São Paulo, sábado, 14 de outubro de 2006

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Marcelo Coelho

Privatista?

NÃO DÁ PARA esperar racionalidade e clareza argumentativa num programa eleitoral, mas a propaganda de Lula neste segundo turno pelo menos apresenta, em meio às marchinhas e aos acenos de sempre, alguns números concretos, algumas comparações entre seu governo e o de Fernando Henrique.
É pouco, e vem cercado de lorotas: a mais espantosa é a de que foi Lula quem acabou com a inflação. Acontece que os marqueteiros do PT acabam parecendo luminares de Princeton perto do que diz a propaganda de Alckmin.
É vexaminoso, para quem se apresenta como a opção mais racional e técnica, o vazio de idéias e argumentos do candidato tucano, em sua primeira aparição no horário eleitoral.
Os locutores anunciam, em triunfo, que no debate da Bandeirantes "Geraldo apresentou as melhores propostas". Saúde? Vamos melhorar a saúde do povo.
Emprego? Nosso compromisso será com a geração de empregos. Segurança pública? Seremos firmes nessa questão.
De concreto, apenas a idéia, que não poderia ser mais demagógica, de vender o Aerolula para construir hospitais. Embora Alckmin tenha finalmente partido para o ataque ao desregramento ético do PT, no debate da Bandeirantes, a sensação de fraqueza programática na candidatura tucana acentua-se a cada dia.
Quando os petistas fazem críticas ao governo FHC, Alckmin tem uma resposta pronta: "eles estão com os faróis voltados para trás, temos de olhar para a frente, para o futuro". Não é um argumento válido: nada mais natural do que examinar o que a coalizão PSDB-PFL fez de concreto no passado, para avaliar a consistência de suas promessas atuais.
Nenhum dos candidatos pode, entretanto, questionar a fundo o adversário. Quando diz que o importante é criar empregos, Alckmin provavelmente quer sugerir que o Bolsa Família é uma solução paliativa e insuficiente. Mas não será louco, a essa altura, de criticar o programa.
Quando colam em Alckmin o rótulo de "privatista", operação ideológica que aliás alcança êxito, os petistas evitam o termo que realmente queriam utilizar: "neoliberal". Mas como chamar o adversário de neoliberal quando eles próprios seguem a mais estrita ortodoxia monetária? Como reclamar do seu conservadorismo religioso, se se aliam à Igreja Universal?
O PT também poderia levantar a questão dos direitos humanos. Matanças de bandidos não são exatamente um fenômeno em que o governo Alckmin possa se orgulhar de ter mãos limpas. Só que falar em direitos humanos, hoje, é suicídio eleitoral.
Mais fácil centrar fogo, então, no "privatismo" de Alckmin. Bem, ele só promete privatizar o Aerolula. Fotos da aeronave nababesca circulam na internet. Merecíamos coisa melhor. Só falta ser esse o grande tema das eleições presidenciais.


MARCELO COELHO é colunista da Folha

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