São Paulo, sábado, 14 de agosto de 2004

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Ibsen é pivô de polêmica entre revistas

DA REPORTAGEM LOCAL

A revista "IstoÉ" traz na capa desta semana reportagem acusando a "Veja" de ter publicado, conscientemente, texto errado que colaborou para o processo de cassação do ex-presidente da Câmara dos Deputados Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), há 11 anos.
O mote da "IstoÉ" é um artigo escrito pelo jornalista Luís Costa Pinto ("Lula") admitindo ter publicado em 1993 reportagem em que afirmava que Ibsen Pinheiro tinha movimentado US$ 1 milhão em suas contas, mesmo sabendo que essa quantia não era verdadeira (seriam US$ 1.000).
Costa Pinto conta ter recebido o material denunciando a suposta movimentação financeira de Pinheiro de Waldomiro Diniz -ex-assessor da Casa Civil do atual governo, hoje acusado de negociar propina com empresário de jogo. Como havia pouco tempo para a finalização da revista, os dados só teriam sido checados durante a madrugada, quando as páginas já estavam na gráfica.
Descoberto o erro, Costa Pinto diz que recebeu uma ordem do jornalista Paulo Moreira Leite, então editor-executivo da "Veja", para obter uma declaração que sustentasse a história.
Costa Pinto diz ter telefonado para Benito Gama (PTB-BA), presidente da CPI da Máfia do Orçamento na época, que teria confirmado a movimentação de US$ 1 milhão por Ibsen.

Versão mentirosa
Indagados ontem sobre o caso, Moreira Leite e Benito Gama negam a versão de Costa Pinto. "Nunca pedi que ele inventasse nada. Quando percebi, orientado pelo pessoal da checagem, que os dados que davam sustentação à reportagem pareciam frágeis, pedi a ele que os confrontasse com sua fonte. Apenas perguntei se ele sustentava o que tinha escrito, e ele disse que sim. Entre a palavra de um checador e a garantia do jornalista, fiquei com o segundo", diz Moreira Leite, hoje diretor de Redação do "Diário de S.Paulo".
"Se houve erro, não foi fruto de má-fé. O valor de US$ 1 milhão que a revista diz que Ibsen movimentou estava atribuído explicitamente à CPI", diz Moreira Leite.
Para Benito Gama, "a história do artigo é delírio". "Nunca tive esse diálogo que Costa Pinto descreve. Não condiz com meu comportamento na CPI e no Congresso durante 16 anos", afirma.
Costa Pinto, que escreveu o artigo para um livro de memórias de Ibsen Pinheiro, afirma que se sente "bem em ter corrigido um erro do passado". "Cumpri um dever comigo, com os fatos. Erros médicos, em geral, são fatais. Erros de engenharia provocam tragédias. Erros jornalísticos produzem vítimas silenciosas, dores de alma. Devia ficar em silêncio?", pergunta Costa Pinto, que é hoje assessor especial de João Paulo Cunha (PT-SP), presidente da Câmara.
Candidato a vereador em Porto Alegre, Ibsen Pinheiro descartou a adoção de medidas judiciais. ""O que foi afetada foi a minha imagem. Não quero reparação material", disse Ibsen.
Na época da denúncia, o então presidente da Câmara, que havia tido atuação de destaque no processo de impeachment de Fernando Collor, um ano antes, era cotado como possível candidato à Presidência da República.
À "IstoÉ", Ibsen disse que após a denúncia perdeu dez quilos e teve que se esforçar para "não morrer". Procurada pela Folha, a direção da "Veja" não quis falar.


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