os barracos foram montados às margens da cerca da fazenda Rodeio, que pertence à Associação das Famílias para Unificação e Paz Mundial, instituição fundada no Brasil pelo reverendo coreano Sun Myung Moon, 83.
O líder do MST no acampamento, Jair Rodrigues, 31, afirmou que, em vez de invadir a fazenda, a estratégia do movimento é "pressionar" do lado de fora para desapropriação das terras com o aumento do número de acampados vindos da cidade.
Rodrigues disse que o MST chega a fazer por dia a inscrição de 30 pessoas interessadas em pertencer ao acampamento. A reportagem constatou na quinta-feira passada, apesar da chuva, o movimento de caminhões carregados com folhas de palmeira e lenha para formação de novos barracos.

Exigências
Não há nenhuma seleção de candidatos a sem-terra por parte do MST. Segundo Rodrigues, as pessoas se inscrevem e ganham direito de montar o barraco. Exige-se delas apenas que sigam as normas do acampamento, incluindo não usar drogas, armas ou ingerir bebidas alcoólicas.
O motorista Antônio Samuel, 31, que deixará o emprego na cidade no dia 17, disse ter sido o primeiro a acampar na frente da fazenda, com mais 34 pessoas.
Segundo ele, depois dessa iniciativa, o grupo resolveu chamar o MST para montar o acampamento, que ganhou centenas de adeptos em um mês.
O professor Ojeda (de geografia) afirma que está de férias na escola em que trabalha. Por ser servidor público, disse saber que não pode receber terra da reforma agrária. Segundo informou o professor, sua intenção é estudar a situação dos sem-terra para escrever uma dissertação de mestrado.

Taxista e sem-terra
Há oito anos como taxista em Miranda, Ferrari reclama da falta de clientes com a redução no número de turistas na cidade situada no Pantanal.
Apesar de possuir residência na cidade, Ferrari montou um barraco no acampamento. Ele pretende ganhar um pedaço de terra para cultivar alfaces, atividade que já desenvolve na zona urbana, e quer voltar "à roça que deixou no interior de São Paulo em 1988".
A vendedora de salgados Rosilda Cordeiro, 60, fez sua inscrição, na última quinta à tarde, para pertencer ao acampamento. A Agência Folha acompanhou a inscrição dela.
Cristiane Coutinho, advogada da associação do reverendo Moon, afirma que os acampados vêm entrando na fazenda para retirar madeira, apesar de uma decisão judicial que proíbe os sem-terra de invadirem a propriedade.
Cristiane afirma que o MST recruta comerciantes e até servidores para fazer parte do acampamento. Em Bonito (a 249 km de Campo Grande), o MST mantém invadida desde o dia 12 de maio a fazenda Aruanã, que também pertence ao reverendo.


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