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"A última vez em que bebi foi em 1974"
Lula diz não ter ficado "bêbado" desde a derrota para a Holanda naquela Copa
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Lula disse ter ficado "muito puto" com a reportagem de Larry Rohter, então
correspondente do "New York
Times", de que abusaria da bebida, porque era "mentira". Na
época, ele decidiu não renovar
o visto de Rohter (depois recuou). Diz duvidar que um jornalista ou político o tenha visto
bêbado: "A última vez em que
bebi mesmo foi quando o Brasil
perdeu para a Holanda de 2 a 0
na Copa do Mundo de 1974".
Lula revelou que se sente
"isolado" em Brasília, dorme
cinco horas por noite, acorda
cedo e caminha todo dia. Admite que fala palavrões ao cobrar
ministros: "Tenho um jeito que
não vou mudar. (...) Um palavrão quando soa como força de
expressão ele é bonito".
(KA)
FOLHA - O que faz no tempo livre?
LULA - Não tenho tempo livre.
FOLHA - No final de semana.
LULA - Aí é que me sinto isolado. Quando posso, passo com
meus filhos. Eles não querem
vir para Brasília. Cada um tem a
vida dele, tem a sua namorada.
Não posso convidar um ministro porque tenho 30 [são 37] e
vou criar ciúme nos outros. Dos
meus domingos, 90% estamos
eu e Marisa sozinhos. Aqui em
Brasília nunca fui a um jantar, a
um aniversário, a um restaurante. Minha vida é Palácio do
Planalto e Palácio da Alvorada.
FOLHA - Foi ao Rosenthal [restaurante bom e barato de um cozinheiro de JK que morreu em 2005].
LULA - Fui uma vez ao Rosenthal em quatro anos e meio.
Não vou porque não quero
atrapalhar as pessoas. O presidente leva um monte de gente,
segurança, para ir a um lugar.
FOLHA - Não foge, não sai sozinho?
LULA - Não. Sei de histórias de
presidente que fugia e não fujo.
FOLHA - O que o sr. faz?
LULA - Eu e Marisa vemos filme, vemos TV, andamos, pescamos, conversamos.
FOLHA - O casamento está bom?
LULA - Sempre esteve bom.
FOLHA - O sr. tira uma sesta todo
dia? Coloca pijama como o JK?
LULA - Não tenho tempo.
Aquele tempo talvez fosse mais
fácil para governar. Às vezes
saio daqui tarde para almoçar,
chego em casa às 15h -vou almoçar em casa todo dia. E tem
dia que volto para cá muito nervoso porque o tempo que tenho
de almoçar é menor do que
quando eu trabalhava na fábrica em tempo corrido e tinha
meia hora para almoçar. Quando tenho tempo de descansar
20 minutos, dar uma cochilada,
é um alívio porque a gente ganha uma tarde nova.
FOLHA - O sr. acorda a que horas?
Dorme quantas horas?
LULA - Durmo quatro horas e
meia, cinco horas por noite.
Acordo todo dia entre 5h30 e
6h.
FOLHA - Não é pouco?
LULA - É pouco.
FOLHA - Como está o peso?
LULA - Estou com 84 kg. Tô fazendo regime para chegar a 80.
FOLHA - Faz ginástica?
LULA - Ando todo dia. É essa ginástica que me deixa de bom
humor todo dia. Não tenho motivo para não ter bom humor.
FOLHA - Não fica mal-humorado,
xinga?
LULA - Tenho um jeito que não
vou mudar. Cobro dos meus
companheiros ministros.
FOLHA - Não solta palavrões?
LULA - Um palavrão quando
soa como força de expressão ele
é bonito. Ele é feio quando falado fora de hora. Eu sou assim.
FOLHA - O que o sr. vê na TV?
LULA - Não gosto de nada que
me deixe tenso na TV ou no cinema. Não me convide para ver
um filme de terror ou de suspense. Quero me divertir.
