São Paulo, terça-feira, 14 de outubro de 2008

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ELEIÇÕES 2008 / SÃO PAULO

SABATINA FOLHA

MARTA SUPLICY

Marta diz que ignorava, mas aprova anúncio contra Kassab

Petista atribui ao marqueteiro João Santana a decisão de veicular a propaganda

Rogério Cassimiro/Folha Imagem
A candidata do PT à Prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy, é sabatinada por jornalistas da Folha, pela platéia e por internautas

A CANDIDATA do PT à Prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy, 63, defendeu ontem em sabatina realizada pela Folha a peça de sua propaganda eleitoral que aborda temas da vida privada de seu adversário, o prefeito Gilberto Kassab (DEM). Apesar disso, afirmou que não ficou sabendo com antecedência do comercial e que a responsabilidade por seus programas é do marqueteiro João Santana. "Acho importante que as pessoas conheçam todo esse DNA do Gilberto Kassab", afirmou ela sobre a propaganda que pergunta ao eleitor, entre outras coisas, se ele sabe se Kassab é casado ou tem filhos. Marta respondeu a questões da platéia, de internautas e dos jornalistas Ricardo Melo (secretário-assistente de Redação), Vera Guimarães Martins (secretária-assistente de Redação), Fernando de Barros e Silva (editor do caderno Brasil) e Gilberto Dimenstein (colunista).

EM SÃO PAULO
DA REPORTAGEM LOCAL

Embora irritada ao relatar casos de invasão de sua privacidade, Marta Suplicy insistiu na tese de que a informação sobre o estado civil de seu rival é relevante para o eleitor.
"É tudo político [saber se o candidato é casado ou tem filhos]. É político, gente. A vida é política", disse Marta. O assunto foi tema de quase um terço da sabatina, que teve a duração de uma hora e meia.
"Quando você tem candidato a um cargo de tão grande responsabilidade, é importante saber da trajetória e da biografia. Tenho uma vida absolutamente transparente, as pessoas sabem de onde vim, o que fiz, o que faço, e acho importante que as pessoas conheçam todo esse DNA do Gilberto Kassab", disse Marta.
A ex-prefeita (ela comandou a cidade entre 2001 e 2004) negou que a pergunta de sua propaganda tivesse intenções ocultas. "Acho muito importante saber a trajetória, o DNA de uma candidatura, e a biografia do candidato. Não de forma sexista, como vocês fazem comigo", afirmou ela.
Questionada se não considerava que houve insinuação de homossexualismo na propaganda, respondeu que não, e devolveu: "Por quê? Você acha?" Ao ouvir o argumento de que quem pôs a propaganda no ar foi a campanha dela, disse: "Foi uma pergunta como qualquer outra".
Marta também negou preconceito: "Talvez seja a pessoa que na última década foi mais perseguida com preconceito. Sou contra preconceito, da minha boca vocês não vão escutar nenhum preconceito. (...) Acho que estão interpretando além da conta", afirmou, justificando a propaganda: "É um direito, é o mínimo que a gente tem de saber. (...) Vocês perguntam até o que a pessoa come, aí não pode fazer pergunta se é casado?"
Apesar de defendê-la, a petista assegurou que não sabia da existência da peça nem viu sua veiculação. Tomou ciência, diz, por relato de terceiros.
"A condução da campanha de televisão o marqueteiro faz, isso não compete a mim. (...) A decisão está na mão do marqueteiro, como o Kassab disse que a dele também [estaria na mão do marqueteiro]. Se você quiser saber o que achei, eu não vi, não li. As pessoas me contaram, eu li, soube, não vi a campanha", afirmou.
Questionada por uma pessoa da platéia se também não assumirá atos de secretários, caso seja eleita, a candidata respondeu que, nessa situação, a responsabilidade seria dela.

Kassab-Pitta
Segundo linha traçada por sua campanha para o segundo turno, Marta novamente explorou o fato de Kassab ter sido secretário de Planejamento de Celso Pitta (1996-2000) e ter apoiado Paulo Maluf (PP).
"Se você for hoje aos bares, tá todo mundo de olhos abertos, esbugalhados: "Como, ele era do Pitta nesse nível?" As pessoas não tinham essa percepção, não sabiam disso."
A tentativa petista é colar em Kassab o rótulo de representante do atraso.
"O que determina o caráter de uma pessoa é o que ela escolhe. O Kassab disse que na ditadura era criança. Ele já tinha 20 anos [nos anos 80]. Aí poderia ter escolhido qualquer partido, mas escolheu o PFL [hoje DEM]. Por que será que ele escolheu o PFL? O PFL tem uma história. É o partido dos coronéis do Nordeste, do atraso, é o partido que está em extinção", afirmou, dizendo que São Paulo não pode, agora, dar um "respiro" à legenda.
Ao acusar o adversário de tentar se "fantasiar" de tucano, Marta Suplicy afirmou que a vitória do democrata no próximo dia 26 representaria uma nova "eleição" de Celso Pitta.
"Você tem a maior capital do país, a maior cidade da América Latina, a quarta cidade do mundo, e nós estamos quase cometendo o erro que cometemos com o Pitta há 12 anos", disse, acrescentando: "A população não conhece Kassab. É o atraso. Além de ser o atraso, é o desconhecido, isso é o mais sério. Porque Pitta foi eleito justamente assim".
Assim como no debate e em sua propaganda de ontem na TV, Marta afirmou que Kassab foi "o líder do movimento "reage Pitta'", na ocasião em que o ex-prefeito estava ameaçado de impeachment.
No final, a petista fez uma análise segundo a qual parte da população da cidade nutriria uma confiança errada no governador José Serra (PSDB), de quem Kassab herdou a prefeitura em 2006.
"O Serra vai querer ser candidato a presidente e vai embora [do Estado]. Quem eleger Kassab vai estar dando um cheque em branco para quem não conhece. Ele [Kassab] vai administrar com o voto dele, porque agora administra com o voto do outro [Serra]. Vai ter autonomia e vai ser como eu disse no debate: de um lado, vamos ter um prefeito real, do outro, o prefeito da propaganda", afirmou a candidata.
(RANIER BRAGON, ANA FLOR, FLÁVIO FERREIRA E AFONSO BENITES)


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