São Paulo, quarta-feira, 14 de novembro de 2007

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PF prende 19 suspeitos de contrabando

Assessor parlamentar demitido ontem está entre os acusados de integrar esquema que trazia mercadorias do Paraguai

Segundo PF, funcionário da presidência do Senado usou cota de correios de pelo menos três deputados do PMDB para levar carga

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Polícia Federal prendeu ontem um grupo de 19 pessoas acusadas de contrabandear mercadorias do Paraguai para vender e redistribuir a partir de Brasília. Entre os presos está o assessor parlamentar Carlos Rudiney Mattoso, que trabalhava como fotógrafo da presidência do Senado.
Segundo a investigação da PF, o fotógrafo usou a cota de parlamentares para gastos com correios do gabinete de pelo menos três deputados, todos do PMDB de Alagoas, para transportar mercadoria supostamente contrabandeada.
Os deputados que tiveram as cotas usadas são Olavo Calheiros, Cristiano Matheus e Joaquim Beltrão. Cada deputado dispõe de uma cota mensal de R$ 4.268,55 para cobrir despesas com telefone e correios.
Parte da verba dos gabinetes de Matheus e Beltrão foi usada para transportar laptops para o Amapá. No caso de Calheiros, fez-se o financiamento de uma remessa destinada à cidade de Paracatu (MG).
Responsável pela investigação, o delegado federal Wesley Almeida disse que até o momento não há indícios de envolvimento dos parlamentares nas irregularidades detectadas.
"Pelo que investigamos, houve a prática dos crimes de contrabando, descaminho, quadrilha e também lavagem de dinheiro", disse o delegado.
O fotógrafo foi contratado para trabalhar na presidência do Senado na gestão de Renan Calheiros (PMDB-AL). Tão logo se tornou público o envolvimento de Mattoso, a assessoria da presidência da Casa informou sua demissão em nota.
Por meio de assessores, Matheus e Beltrão negaram qualquer tipo de envolvimento em atos irregularidades eventualmente praticados pelo fotógrafo. Calheiros não respondeu a recado deixado pela reportagem ontem à tarde.

No comando
O comércio do contrabando era comandado, segundo a PF, pela família de ascendência libanesa Diab. Sob a acusação de praticar os crimes de contrabando, descaminho, quadrilha e lavagem de dinheiro foram presos sete irmãos Diab -daí a razão de batizar a operação policial de Sete Erros.
O grupo tinha uma base em Foz do Iguaçu, local de fornecimento da mercadoria e onde ocorreram duas das 19 prisões.
Em Brasília os produtos eram vendidos na Feira dos Importados, um grande mercado popular. Ali a família Diab, sempre segundo a PF, comandava um conjunto de barracas, entre as quais as maiores eram a Hollywood e a Ali Babá.
Houve também a prisão do policial civil Reinaldo Barros, acusado de repassar dados sigilosos aos investigados. Equipamentos de informática eram os principais produtos comercializados pelo esquema.
A investigação começou há seis meses com base em denúncias e também em informações levantadas pela Polícia Civil do Distrito Federal.
Aberto o inquérito na PF, foram identificadas, em um período de apenas 40 dias, remessas de dinheiro que totalizam R$ 1 milhão para Foz do Iguaçu. Os recursos circularam pelo sistema financeiro regular, mas em conta de laranjas.


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