Quanto mais avacalhado for o
programa, melhor para mim.
Gosto muito de documentário,
que vejo na TV a cabo. Nesta semana, vi um documentário
sensacional sobre plataforma
de petróleo. Outro dia vi um documentário espetacular sobre
borracha. Vejo muito filme. Ganhei uma coleção de filmes brasileiros. Ouço muita música. O
mais recente é o DVD do Toquinho, que é excepcional.
FOLHA - O sr. tinha fama de não
gostar de Brasília. O que acha agora
depois de viver cinco anos nela?
LULA - O pior é que não vivo em
Brasília. Vivo no Palácio do Planalto e no Palácio da Alvorada.
Vive em Brasília quem vai a restaurante, ao shopping, quem
vai tomar um chope no bar.
FOLHA - O sr. disse que não vai estudar no exterior quando deixar o
governo, mas o que planeja fazer?
Tem medo da "depressão pós-poder"? Do que sentirá mais falta?
LULA - Sou um homem vacinado. Sei ao longo da história da
dificuldade de as pessoas viverem sem corte depois de passarem tanto tempo com corte.
Por conta disso muita gente erra na política, cai em depressão.
Muita gente não se dá conta de
que acabou o mandato, acabou.
Tem de fazer outra coisa. Pretendo viver minha vidinha
tranqüila. Pretendo voltar no
sábado e domingo para o meu
terreninho, lá em São Bernardo
do Campo. Fazer o meu feijãozinho, meu coelhinho na panela de ferro, fumar um cigarrinho de corda, sentado perto do
fogão de lenha. Obviamente
vou continuar tendo atividade
política. Mas nada de cargo
nem como dirigente do PT.
FOLHA - O sr. sempre tomou cachaça, chope. Por que no episódio Larry
Rohter o sr. reagiu tão duramente?
LULA - Incomoda a mentira, a
desfaçatez. Duvido que tenha
um jornalista no Brasil que tenha me visto bêbado. Duvido
que tenha um companheiro do
PT que tenha me visto bêbado.
Duvido que tenha um militante
do movimento sindical que tenha me visto bêbado. Digo para
todo mundo ouvir. A última vez
em que bebi mesmo foi quando
o Brasil perdeu para a Holanda
de 2 a 0 na Copa do Mundo de
1974. Foi a primeira vez em que
vi TV a cores. A gente tinha fechado o sindicato para comemorar a vitória do Brasil. O Brasil perdeu, e a gente bebeu de
tristeza. Tinha casado com a
Marisa fazia um mês e cheguei
em casa travado. Depois disso,
não mais. Fiquei puto porque,
como pode um cidadão que
nunca conversou comigo, que
nunca tomou um copo de cerveja comigo, que nunca tomou
um copo d'água comigo, fazer
uma matéria de que eu bebia.
Isso me deixou muito puto.
Tem um companheiro no bar
e está vendo eu tomar dois uísques, escreva que tomei dois
uísques. Se as pessoas me perguntarem se bebo, falo. Bebo,
gosto de tomar um uisquizinho.
Não gosto de cerveja. Não gosto
muito de vinho. Eu estou falando sobre 32 anos. Duvido que
alguém tenha me visto bêbado
desde 1974. O episódio me deixou chateado. Uma matéria
gratuita e que fazia parte da
tentativa de pessoas que queriam construir uma imagem
negativa do Lula. Aliás, passaram grande parte do primeiro
mandato tentando fazer isso.
FOLHA - Após o Dualib dizer que o
Corinthians ganhou com gol roubado, acha que o título de 2005 deveria ser dado ao Internacional?
LULA - Aquele título a gente
quase não comemora. Foi num
ranha-ranha, quase perdeu todos os jogos para chegar ao título. Se você vai anular um título
cada vez que rouba, tem de tirar
da Argentina a Copa de 86...
Bem, vou criar um problema
internacional.
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