São Paulo, terça-feira, 14 de julho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JANIO DE FREITAS

A empreitada das armas


Conhecidos os processos das empreiteiras já se sabe como o negócio escorchante de compra de submarinos foi conquistado

OS INDÍCIOS DE manobras do Ministério da Defesa para forçar determinada escolha dos novos caças da FAB estão acompanhados, agora, da revelação de que o ministro Nelson Jobim, na França, inicia a compra de quatro submarinos e um casco por preço dez vezes maior do que outra oferta, de submarinos mais qualificados. E cujo pacote, como negócio e tecnologia, é mais adequado à Marinha brasileira.
A revelação de José Meirelles Passos, repórter consagrado por muitos anos de excelente trabalho para o "Globo" nos Estados Unidos, inclui duas exigências da vendedora francesa mas tipicamente brasileiras: a construção de uma base naval para os submarinos superados, não reivindicada pela Marinha, e a entrega da obra à empreiteira Norberto Odebrecht. Já se sabe, portanto, quem induziu o negócio escorchante no Brasil e, conhecidos os processos das empreiteiras, como foi conquistado.
Também fica compreendida uma providência: a licitação pública foi relegada.
Os submarinos da classe francesa Skorpène foram comprados por apenas dois países: Chile e Malásia, que explicam as três únicas unidades dadas como ativas no mundo. Nem a própria França os utiliza. Em contrapartida, a Marinha brasileira, com quadros técnicos formados na Alemanha, já comprovou sua capacitação tecnológica na construção de quatro submarinos com projeto alemão (são os atuais Tamoio, Tapajó, Timbira e Tikuna), mais atualizados do que o Skorpène.
Assim como na FAB há reservas à compra do caça francês Rafale, na Marinha há reservas ao amplo negócio em torno dos também franceses Skorpène. Os negócios foram articulados por Nelson Jobim e Mangabeira Unger, que para isso chegaram a viajar juntos.

Nulo e vivo
A anulação dos 663 atos secretos identificados, determinada pelo senador José Sarney, vai demonstrar com clareza a complexidade da desordem dominante no Congresso por tantos anos. Desse conjunto de atos inválidos resultaram despesas a serem ressarcidas ao Tesouro Nacional, o que tende a produzir uma imensidade de ações judiciais. De cobrança, porque nem todos aceitarão ou poderão devolver o recebido. E de recusa imediata a pagamento, porque muitos prestaram serviço a ser remunerado e quase todos os beneficiados podem alegar, em sua defesa, que nem ao menos contribuíram para a não publicação do respectivo ato, decidida à sua revelia.
Essa é só uma parte das consequências. Outra, mas não a única outra, são os desvendamentos -de patronos, beneficiados, benefícios e motivos- possibilitados pelas anulações. E tome de escândalo.

Os enrolados
A passividade em que caiu o caso hondurenho faz uma dupla denúncia da diplomacia dos países americanos. Uma, pela passividade perplexa. Outra, pela evidência de que tardaram tanto para o acordo de exigência da democracia em todos os países, e esqueceram de pensar no que fazer em caso de golpe renitente, como o de Honduras. Os golpistas hondurenhos dizem é isso mesmo, e nenhum país sabe o que fazer ou sugerir para dar consequência ao acordo da democracia.
Caminham todos para medidas aparentes que deixem o tempo passar por seis meses, quando se preveem as eleições marcadas desde antes do golpe. É a democracia da enrolação.


Texto Anterior: Toda Mídia - Nelson de Sá: Nova era?
Próximo Texto: Yeda acusa Tarso de sabotar seu governo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.