São Paulo, quinta-feira, 14 de julho de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/INTELIGÊNCIA

Mauro Marcelo comparou parlamentares a "bestas-feras no picadeiro" em mensagem a servidores

Diretor da Abin cai após atacar integrantes da CPI

Lula Marques -3.dez.2004/Folha Imagem
O delegado Mauro Marcelo Lima e Silva, durante entrevista à Folha na Abin, em dezembro de 2004


EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O delegado Mauro Marcelo de Lima e Silva, 45, pediu demissão no início da noite de ontem da direção geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência). O motivo foi a divulgação de uma mensagem de sua autoria, na qual ataca e ironiza os integrantes da CPI dos Correios. Mauro Marcelo estava no cargo havia um ano.
Em mensagem a servidores da Abin, enviada no dia 6 de julho, Mauro Marcelo chamou os integrantes da CPI de "bestas-feras em pleno picadeiro", numa crítica à forma como a comissão colheu o depoimento de Edgard Lange, agente do órgão.
Ontem, por volta das 22h, Mauro Marcelo chegou ao Palácio do Planalto para formalmente tratar de seu pedido de demissão com o presidente interino, José Alencar, e com o ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) da Presidência, general Jorge Armando Félix.
Ontem à tarde, o diretor da Abin estava trabalhando em São Paulo, mas retornou a Brasília assim que soube da repercussão de sua mensagem no Congresso.
Às 23h, o Planalto divulgou nota na qual informa que Mauro Marcelo, "alegando razões pessoais", apresentou seu pedido de demissão, "o que foi aceito". José Milton Campana, até ontem diretor-geral-adjunto, assumirá o comando do órgão interinamente.

Sessão da CPI
Ontem, durante sessão da comissão mista dos Correios, o líder do PFL na Câmara, deputado Rodrigo Maia (RJ), apresentou aos demais parlamentares a mensagem interna da Abin na qual Mauro Marcelo atacou os integrantes da comissão.
"Neste exato momento, o que devo fazer é elogiar a conduta profissional de Lange, como um verdadeiro herói ao enfrentar as bestas-feras em pleno picadeiro", diz um dos trechos da mensagem.
No texto, ele ainda critica a atuação da AGU (Advocacia Geral da União). "Estou, pessoalmente, tentando entender a falta de empenho da AGU na proteção do nosso servidor. Isso poderia ter acontecido com qualquer um de nós."
Ontem, ao ser abordado por jornalistas no quarto andar do Planalto, Mauro Marcelo disse que não se arrepende do teor do informativo, mas afirmou que não teve a intenção de ofender deputados e senadores que integram a comissão.
"Já saí. Eu pedi pra sair. O presidente [Lula] não está aí, então pedi para sair", afirmou. Em rápida entrevista, o delegado voltou a atacar a forma como o agente da Abin foi exposto durante o depoimento à comissão. "É uma mensagem interna aos funcionários [da Abin]. E se vocês [jornalistas] procurarem no dicionário Houaiss, aí, bestas-feras é situação humilhante, e picadeiro é o palco onde ele foi exposto", justificou o delegado.
Afirmou, a seguir, que sua intenção era apontar uma "execração pública". "A mensagem não era [para] ofender os deputados nem o Congresso, mas [para] dizer que ele foi humilhado e [colocado em] execração pública."

Internet
Antes de assumir a Abin, em julho do ano passado, Mauro Marcelo ficou conhecido por sua atuação no combate a crimes cometidos pela internet na Polícia Civil paulista, onde foi o responsável pela criação do Setor de Crimes pela Internet.
Mauro Marcelo, ao formalizar seu pedido de demissão, apenas antecipou o que ocorreria em seguida em encontro com Alencar e o general Félix. O Planalto já havia definido sua saída do cargo, após pressão do Congresso, principalmente de Renan Calheiros (PMDB), presidente do Senado (leia texto na pág. A5). Da França, por telefone, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi informado da repercussão do caso e determinou a demissão.
A crise política pela qual passa o governo surgiu justamente pela atuação de ex-agentes da Abin, que gravaram imagens de um funcionário dos Correios no momento em que recebia propina.


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