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Lula admite disputar novo mandato, mas só em 2014
Petista afirma que apoiaria Aécio se ele entrasse no PMDB
Presidente propõe mandato de 5 ou 6 anos, sem reeleição
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz que poderá disputar um terceiro mandato em 2014 ou 2015: "A
conjuntura do momento vai indicar". Em entrevista à
Folha, ele afirmou apoiar a emenda que acaba com a
reeleição, desde que o mandato seja estendido para
cinco ou seis anos. Quer uma candidatura única à
Presidência dos partidos aliados -"se tiver quatro
candidatos no campo do governo, o governo vai ficar
imobilizado"- e admitiu apoiar o governador Aécio
Neves (PSDB-MG): "Se entrasse no PMDB e fosse
candidato da base, não teria problema nenhum. Mas
precisaria saber se a base quer".
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva concede entrevista à Folha na quarta, que foi acompanhada pelo ministro Franklin Martins
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em conversa de uma hora e
meia na manhã de quarta-feira
no Palácio do Planalto, Lula rejeitou tentar a re-reeleição em
2010. "Não existe hipótese para
o bem do Brasil, para o bem da
democracia e para o meu bem".
Bem-humorado, Lula (que
completará 62 anos no dia 27)
contou que aceitara convite da
Aeronáutica para voar num caça a 45 mil pés (13,7 km) de altitude: "Vai dar para ver a curvatura do globo terrestre". Pediu
café e fez introdução de cinco
minutos sobre as realizações do
governo: "Hoje, sou um homem
convencido de que o Brasil se
encontrou enquanto nação".
FOLHA - No primeiro mandato,
FHC disse: "Governar é fácil". Ulysses Guimarães falou que o poder era
"afrodisíaco". O que pensa?
LULA - Governar não é fácil.
Tomar decisões nem sempre é
fácil. Muitas vezes há choque
do interesse do Estado com interesse de uma parte da sociedade, divergências entre dois
ministros, pressão de interesses econômicos. Muito difícil
governar. Para governar bem, é
preciso determinação de fazer
as coisas acontecerem.
FOLHA - O poder é afrodisíaco?
LULA - Não pelo lado sexual,
mas pela adrenalina que toma
conta de você. Você não vai
mais a um restaurante, a uma
festa: você vive por conta disso
[poder] e isso te motiva. Às vezes, ligo para os ministros de
noite cobrando coisa. Isso toma
conta da gente, dá energia. Tinha muitas dúvidas sobre o segundo mandato: sempre achei
que no segundo mandato você
começaria a entrar na mesmice
e iria cansando. Encontrei com
o Fernando Henrique no velório do Frias [Octavio Frias de
Oliveira, publisher da Folha,
morto em abril] e eu estava comentando com ele o segundo
mandato. E ele dizia: "Você vai
ver depois do segundo ano,
quando as pessoas já estão pensando no sucessor". Adquiri
consciência de que quero chegar ao final do mandato com os
políticos querendo que eu suba
em palanque. Não tem nada
pior do que chegar ao final sendo recusado pelos seus aliados.
Imagina um presidente que
não pode ir a um comício porque ninguém quer que ele vá lá.
FOLHA - Se o sr. chegar ao final do
mandato com imagem forte não
despertará uma onda queremista, o
Lula 2010? Muita gente acha que o
sr. vai tentar a re-reeleição.
LULA - Porque no Brasil tem
muita gente que não quer levar
a política a sério. A alternância
do poder é educadora para a
construção da democracia. Não
existe ninguém insubstituível.
FOLHA - Está vacinado contra a
tentação?
LULA - Não existe hipótese para o bem do Brasil, para o bem
da democracia e para o meu
bem.
FOLHA - Descarta ser candidato a
presidente em 2014 ou 2015 [quando terá quase 70 anos]?
LULA - Não. Em política, seria
infantil da minha parte dizer
que vou decidir o meu destino
em 2014, 2015. Tenho uma filosofia que aprendi com a minha
mãe: "Rei posto, rei morto".
