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São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2003

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Foi um choque ver o nome dela na lista, afirma mãe

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTANA DO ACARAÚ (CE)

Das 33 acusações que envolvem o prefeito de Santana do Acaraú (CE), José Aldenir Farias (PSDB), está a inclusão de estudantes "fantasmas" na relação de alunos do ensino fundamental para inflacionar a quantia remetida pelo governo federal referente ao Fundef.
Entre os 8.407 alunos matriculados no ensino fundamental de Santana do Acaraú no início deste ano, estava o nome de Maria de Fátima Braz. Até julho, ela constava na turma da primeira série do ensino fundamental do grupo escolar Francisco Ferreira Braz, na comunidade Bom Jardim, na sala da professora Rejane Célis Sabino. O problema é que a aluna matriculada nunca aparecia. Até que se descobriu que ela estava morta.
Maria de Fátima morreu em 1993, aos 9 anos de idade, de pneumonia. Ela frequentava a segunda série de uma escola vizinha. Como lembrança da morte da filha, Maria do Carmo Braz, 42, mãe de outros nove filhos, guarda uma foto da menina já morta no velório, vestida de branco. A família mora em frente à escola onde a filha havia sido matriculada este ano. "Foi um choque quando eu soube que o nome dela estava na lista de presença. Foi uma segunda dor", conta a mãe, que é merendeira da mesma escola.
Sem saber que a menina estava morta, a professora continuava fazendo a chamada e dizendo o nome dela. Foi apenas ao escutar o nome da filha na lista de chamada que a merendeira avisou Rejane sobre a morte da menina.
Além dela, outros cinco alunos fantasmas faziam parte da mesma turma da professora Rejane. Ela só descobriu que eles jamais frequentariam sua aula quando percebeu que muitos já eram adultos e já tinham deixado a escola.
Um deles era Expedito Ferreira Braz, 30. Ele nem mesmo sabia que estava matriculado. "Foi um susto." Depois de saber que era aluno fantasma, Expedito decidiu voltar a estudar, na quarta série do curso para adultos.
O motorista Francisco Walter Carneiro, que fez denúncias sobre desvio de dinheiro do ICMS, diz já ter sofrido represálias. Ele é contratado pela prefeitura, mas foi dispensado do serviço e teve seu salário cortado pela metade. A mulher de Carneiro, Maria do Socorro Vasconcelos, que trabalhava há três anos como professora do município, foi demitida.
"A última vez que eu levei uma sacola de dinheiro para o secretário de Obras foi na sexta-feira de Carnaval", disse o motorista.
O motorista denunciou que depositava cheques da prefeitura referentes a recursos do ICMS na conta de uma empreiteira e que, logo em seguida, recebia o mesmo valor, em dinheiro, do dono da empresa, que não realizava as obras referentes ao pagamento, apenas fornecia a nota fiscal.
Ele acusa também a prefeitura de superfaturar o gasto com abastecimento de veículos. Carneiro tem documento que comprova a quantidade de litros utilizada pelo motorista num mês, 770 litros, pagos pela prefeitura. Essa quantidade o obrigaria a rodar, pelo menos, 350 km por dia com seu Uno. Carneiro afirma que usou, no máximo, 200 litros no mês.



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