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Foi um choque ver o nome dela na lista, afirma mãe
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTANA DO ACARAÚ (CE)
Das 33 acusações que envolvem
o prefeito de Santana do Acaraú
(CE), José Aldenir Farias (PSDB),
está a inclusão de estudantes "fantasmas" na relação de alunos do
ensino fundamental para inflacionar a quantia remetida pelo governo federal referente ao Fundef.
Entre os 8.407 alunos matriculados no ensino fundamental de
Santana do Acaraú no início deste
ano, estava o nome de Maria de
Fátima Braz. Até julho, ela constava na turma da primeira série do
ensino fundamental do grupo escolar Francisco Ferreira Braz, na
comunidade Bom Jardim, na sala
da professora Rejane Célis Sabino. O problema é que a aluna matriculada nunca aparecia. Até que
se descobriu que ela estava morta.
Maria de Fátima morreu em
1993, aos 9 anos de idade, de
pneumonia. Ela frequentava a segunda série de uma escola vizinha. Como lembrança da morte
da filha, Maria do Carmo Braz, 42,
mãe de outros nove filhos, guarda
uma foto da menina já morta no
velório, vestida de branco. A família mora em frente à escola onde a filha havia sido matriculada
este ano. "Foi um choque quando
eu soube que o nome dela estava
na lista de presença. Foi uma segunda dor", conta a mãe, que é
merendeira da mesma escola.
Sem saber que a menina estava
morta, a professora continuava
fazendo a chamada e dizendo o
nome dela. Foi apenas ao escutar
o nome da filha na lista de chamada que a merendeira avisou Rejane sobre a morte da menina.
Além dela, outros cinco alunos
fantasmas faziam parte da mesma
turma da professora Rejane. Ela
só descobriu que eles jamais frequentariam sua aula quando percebeu que muitos já eram adultos
e já tinham deixado a escola.
Um deles era Expedito Ferreira
Braz, 30. Ele nem mesmo sabia
que estava matriculado. "Foi um
susto." Depois de saber que era
aluno fantasma, Expedito decidiu
voltar a estudar, na quarta série
do curso para adultos.
O motorista Francisco Walter
Carneiro, que fez denúncias sobre
desvio de dinheiro do ICMS, diz já
ter sofrido represálias. Ele é contratado pela prefeitura, mas foi
dispensado do serviço e teve seu
salário cortado pela metade. A
mulher de Carneiro, Maria do Socorro Vasconcelos, que trabalhava há três anos como professora
do município, foi demitida.
"A última vez que eu levei uma
sacola de dinheiro para o secretário de Obras foi na sexta-feira de
Carnaval", disse o motorista.
O motorista denunciou que depositava cheques da prefeitura referentes a recursos do ICMS na
conta de uma empreiteira e que,
logo em seguida, recebia o mesmo valor, em dinheiro, do dono
da empresa, que não realizava as
obras referentes ao pagamento,
apenas fornecia a nota fiscal.
Ele acusa também a prefeitura
de superfaturar o gasto com abastecimento de veículos. Carneiro
tem documento que comprova a
quantidade de litros utilizada pelo
motorista num mês, 770 litros,
pagos pela prefeitura. Essa quantidade o obrigaria a rodar, pelo
menos, 350 km por dia com seu
Uno. Carneiro afirma que usou,
no máximo, 200 litros no mês.
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