Lembro que Juscelino Kubitschek imaginava voltar depois e
não voltou. Não posso trabalhar em momento nenhum
com essa hipótese na minha cabeça porque será o meu fracasso. Essa coisa, se tiver de acontecer, a conjuntura do momento vai indicar. Até porque quero
dar um exemplo de ex-presidente: quero deixar a Presidência e não vou virar palpiteiro.
FOLHA - Apóia a emenda que acaba com a reeleição?
LULA - Um mandato de quatro
anos é muito pouco. O presidente toma posse em 1º de janeiro. No primeiro ano não faz
nada porque o Orçamento já
está comprometido. No segundo, quando começa a fazer, tem
eleições municipais: seis meses
antes da eleição não pode fazer
convênio com nenhuma prefeitura. Então, já tem um ano e
meio morto. Depois tem outro
ano para governar e, no ano seguinte, tem eleição. Um mandato de quatro anos no Brasil é
quase inadministrável. Vamos
acabar com a reeleição e aumentar o mandato.
FOLHA - Apóia a emenda?
LULA - Apóio, apóio. Se não aumentar o mandato, é melhor ficar a reeleição. Sei que para a
oposição é ruim, porque ela
sempre acha um mandato mais
longo difícil, uma reeleição difícil, mas é importante que um
presidente tenha a possibilidade de concluir um projeto.
FOLHA - Por que o sr. fala em candidatura única em 2010? Não seria
melhor lançar vários candidatos e
apoiar o que chegasse ao 2º turno?
LULA - Tenho uma base de
apoio com vários partidos. Todo o meu esforço será para uma
candidatura única. É um sonho. Vai se concretizar? Não
sei. Se tiver quatro candidatos
no campo do governo, o governo vai ficar imobilizado. Daqui
a pouco vai estar o PT brigando
com o PMDB, que briga com o
PSB, que briga com o PC do B,
que briga com o PR, que briga
com o PDT. Ficamos brigando
entre nós e deixamos nossos
adversários tranqüilos. Precisamos fazer a briga interna e
construir a possibilidade de
candidatura única. Há o cargo
de presidente, de vice, dois senadores, governadores. Tem
cargo para todo mundo.
FOLHA - O PT não aceita deixar de
lançar candidato a presidente.
LULA - É normal todo mundo
achar que tem de ter candidato.
Mas, entre achar e fazer, tem
uma diferença muito grande.
FOLHA - Vai tirar licença para fazer
campanha se tiver um candidato só?
LULA - Se estiver ótimo, vou
ajudar os candidatos exercendo
o mandato de presidente. Não
tem nada melhor para ajudar os
meus aliados de que o governo
estar bem. Se o governo estiver
bem, posso continuar fazendo
as viagens internacionais e deixando a eleição correr. Se o governo estiver mal, muitas vezes
pode acontecer de o governo
estar mal e o presidente estar
melhor do que o conjunto do
governo. Aí tomo a decisão.
FOLHA - Se Aécio entrasse no
PMDB, o sr. o apoiaria a presidente?
LULA - Se entrasse no PMDB e
fosse candidato da base, não teria problema nenhum. Mas
precisaria saber se a base quer.
FOLHA - O governo do sr. repete e
até acentua a cultura política da fisiologia, distribuindo cargos no governo e emendas a parlamentares
como forma de mantê-los fiéis. O sr.
desistiu de romper com a fisiologia?
LULA - Uma coisa é a política
real. Outra coisa é a interpretação que vocês [imprensa] dão à
política real. Quero explicar isso. Nós estamos num governo
de coalizão. Isso não vale para o
Brasil. Vale para o mundo. Se
você olhar a Angela Merkel
[chanceler alemã], ela ganha as
eleições e faz composição.
FOLHA - É correto condicionar o voto ao governo a verba ou cargo?
LULA - Não é correto. Aqui não
se trabalha assim. Quando propus aos partidos uma coalizão,
é justo montar o governo com
os partidos da coalizão. Não é
correto montar com o PT e ficar pedindo o voto dos outros.
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