São Paulo, sábado, 14 de outubro de 2000

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SERPRO
Ministério não investigou relações da família Otero com outras empresas
Ministério só apurou fatos já relatados pela imprensa

SOLANO NASCIMENTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As relações entre Rosane Rodrigues Batista, mulher do presidente afastado do Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados), Sérgio de Otero Ribeiro, e fornecedores do órgão vão bem além do que foi apurado pela comissão criada pelo Ministério da Fazenda para investigar o caso.
A comissão se limitou a averiguar contratos de um cliente de Rosane, a Prolan. Antes de trabalhar para a Prolan, Rosane trabalhou para o grupo da Policentro, outro fornecedor do Serpro.
A comissão investigou apenas fatos que já haviam sido divulgados pela imprensa, confirmando a maioria deles. As relações de Rosane com a Policentro e a Padrão iX estavam inéditas.
Em meio a investigações sobre Eduardo Jorge Caldas Pereira, ex-secretário-geral da Presidência, de quem é amigo e apadrinhado político, Otero teve seu nome envolvido em denúncias de enriquecimento ilícito e de recebimento de favores de fornecedores.
No dia 18 de agosto, ele foi afastado da presidência do Serpro até que uma comissão composta por três funcionários da Fazenda investigasse sua gestão. Anteontem, o relatório da comissão se tornou público. O ministro Pedro Malan não pretende reconduzir Otero ao cargo, mas ainda não o exonerou.
A comissão confirmou que a Prolan assinou desde 95, quando Otero já ocupava a presidência do Serpro, dez contratos com o órgão, sendo nove sem licitação.
A comissão concluiu que, na prática, Otero atua como sócio de sua mulher na empresa RRB Serviços de Informática, que trabalha para a Prolan. A RRB usa uma sala de Otero, e ele usa um avião comprado em nome da empresa. A comissão concluiu que houve "dependência conflitante com o interesse público" em um contrato do Serpro com a Prolan, que segundo o relatório deve ser revisto.
A RRB foi criada por Rosane Batista em julho de 98 com uma alteração contratual nos registros da empresa MPB Arte e Promoções, que pertencia a uma filha de Otero. Cerca de quatro meses antes de criar a RRB, Rosane começou a trabalhar para a Prolan.
A outra atividade que liga a mulher de Otero a fornecedores se iniciou no começo de 97 e se estendeu até o primeiro semestre de 98. Antes ainda de montar a RRB, ela passou a trabalhar para a Padrão iX, empresa que pertence à Policentro. As duas empresas atuam no ramo de informática, têm dirigentes comuns, e Rosane trabalhou como representante da Padrão iX, fazendo o mesmo tipo de serviço que faz para a Prolan.
Uma planilha preparada pela Superintendência de Gestão Logística do Serpro mostra que de 1996 a 2000 as duas empresas assinaram dez contratos com o Serpro, totalizando R$ 28,7 milhões. Dos dez contratos, nove foram assinados pela Policentro. A Padrão iX só assinou um contrato. Seis contratos não tiveram licitação.
As relações entre o Serpro e a empresa MI Montreal Informática não foram investigadas com profundidade pela comissão. O relatório não menciona o fato de funcionários do Serpro terem criado, antes de se desligarem do órgão, a empresa TCPJ, contratada pela Montreal para se encarregar do desenvolvimento dos programas do Renavam e do Renach.


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