|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ LULA NA MIRA
Crimes de responsabilidade incluem improbidade na administração; Collor foi afastado pela Câmara, mas renunciou em 1992
Impeachment constitui processo político
DA REDAÇÃO
O "impeachment" é o ato legal
pelo qual o Legislativo destitui o
ocupante de cargo governamental que pratica crime de responsabilidade. Ele é um processo político, e não criminal, cujo resultado
é a inabilitação temporária para o
exercício de funções públicas.
O presidente pode ser afastado
pela Câmara sob acusação de crime comum, mas neste caso ele é
julgado pelo Supremo Tribunal
Federal. Caso seja acusado por
crime de responsabilidade, é julgado pelo Senado. Crimes de responsabilidade são atos que atentam contra a Constituição. Eles
incluem, entre outros, atos contra
a probidade administrativa e o livre exercício do Legislativo.
Segundo Hélio Bicudo, o impeachment surgiu na Inglaterra
na Idade Média: a palavra provém
do verbo "to impeach", que significava acusar, culpar, contestar.
Ele constituía a forma de punição para aqueles que lesavam os
bens ou os interesses da comunidade, mas atingia sobretudo funcionários e ministros. Casos importantes de impeachment foram
os do duque de Suffolk, em 1450, e
do cardeal Wolsey, em 1529. O
impeachment mais famoso foi o
do filósofo e então chanceler
Francis Bacon (1561-1626), em
1621, acusado de aceitar suborno.
O mecanismo, porém, foi caindo
em desuso à medida que o rei perdia poderes para o Parlamento.
Com a independência dos Estados Unidos, o impeachment foi
incorporado à Constituição federal norte-americana de 1787. Mas
seu emprego efetivo sempre foi
muito restrito. Andrew Johnson
(vice de Abraham Lincoln), que
governou o país de 1865 e 1869, teve um processo aberto pela Câmara. Depois, 35 senadores votaram pelo impeachment e 19, contra. Mas como eram necessários
dois terços dos votos para afastá-lo, Johnson ficou no cargo.
Em 1974, Richard Nixon renunciou antes da abertura do processo em razão do escândalo Watergate: na campanha de 1972, homens ligados a Nixon foram presos por espionarem o Partido Democrata na eleição presidencial.
Mais recentemente, em dezembro de 1998, a Câmara aprovou a
abertura de processo de impeachment contra Bill Clinton, acusado
de prestar falso testemunho ao júri sobre suas relações com Monica
Lewinsky e por tentar obstruir a
Justiça. O Senado rejeitou sua
destituição em fevereiro de 1999.
Nos anos 90, os impeachments
tornaram-se um pouco mais freqüentes. Em 1993, na Venezuela,
o presidente Carlos Andrés Pérez
foi destituído. Em 1999, Raúl Cubas Grau, presidente do Paraguai,
também sofreu impeachment.
Rolandas Paksas, presidente da
Lituânia, e Alfred Maseng, de Vanuatu, foram afastados em 2004.
Roh Moo-hyun, presidente da
Coréia do Sul, também foi afastado em 2004, mas a Corte Constitucional anulou essa decisão.
Brasil
No Brasil, o impeachment foi
adotado pela Constituição de
1824 e regulamentado em 1827.
Tal como na legislação inglesa, ele
atingia ministros, secretários e
conselheiros de Estado. Como o
imperador podia perdoar o infrator, ele deixou de ser utilizado.
Com a Proclamação da República, em 1889, o impeachment
passou a atingir o chefe do Executivo, mas raramente ele foi empregado. Deodoro da Fonseca foi
deposto por uma revolta da Marinha em 1891 e Washington Luís
pela Revolução de 1930. Uma proposta de impeachment contra Getúlio Vargas foi derrotada na Câmara em 1954, mas ele suicidou-se quando os militares ameaçaram destituí-lo. João Goulart foi
deposto por um golpe em 1964.
Uma situação mais próxima do
impeachment ocorreu em 1955
após as eleições presidenciais que
resultaram na vitória de Juscelino
Kubitschek (PSD). A UDN liderava um movimento para tentar impedir sua posse, que contava com
a simpatia do então presidente
Café Filho e de seu substituto, o
presidente da Câmara, Carlos
Luz. Em 11 de novembro, o general Henrique Lott depôs Carlos
Luz, que fugiu. Com o presidente
ausente, o Congresso aprovou
uma moção declarando o Carlos
Luz impedido para o exercício do
cargo com base no art. 79, designando o vice-presidente do Senado, Nereu Ramos, para o seu lugar. A moção foi aprovada no dia
11 por 185 votos contra 72 na Câmara e 43 contra 8 no Senado.
Quando Café Filho tentou reassumir o cargo, em 21 de novembro, Lott convenceu o Congresso
a aprovar seu afastamento. Na
Câmara, a moção passou por 179
votos a 94 e no Senado por 35 votos contra 16. Nos dois casos, não
houve um impeachment propriamente dito, mas um golpe militar
depois revestido de base legal.
Só com Fernando Collor de Mello, em 29 de setembro de 1992, a
Câmara dos Deputados aprovou
a abertura do processo de impeachment por 441 votos contra
38. Em 29 de dezembro, quando o
Senado iniciou o julgamento, Collor renunciou para fugir da pena
de inelegibilidade por oito anos.
Apesar disso, foi condenado pelo
Senado. Seu afastamento foi um
exemplo do amadurecimento das
instituições democráticas após o
fim do regime militar (1964-1985).
Texto Anterior: Janio de Freitas: Criadores da crise Próximo Texto: Maioria vê Congresso sem condição para afastar Lula Índice
|