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"MENSALÃO"/ CAMPANHA ELEITORAL
Partido deve, segundo o TSE, R$ 770 mil; de acordo com Duda Mendonça, valor da dívida da sigla com ele atinge R$ 11 milhões
Contas de 2002 do PT e de marqueteiro têm diferença de R$ 10 mi
RUBENS VALENTE
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um documento do PT que integra a prestação de contas entregue
ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com a assinatura do então
candidato Luiz Inácio Lula da Silva na campanha eleitoral de 2002
reconhece a existência de R$ 770
mil em dívidas que não foram
consideradas na prestação original de contas da campanha eleitoral do presidente.
A lista completa das dívidas na
prestação e a forma como seriam
pagas foram incluídas depois, a
pedido dos técnicos do TSE, numa declaração retificadora. Dessa
vez, o documento não foi assinado pelo presidente Lula.
Os débitos assumidos não incluem nenhum trabalho com o
marqueteiro Duda Mendonça.
Em depoimento à Polícia Federal,
Duda disse que o PT ficou lhe devendo R$ 11 milhões por conta de
um "pacote global" fechado em
2002, que incluiria a campanha
presidencial, de outros três candidatos e de serviços partidários. O
PT nega qualquer dívida com Duda e afirma que a campanha presidencial teria pago R$ 7 milhões
ao marqueteiro.
O documento em poder do TSE
é uma "nota explicativa" atribuída genericamente ao "Partido dos
Trabalhadores", mas sem a assinatura do responsável. Intitulada
"Repasse dívida da campanha
presidencial 2002", a nota traz a
relação dos débitos e, ao pé da página, a seguinte explicação: "Obs.:
As dívidas não constam da Prestação de Contas da Campanha
Presidencial 2002, mas foram realizadas durante o seu período".
A nota sem assinatura aparece
no processo logo após uma declaração de 25 de novembro de 2002
assinada pelo então presidente do
PT, o ex-ministro da Casa Civil
José Dirceu. Pelo documento,
Dirceu diz que o Diretório Nacional assumiria, na prestação de
contas do ano seguinte, 2003, todas as dívidas de Lula. Mas não relacionou que dívidas seriam nem
faz menção à "nota explicativa".
Os credores seriam quatro empresas de colagem de cartazes e
outdoor (R$ 670 mil) e uma empresa de táxi aéreo, a Líder (R$ 72
mil), além de gastos com água e
telefone. O caso mais flagrante de
omissão, na prestação de contas
de Lula, é o da agência Três Meios
Negócios Publicitários.
As contas da campanha de Lula
foram analisadas por técnicos do
Gespcc (Grupo de Estados de
Prestação de contas de Campo
Eleitoral) pela primeira vez em 1º
de dezembro de 2002.
O relatório preliminar apontou
pelo menos seis irregularidades
no processo. As principais falhas
foram o pagamento de despesas
sem a identificação completa de
cerca de 210 fornecedores e gastos
com aproximadamente 110 fornecedores efetuados após o término
do segundo turno da eleição.
Os técnicos analisaram a nota
explicativa que tratou das dívidas
"que não constam da prestação
de contas". "(...) Solicita-se que
seja comprovada a quitação desses débitos referente ao ano de
2002", observou a área técnica.
O PT respondeu ter sanado as
irregularidades e encaminhado
uma retificação assinada pelo ex-tesoureiro Delúbio Soares.
O advogado da campanha de
Lula, José Dias Toffoli, que depois
viria a ser assessor de Dirceu na
Casa Civil, disse em ofício que entregaria "as informações solicitadas, com o cronograma e anuência dos credores para quitação das
dívidas contraídas, esclarecendo
que as contas de consumo [água e
telefone] já foram quitadas pelo
Diretório Nacional do PT".
Em 4 de dezembro, após a correção das irregularidades, os técnicos pediram a "aprovação das
contas com ressalvas". Sobre as
dívidas, os analistas do TSE apontaram: "(...) Essa situação será verificada no processo de prestação
de contas anual da Direção Nacional do Partido dos Trabalhadores,
referentes aos exercícios financeiros de 2002 e 2003".
Em 5 de dezembro, o plenário
do TSE aprovou por unanimidade, com parecer do relator ministro Sepúlveda Pertence, a prestação das contas "com ressalvas".
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