São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 2008

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Dantas diz que chefe da Abin encomendou operação da PF

Para banqueiro, Paulo Lacerda quis retaliá-lo por dossiê sobre contas no exterior

Em depoimento à CPI dos grampos, Dantas nega ter subornado delegado e diz que Protógenes lhe afirmou que investigaria filho de Lula


Alan Marques / Folha Imagem
O banqueiro Daniel Dantas depõe na CPI dos Grampos, após ter recebido uma liminar do STF que lhe garantia o direito de ficar calado e de ter acesso a seus documentos

HUDSON CORRÊA
MARIA CLARA CABRAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O empresário Daniel Dantas disse ontem na CPI dos Grampos ter recebido informação, em novembro de 2007, de que o diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Paulo Lacerda, encomendou uma operação da Polícia Federal contra ele. Em julho, a PF deflagrou a Operação Satiagraha que prendeu Dantas.
Dantas disse ainda que o delegado Protógenes Queiroz, responsável pela Operação Satiagraha, o informou que investigaria o filho do presidente Lula: "Ele me disse que iria em cima de mim. Tinha comentado que ainda viria alguma coisa para criar constrangimento, para evitar a compra da Brasil Telecom pela Telemar. Ele citou que iria investigar o filho do presidente Lula", disse Dantas.
Integrantes da CPI disseram ter entendido que o alvo da investigação seria Fábio Luís, filho mais velho de Lula, um dos acionistas da Gamecorp, que recebeu injeção de R$ 10 milhões da Telemar. Quando estava sob o controle de Dantas, a Brasil Telecom também tentou adquirir participação na Gamecorp. Assessorado por seis pessoas, Dantas não deixou de responder a nenhum questionamento da comissão e aproveitou para mandar recados. Um dos alvos seria Lacerda.
"Em novembro do ano passado, fui informado de que existia uma operação encomendada na Polícia Federal [...]. Diziam que isso tinha sido pedido pelo diretor da Abin. E que isso ocorria como uma retaliação ao fato de doutor Paulo Lacerda me atribuir a responsabilidade por ter entregado a uma revista ["Veja'] um relatório que constava contas do exterior que lhes foram atribuídas". E acrescentou: "As informações vieram nessa linha e, basicamente, eu me lembro do termo que dizia que ele [Paulo Lacerda] iria me colocar um par de algemas".
Dantas disse que "começou a ficar mais atento", quando saíram notas da imprensa de que ele seria preso. "Daí a Folha de S.Paulo publicou uma matéria de 26 de abril, coincidentemente no dia seguinte a assinatura do contrato da Brasil Telecom a Telemar. Era uma matéria muito completa. É difícil que a Folha de S.Paulo, um jornal desse porte, iria permitir a publicação com elemento totalmente especulativo. Aí eu fiquei preocupado". Disse suspeitar que "tinha sido uma operação articulada pelos mesmos participantes que trabalhavam para Telecom Itália para impedir o acordo da venda da Brasil Telecom para Telemar". Pelo acordo, Dantas deixou o quadro societário da Brasil Telecom, abrindo caminho para a venda da empresa à Telemar.
Dantas disse ter procurado pessoas próximas a Lacerda. "Eu estive com o senador Heráclito Fortes, que tinha estado com o doutor Paulo Lacerda. Ele falou que o Paulo Lacerda teria dito a ele que de fato tinha pedido a investigação, mas que nada tinha sido encontrado".
Dantas disse que não mandou o ex-presidente da BrT Humberto Braz subornar um delegado da PF. Sobre o ex-deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), Dantas disse: "O deputado Greenhalgh, uns seis meses ou mais, foi me apresentado pelo Guilherme Sodré [ligado a Dantas]. Ele me disse que poderia ser útil numa negociação com os fundos de pensão. Ele tinha uma relação boa com o Previ [do BB]. Ele fez uma negociação para tentar acabar com conflito societário entre nós e a Previ. Com a possível compra pela Previ de nossa participação na Brasil Telecom", disse.
Os fundos controlam a Brasil Telecom, do qual o grupo de Dantas era acionista até abril passado. Na sua ação, Greenhalgh "materializou algo".
No começo do depoimento, Dantas negou que tenha feito espionagem e disse acreditar que a Kroll foi contratada pela Brasil Telecom para investigar a Telecom Itália devido a uma briga societária. O banqueiro disse acreditar que setores do governo, comandados pelo ex-ministro Luiz Gushiken, criaram dificuldades para tirar dele o controle da Brasil Telecom.
Ele disse ter sofrido pressão do ex-presidente do BB Cássio Casseb e que participou de duas reuniões com o ex-ministro José Dirceu sobre o tema.
Na fase final do depoimento, o relator da CPI, Nelson Pellegrino (PT-BA), perguntou se Dantas conhecia a jornalista da Folha Andréa Michael, acusada pelo delegado Queiroz de ter dado informações privilegiadas ao empresário. "Ela nunca escreveu nada que fosse do nosso interesse. Acho uma leviandade absoluta levantar suspeita sobre essa jornalista". Michael foi a autora da reportagem sobre a investigação da PF que desembocou na Satiagraha.


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