São Paulo, segunda-feira, 14 de agosto de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA

Seqüestro parece "atentado político", afirma Alckmin

Candidato do PSDB evita ligar crime ao PCC e reforça segurança na campanha

Após dispensar a proteção da Polícia Federal, direito garantido a presidenciáveis, tucano passa a receber escolta de dois agentes

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL

O candidato do PSDB a presidente, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, afirmou ontem que o seqüestro do jornalista Guilherme Portanova, da TV Globo, tem "características de atentado político", mas evitou relacionar o crime à facção criminosa PCC ou a qualquer partido político.
Temeroso quanto à possibilidade de um ataque contra sua campanha, o candidato requisitou, pela primeira vez, proteção da Polícia Federal e ontem participou de atividade eleitoral na zona leste da capital paulista sob a proteção de dois agentes.
No PSDB e no PFL, ganhou força no final de semana a corrente que defende atacar a suposta ligação do PCC com integrantes do PT no horário gratuito de rádio e TV, que terá início amanhã em todo o país.
Alckmin, contrário à estratégia, foi mais cauteloso. "Quero manifestar toda a minha solidariedade à família da vítima, à TV Globo, mas vamos aguardar. Tem todas as características de atentado político, mas nos cabe agora... Vou deixar para me pronunciar daqui a alguma horas", afirmou Alckmin, por volta das 12h30, ao deixar um culto religioso.
Em seguida, questionado sobre a afirmação, ele não quis responder. "Não vou fazer nenhum comentário enquanto essa questão não estiver resolvida. Qual o próximo tema?"
A expectativa do ex-governador, que deixou o cargo no final de março, era de que a polícia libertasse o jornalista ainda ontem. O tucano estava em contato permanente com o secretário da Segurança, Saulo de Castro Abreu Filho, um de seus aliados no governo.
Alckmin decidiu que não iria atribuir o crime ao PCC nem comentar as reivindicações da facção para não confrontar os seqüestradores, o que, no seu entender, poderia colocar em risco a vida do jornalista. Seu receio era de que um desfecho infeliz da operação pudesse ser atribuído a ele.
No início da madrugada de ontem, um suposto membro do PCC pedia, em vídeo divulgado pela TV Globo, mudanças no sistema prisional do Estado.
Anteontem, o tucano José Serra, candidato ao governo de São Paulo, declarou que o PCC faz oposição ao PSDB. "O crime organizado não gosta do PSDB. Esse é um dado da realidade, que aparece em todas as gravações e conversações que até hoje vieram a público", disse.
Serra era aguardado ontem pela manhã num evento da campanha de Alckmin, mas preferiu dedicar o dia à família e às reuniões com seu núcleo político. À noite, o ex-prefeito gravou programas do horário eleitoral de rádio e TV.

Clima de terror
Como de costume, Alckmin e seus assessores diretos chegaram ao templo evangélico da Comunidade da Graça, na Vila Carrão (zona leste), em um táxi. Logo atrás, no entanto, vinha a escolta de um carro azul, com dois agentes à paisana.
Durante o evento, um deles ficou no interior do templo, onde estavam cerca de 2.000 pessoas, e outro circulou pela parte de fora. O ajudante-de-ordens do ex-governador, um policial militar, usava coletes à prova de bala, medida adotada apenas em situações críticas. Alckmin, segundo a Folha apurou, dispensou o uso da proteção.
Conforme a lei, todos os candidatos a presidente têm direito à proteção da PF. Alckmin, no início da campanha, havia dispensado o auxílio. Mas, segundo tucanos ligados a ele, as ameaças do PCC contra Alckmin e sua família teriam aumentado nos últimos dias.


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