São Paulo, quinta-feira, 14 de agosto de 2008

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Dentista recupera bens levados na Satiagraha

Bibancos prepara ação por danos morais contra PF

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Um mês e cinco dias depois de deflagrada a Operação Satiagraha, em que foi confundido com um doleiro, o dentista Fabio Bibancos, 45, conseguiu ontem, pela primeira vez, pôr para funcionar dois computadores e sete discos rígidos apreendidos por agentes da PF que buscavam provas de um suposto envolvimento dele em crimes contra o sistema financeiro.
A devolução dos equipamentos e da agenda pessoal de Bibancos foi autorizada pelo juiz federal substituto Márcio Rached Millani. "Observo que Fabio Bibancos não foi denunciado. Também não restou comprovada a participação do Instituto Bibancos de Odontologia, da Escola do Pensamento em Saúde e da ONG Turma do Bem [projetos sociais e culturais animados pelo dentista] nos ilícitos em apuração", escreveu o juiz no despacho datado de 1º de agosto.
A Operação Satiagraha, que, entre outros, prendeu o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, o investidor Naji Nahas e Daniel Dantas, atingiu Fabio Bibancos na manhã do dia 8 de julho.
Na ocasião, agentes da PF invadiram, metralhadoras em punho, o consultório, a ONG e a escola, que funcionam em prédios anexos, na Vila Mariana (zona sul de São Paulo). O dentista, ainda de pijama, insistia em dizer que no local não funcionava escritório de doleiro.
Apontava para os equipamentos odontológicos da clínica e jurava que não era a pessoa procurada -"Sou o Fabio Bibancos. Sou dentista. Não sou doleiro." Não adiantava.
Foi o juiz federal Fausto De Sanctis que autorizou a ação no consultório, depois que a PF informou-lhe terem sido "realizadas diversas vigilâncias" no local, que levaram aos seguintes apontamentos: "[Tem] diversas características relacionadas à segurança (altos muros, guarita com segurança, câmeras de vigilância) que, em tese, seriam incompatíveis com as atividades desenvolvidas por ONG, havendo, assim, suspeitas de que poderia ser utilizado como "fachada" para atividades ilegais de câmbio".
No dia seguinte à ação, Bibancos se defendeu: "Eu não teria muros altos ou câmeras de vigilância se vivêssemos em um país seguro". O dentista tem uma ação engatilhada contra a PF por danos morais. Também pedirá o ressarcimento dos gastos que teve com a recuperação de portas e janelas destruídas.
Luci Montejane, 44, coordenadora da Turma do Bem, que dá atendimento dentário gratuito a 6.000 crianças carentes do país, diz que "uma das piores conseqüências da operação foi o constrangimento de ter de explicar o surrealismo da situação". Segundo ela, cerca de 300 crianças, que seriam enviadas para dentistas voluntários, tiveram de adiar por ao menos um mês o início do tratamento.


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