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Marcelo Coelho
Privatista?
NÃO DÁ PARA esperar
racionalidade e
clareza argumentativa num programa eleitoral, mas a propaganda
de Lula neste segundo turno pelo menos apresenta,
em meio às marchinhas e
aos acenos de sempre, alguns números concretos,
algumas comparações entre seu governo e o de Fernando Henrique.
É pouco, e vem cercado
de lorotas: a mais espantosa é a de que foi Lula quem
acabou com a inflação.
Acontece que os marqueteiros do PT acabam
parecendo luminares de
Princeton perto do que diz
a propaganda de Alckmin.
É vexaminoso, para quem
se apresenta como a opção
mais racional e técnica, o
vazio de idéias e argumentos do candidato tucano,
em sua primeira aparição
no horário eleitoral.
Os locutores anunciam,
em triunfo, que no debate
da Bandeirantes "Geraldo
apresentou as melhores
propostas". Saúde? Vamos
melhorar a saúde do povo.
Emprego? Nosso compromisso será com a geração
de empregos. Segurança
pública? Seremos firmes
nessa questão.
De concreto, apenas a
idéia, que não poderia ser
mais demagógica, de vender o Aerolula para construir hospitais.
Embora Alckmin tenha
finalmente partido para o
ataque ao desregramento
ético do PT, no debate da
Bandeirantes, a sensação
de fraqueza programática
na candidatura tucana
acentua-se a cada dia.
Quando os petistas fazem críticas ao governo
FHC, Alckmin tem uma
resposta pronta: "eles estão com os faróis voltados
para trás, temos de olhar
para a frente, para o futuro". Não é um argumento
válido: nada mais natural
do que examinar o que a
coalizão PSDB-PFL fez de
concreto no passado, para
avaliar a consistência de
suas promessas atuais.
Nenhum dos candidatos
pode, entretanto, questionar a fundo o adversário.
Quando diz que o importante é criar empregos,
Alckmin provavelmente
quer sugerir que o Bolsa
Família é uma solução paliativa e insuficiente. Mas
não será louco, a essa altura, de criticar o programa.
Quando colam em Alckmin o rótulo de "privatista", operação ideológica
que aliás alcança êxito, os
petistas evitam o termo
que realmente queriam
utilizar: "neoliberal". Mas
como chamar o adversário
de neoliberal quando eles
próprios seguem a mais
estrita ortodoxia monetária? Como reclamar do
seu conservadorismo religioso, se se aliam à Igreja
Universal?
O PT também poderia
levantar a questão dos direitos humanos. Matanças
de bandidos não são exatamente um fenômeno
em que o governo Alckmin possa se orgulhar de
ter mãos limpas. Só que falar em direitos humanos,
hoje, é suicídio eleitoral.
Mais fácil centrar fogo,
então, no "privatismo" de
Alckmin. Bem, ele só promete privatizar o Aerolula. Fotos da aeronave nababesca circulam na internet. Merecíamos coisa
melhor. Só falta ser esse o
grande tema das eleições
presidenciais.
MARCELO COELHO é colunista da Folha
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