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Petista critica adesão ao Tratado de Não-Proliferação Nuclear e defende serviço militar obrigatório
Na escola de guerra, Lula muda discurso para agradar a militares
PLÍNIO FRAGA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Em dia dedicado a encontros
com militares, o candidato do PT
à Presidência, Luiz Inácio Lula da
Silva, criticou a adesão do Brasil
ao Tratado de Não-Proliferação
Nuclear e defendeu o serviço militar obrigatório, nesse último caso
alterando sua posição a respeito
do tema.
"Só teria sentido esse tratado se
todos os países que já detêm [armas nucleares" abrissem mão das
suas. Ora, por que um cidadão pede para eu me desarmar, para ficar com um estilingue, enquanto
ele fica com um canhão para cima
de mim? Qual a vantagem que levo? O Brasil só vai ser respeitado
no mundo quando for forte econômica, tecnológica e militarmente", declarou o petista, em encontro com cerca de 160 oficiais
da ativa e da reserva no Hotel Glória, na zona sul do Rio.
Questionado pela Folha se essa
afirmação não destoava do estilo
"Lulinha paz e amor" que o candidato apregoa para a própria
campanha, o petista respondeu:
"Sou de paz e amor. Quero uma
sociedade mais justa. O Brasil deveria ter exigido que os países que
detêm [armas nucleares] abrissem mão das suas. Por que só os
países em desenvolvimento têm
de ficar com um estilingue?".
Durante 20 anos, parte da diplomacia brasileira resistia a aderir
ao acordo, que foi feito no atual
governo e aprovado no Congresso, com o voto favorável dos parlamentares petistas.
Sobre o serviço militar, o petista
negou que tenha mudado de posição, apesar de em entrevista à Folha publicada em 29 de junho, ter
dito ser contra a obrigatoriedade.
"Se tivéssemos uma renda per capita de US$ 20 mil, poderíamos
ter Forças Armadas profissionalizadas. Mas não é o caso. O serviço
militar é em muitas vezes o primeiro passo do cidadão de contato com a cidadania", disse.
Foi a primeira reunião de Lula
com militares desde 1987, quando
era deputado e foi convidado a falar na Escola Superior de Guerra,
que organizou o debate de ontem.
Seis ex-ministros do regime militar participaram do encontro:
Aureliano Chaves (Minas e Energia e vice-presidente de 1979 a
1985), Alfredo Karam (Marinha),
Carlos Tinoco (Exército), Leônidas Pires Gonçalves (Exército),
Ivan Mendes (Serviço Nacional
de Informações) e Gibson Barbosa (Relações Exteriores).
Lula falou o que os militares
queriam ouvir. Defendeu a revisão do orçamento das Forças Armadas já para 2003, criticou o
acordo com os EUA sobre Alcântara, disse apoiar o Sistema de Vigilância da Amazônia, o programa da Marinha de construção do
submarino brasileiro com propulsão nuclear e se declarou favorável a mais verbas para o projeto
do Veículo Lançador de Satélites
(VLS) da Aeronáutica, estes dois
últimos projetos com restrições
orçamentárias na gestão de Fernando Henrique Cardoso.
Em troca, Lula recebeu elogios e
ouviu de Aureliano Chaves, em
conversa reservada, que é dono
de seu voto, mas que para apoio
público os dois têm que negociar.
"Disse exatamente o que eu esperava. Foi claro nas propostas",
disse Leônidas Pires Gonçalves.
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