São Paulo, sábado, 14 de setembro de 2002

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Petista critica adesão ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear e defende serviço militar obrigatório

Na escola de guerra, Lula muda discurso para agradar a militares

PLÍNIO FRAGA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Em dia dedicado a encontros com militares, o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, criticou a adesão do Brasil ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear e defendeu o serviço militar obrigatório, nesse último caso alterando sua posição a respeito do tema.
"Só teria sentido esse tratado se todos os países que já detêm [armas nucleares" abrissem mão das suas. Ora, por que um cidadão pede para eu me desarmar, para ficar com um estilingue, enquanto ele fica com um canhão para cima de mim? Qual a vantagem que levo? O Brasil só vai ser respeitado no mundo quando for forte econômica, tecnológica e militarmente", declarou o petista, em encontro com cerca de 160 oficiais da ativa e da reserva no Hotel Glória, na zona sul do Rio.
Questionado pela Folha se essa afirmação não destoava do estilo "Lulinha paz e amor" que o candidato apregoa para a própria campanha, o petista respondeu: "Sou de paz e amor. Quero uma sociedade mais justa. O Brasil deveria ter exigido que os países que detêm [armas nucleares] abrissem mão das suas. Por que só os países em desenvolvimento têm de ficar com um estilingue?".
Durante 20 anos, parte da diplomacia brasileira resistia a aderir ao acordo, que foi feito no atual governo e aprovado no Congresso, com o voto favorável dos parlamentares petistas.
Sobre o serviço militar, o petista negou que tenha mudado de posição, apesar de em entrevista à Folha publicada em 29 de junho, ter dito ser contra a obrigatoriedade. "Se tivéssemos uma renda per capita de US$ 20 mil, poderíamos ter Forças Armadas profissionalizadas. Mas não é o caso. O serviço militar é em muitas vezes o primeiro passo do cidadão de contato com a cidadania", disse.
Foi a primeira reunião de Lula com militares desde 1987, quando era deputado e foi convidado a falar na Escola Superior de Guerra, que organizou o debate de ontem.
Seis ex-ministros do regime militar participaram do encontro: Aureliano Chaves (Minas e Energia e vice-presidente de 1979 a 1985), Alfredo Karam (Marinha), Carlos Tinoco (Exército), Leônidas Pires Gonçalves (Exército), Ivan Mendes (Serviço Nacional de Informações) e Gibson Barbosa (Relações Exteriores).
Lula falou o que os militares queriam ouvir. Defendeu a revisão do orçamento das Forças Armadas já para 2003, criticou o acordo com os EUA sobre Alcântara, disse apoiar o Sistema de Vigilância da Amazônia, o programa da Marinha de construção do submarino brasileiro com propulsão nuclear e se declarou favorável a mais verbas para o projeto do Veículo Lançador de Satélites (VLS) da Aeronáutica, estes dois últimos projetos com restrições orçamentárias na gestão de Fernando Henrique Cardoso.
Em troca, Lula recebeu elogios e ouviu de Aureliano Chaves, em conversa reservada, que é dono de seu voto, mas que para apoio público os dois têm que negociar. "Disse exatamente o que eu esperava. Foi claro nas propostas", disse Leônidas Pires Gonçalves.



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