São Paulo, sábado, 14 de novembro de 1998

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ÍNDIOS
PF e Funai não acham corpos de garimpeiros


Após 6 dias de operação, governo não consegue comprovar existência do confronto no qual 13 pessoas teriam morrido em reserva indígena


LUÍS INDRIUNAS
da Agência Folha, em Macapá

A operação da Polícia Federal e da Funai (Fundação Nacional do Índio), montada para apurar a suposta morte de 11 garimpeiros, uma índia e um bebê índio, no Parque Indígena do Tumucumaque (PA), no último dia 3, não resultou em nada.
Até ontem, dez dias após a comunicação das supostas mortes pela Funai, a polícia não tinha conseguido localizar os corpos, nem a única pessoa que teria falado com dois garimpeiros feridos, o índio Aldo Cuxá Apalay. A Polícia Federal ainda espera um contato dele por rádio.
Segundo o presidente da Apitu (Associação dos Povos Indígenas do Tumucumaque), Missico Oiampi, há uma esperança de que Apalay chegue a Macapá logo. Mas ele não tem certeza de que o índio deixou a reserva.
A fracassada operação acabou por provocar a exoneração do administrador da Funai do Amapá, Amaro Lopes. Ontem, a Agência Folha tentou entrar em contato com ele, sem sucesso.
O assessor especial da Funai, Arggeu Breda de Melo, que assumiu interinamente o cargo, disse que o próximo administrador pode ser indicado pelas lideranças indígenas.
˛ Gastos
Um helicóptero, três aviões e 25 homens foram mobilizados para a missão que durou seis dias e cujo os gastos totais ainda não foram divulgados.
Somente a Funai gastou R$ 5.526,65 com combustível. Com o helicóptero da FAB (Força Aérea Brasileira), foram pelo menos R$ 10 mil já que o custo da hora de vôo é de R$ 1.200.
Informações desencontradas e trapalhadas fizeram parte de toda a operação.
A notícia das mortes foi divulgada por Amaro Lopes no dia 3 passado. O índio Aldo Cuxá Apalay, que estava no meio da reserva e disse ter sabido das mortes por dois garimpeiros feridos, entrou em contato com o rádio da Apitu da aldeia de Apalaí, na manhã daquele dia.
No dia 4, quando a imprensa já havia divulgado o fato, uma equipe da Funai e da Polícia Federal partiu para a Missão Tiriós, no norte da reserva, supostamente o local mais próximo do conflito.
A saída, no entanto, teve um atraso de mais de seis horas, já que não havia nem avião nem combustível disponível.
O governo do Amapá acabou cedendo a aeronave que decolou de Macapá por volta das 16h30 (hora de Brasília).
Chegando à aldeia, os índios levaram um susto. A Funai não havia avisado da operação. Toda a "comida de branco (arroz, macarrão, leite em pó e carne de búfalo) foi usada para alimentar o grupo e os jornalistas que foram para a área.
No dia 5, chegou o helicóptero da FAB, mas uma pane na bomba injetora fez com que a operação começasse só no dia seguinte.
Neste mesmo dia, uma equipe de peritos, incluindo um médico legista, foi enviada ao local. Os peritos ficaram cinco dias na Missão Tiriós sem trabalhar, já que os corpos não foram encontrados.
Neste mesmo dia à noite, o índio Aldo Cuxá voltou a se comunicar com o rádio da Apitu. Ele disse que faria sinais de fumaça para que fosse resgatado na mata, onde estaria com mais outras sete pessoas.
O resgate não aconteceu porque, segundo o capitão Eduardo Portas, não havia equipamento específico para esse trabalho no helicóptero, nem pessoal treinado na tripulação. Assim, o único informante das mortes continua na mata.
No dia 6, finalmente o helicóptero fez seu primeiro vôo de reconhecimento. Á tarde, o helicóptero pousou em um ponto próximo ao suposto local, onde quatro policiais federais, um agente da Funai e o índio Júnior Caxuiana passaram à noite.
Sem encontrar nenhum sinal, eles voltaram no dia seguinte (dia 7), sedentos, já que a água que levaram não foi suficiente.
No dia 8, um novo vôo de helicóptero. No dia 9, a equipe decidiu paralisar toda a operação. A equipe voltou, então, para Macapá, onde permanece planejando os próximos passos da operação.



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