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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO" /CAMPANHA ELEITORAL
Suspeita é que dinheiro de campanhas em 1998 e 2000 tenha sido enviado às Ilhas Virgens
Polícia investiga contas mais antigas de Duda no exterior
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
VALDO CRUZ
DIRETOR EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Polícia Federal investiga a
existência de outras contas no exterior do publicitário Duda Mendonça além da admitida por ele
na CPI dos Correios -Dusseldorf Company Ltd. Segundo a Folha apurou, a PF trabalha com a
informação de que essas outras
contas teriam recebido dinheiro
de campanhas em 1998 e 2000.
Está sob investigação, neste primeiro momento, um conjunto de
operações financeiras no sistema
bancário americano atribuídas ao
publicitário e à sua sócia Zilmar
Fernandes Silveira.
Conforme a base de dados do
MTB Bank, eles movimentaram
cerca de US$ 2 milhões entre 1998
e 2000, sempre utilizando como
intermediária a offshore -empresa que não tem o nome dos sócios identificados- Ágata, com
sede nas Ilhas Virgens Britânicas.
Os registros do MTB, incorporados aos arquivos da CPI do Banestado, associam os nomes de
Duda e Zilmar a contas no BankBoston em uma agência nos EUA.
As contas são, em regra, a origem
ou o destino das operações que
têm os dois como remetentes ou
beneficiários.
Na última quinta-feira, ao enviar ao STF (Supremo Tribunal
Federal) os autos do inquérito no
qual é investigado o pagamento
de mesada a parlamentares da base aliada e a prática de caixa dois,
a PF pediu ao ministro Joaquim
Barbosa que autorize o aprofundamento das investigações acerca
da movimentação financeira de
Duda e Zilmar no exterior.
Para a realização das diligências,
que incluem novos depoimentos
-entre os quais os do deputado
José Janene (PP-PR) e o do ex-deputado Valdemar Costa Neto,
presidente do PL-, a PF pediu ao
STF que conceda um prazo de pelo menos mais 30 dias.
Origem
No que diz respeito a Duda e Zilmar, a PF quer esmiuçar a origem,
o montante que teriam movimentado em contas no BankBoston
nos Estados Unidos e o destino do
dinheiro que mandaram para a
offshore Ágata.
A Ágata, cujos gestores vivem
em São Paulo, movimentou mais
de US$ 1 bilhão por meio do MTB,
entre janeiro de 1997 e abril de
2003. O MTB é investigado por
suspeita de abrigar operações de
lavagem de dinheiro.
Em depoimento espontâneo na
CPI dos Correios e na Polícia Federal na última semana, Duda
Mendonça admitiu ter recebido
do PT, por meio do publicitário
mineiro Marcos Valério de Souza,
dinheiro de caixa dois referente à
campanha eleitoral de 2002, inclusive com depósitos feitos em
uma conta sua em um paraíso fiscal no exterior.
Segundo Duda, ele recebeu R$
15,5 milhões do PT em 2003 e não
emitiu nota fiscal a pedido do partido. Desse total, 11,9 milhões teriam vindo de Valério e R$ 3,6 milhões diretamente do então tesoureiro do partido, Delúbio Soares.
O pagamento foi feito com o depósito de R$ 10,5 milhões fora do
país e o saque de R$ 1,4 milhão em
espécie, de forma parcelada, no
Brasil.
Ao cobrar dívidas do PT em
2003, Zilmar teria sido orientada
por Delúbio a procurar Marcos
Valério. Ele teria pedido à sócia de
Duda para abrir uma conta bancária no exterior, onde seria depositada uma parcela de R$ 10,5 milhões. Marcos Valério nega que
tenha orientado e diz que Duda já
tinha a conta no exterior.
O publicitário procurou o
BankBoston e teria sido orientado
a abrir uma offshore nas Bahamas
com o nome de "Dusseldorf".
Nessa conta, Valério teria feito depósitos provenientes do BAC Florida Bank, Banco Rural Europa,
Israel Discount Bank de Nova
York e de uma empresa chamada
Trade Link.
Azeredo
Uma das suspeitas da PF é que
Duda não seria um iniciante na
prática de receber pagamento
com origem em caixa dois de
campanha. Uma das possibilidades, segundo dados colhidos na
investigação, é que a movimentação no exterior tenha também sido alimentada por um suposto
pagamento paralelo referente à
campanha de reeleição do tucano
Eduardo Azeredo para o governo
de Minas Gerais, em 1998.
O valor oficial dos serviços prestados pelo publicitário, conforme
a investigação, foi de R$ 700 mil.
Mas a conta real seria de R$ 4,5
milhões. A diferença dos valores,
de R$ 3,8 milhões, poderia ser
uma das fontes das operações intermediadas pela offshore Ágata.
Azeredo nega que soubesse de
qualquer irregularidade na contabilidade de sua campanha e diz
que o responsável era o tesoureiro
Cláudio Mourão.
Entre 1999 e 2000, Duda mandou 14 remessas de dinheiro para
a Ágata, todas elas saindo do
BankBoston. O movimento somou U$ 1,09 milhão.
As operações de Zilmar, num
total de 15, têm perfil variado. A
sócia de Duda tanto manda dinheiro para a Ágata como recebe
quantias da offshore. A primeira
remessa da sócia de Duda ocorre
em 28 de fevereiro de 1997 (US$
150 mil) -é a única naquele ano.
As demais começam em 1998 e se
estendem até 2000. Ao todo, ela
movimentou, por meio do MTB,
US$ 943.415.
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