São Paulo, terça-feira, 14 de novembro de 2000

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CONTAS DA REELEIÇÃO
Anexo da principal planilha secreta demonstra que na véspera da eleição eram esperadas mais doações no caixa extra-oficial
Tabela sugere mais R$ 9,5 mi paralelos

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um anexo da principal planilha secreta com a contabilidade da campanha da reeleição de FHC sugere que, no dia 30 de setembro de 1998, o comitê financeiro ainda pretendia arrecadar mais R$ 9,5 milhões no caixa-dois.
Ao todo, somando-se contribuições oficiais e arrecadação paralela, a campanha presidencial custou R$ 75,2 milhões, de acordo com o documento, incluído nos arquivos obtidos pelo Ministério Público.
Esse anexo apresenta uma tabela com a contabilidade paralela do comitê. Como "promessas", na coluna "B", estão inscritos R$ 9,5 milhões. Até aquela data, R$ 13,7 milhões haviam sido registrados como "recebidos" no caixa-dois, segundo o documento.
A cifra é muito próxima do que a Folha informou em sua edição de domingo. Num cálculo conservador, a reportagem apontou, com base na planilha principal, a existência de um caixa-dois de R$ 10,120 milhões.
A conta deixou de fora outros R$ 4,726 milhões, que foram registrados na Justiça Eleitoral, mas com valores menores dos que constam do documento eletrônico sigiloso.
Somando-se os dois valores, chega-se a R$ 14,846 milhões, pouco acima dos R$ 13,7 milhões informados na tabela.
A correlação entre os dados que constam desse resumo contábil e os divulgados pelo próprio comitê, há dois anos, é forte.
Como gastos registrados na coluna "A", o total é de R$ 43,6 milhões, resultado de pagamentos, compromissos futuros e outras despesas.
O valor é próximo dos R$ 43,022 milhões informados pelo comitê financeiro ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Até o dia 30 de setembro, quatro dias antes da eleição, o conjunto de receitas da coluna "A", que trata do caixa oficial, somava um déficit de R$ 9,2 milhões.
Os arrecadadores da campanha também conseguiram R$ 8,2 milhões após o pleito. Ainda que essa arrecadação seja proibida pela lei eleitoral, isso teria ajudado a reduzir o déficit.
Ao TSE, o comitê financeiro informou que a campanha da reeleição deixou dívida de R$ 3,189 milhões, que foi transferida para o PSDB, partido do presidente.

Despesas
A tabela que resume a contabilidade do comitê pela reeleição de FHC até o dia 30 de setembro também sugere que a campanha realizou despesas no caixa-dois. Pagou e prometeu pagar por serviços sem nota fiscal. Ao todo, eles somavam R$ 31,6 milhões.
Até o dia 30 de setembro, os pagamentos já efetuados com recursos do caixa-dois, que somavam R$ 13,7 milhões, eram idênticos às receitas então obtidas também na contabilidade paralela.
Tanto a coluna "A" como a "B" dessa tabela indicam que a campanha foi deficitária. De acordo com os números oficiais, a dívida seria de R$ 9,2 milhões, até aquela data.
Considerando as contas paralelas, o rombo seria maior, somando outros R$ 8,4 milhões.
O contador -que, segundo o arquivo eletrônico, é o ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira, tesoureiro da campanha de FHC- aponta uma "redução possível" de R$ 4 milhões nas despesas. Não indica, porém, a procedência desses recursos.
A expectativa de contabilizar novas contribuições também incentivou o autor da tabela a indicar um "déficit otimista" para a campanha, de R$ 13,6 milhões.
A "redução possível", indicada em 30 de setembro, representa a metade dos R$ 8,2 milhões que foram arrecadados fora do prazo. Oficialmente, o prazo para a captação de recursos expira no dia da eleição -portanto, em 4 de outubro de 1998. (ANDRÉA MICHAEL e WLADIMIR GRAMACHO)


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