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São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2003

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O ARREPENDIDO

Radicais fazem "jogo da direita", diz Lindberg

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O deputado Lindberg Farias (PT-RJ), 34, percorreu os dois extremos nos últimos meses. De um início de ano em que disputava entrevistas para criticar a política econômica e as propostas de reforma do recém-empossado governo petista, Lindberg desapareceu das páginas de jornais para retornar do lado governista.
Pré-candidato do partido à Prefeitura de Nova Iguaçu (RJ), o ex-líder estudantil coroou sua nova postura ao subir na tribuna da Câmara para discursar favoravelmente à aprovação da reforma da Previdência. Ele nega as acusações de que tenha repensado sua atuação para obter o apoio do partido à sua pretensão eleitoral.
Lindberg afirma que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva é bem diferente do que o do começo do ano, diz que os "radicais" acabam fazendo o "jogo da direita" e acrescenta ter ouvido de Lula que, daqui para a frente, "o governo vai pôr a máquina a todo vapor".
(RANIER BRAGON)
 

Folha - Como o sr. vê a iminência da expulsão dos quatro parlamentares petistas?
Lindberg Farias -
Minha posição é pela não-expulsão. Inclusive assinei um documento pedindo isso. O governo Lula está em uma fase completamente diferente do primeiro semestre. O governo tem assumido uma cara mais de esquerda, mais parecida com as posições históricas do PT.

Folha - Quais seriam os exemplos dessa mudança?
Lindberg -
Tenho visto uma movimentação na política externa do governo Lula, uma movimentação que privilegia uma articulação com China, Índia, Rússia e África do Sul. A posição do governo brasileiro praticamente esvaziou o debate sobre a Alca [Área de Livre Comércio das Américas], a assinatura de uma nota pedindo a saída imediata das forças de ocupação no Iraque, é preciso entender que essas são posições que esperávamos de um governo de esquerda. Quem apostou em uma tese de que o Lula aderiu à lógica do neoliberalismo, quem apostou todas as fichas nisso, acho que errou e quebrou a cara.

Folha - O sr. citou a política externa. Internamente, há mudança?
Lindberg -
O governo entra em uma nova fase, de crescimento. O presidente me falou: "Você acha que a gente ganhou a eleição para ficar preso ao modelo do governo anterior? Vamos colocar essa máquina a todo vapor".

Folha - Como o sr. responde às críticas de que o apoio ao governo veio em troca do respaldo partidário à sua candidatura em Nova Iguaçu?
Lindberg -
Isso é um equívoco, não é essa a razão da minha postura. Já era candidato a prefeito de Nova Iguaçu antes de qualquer coisa, isso não muda em nada...

Folha - Mas se o sr. continuasse com as críticas estaria na lista de expulsão.
Lindberg -
Isso é falso. Ainda confio no presidente Lula. Temos que entender que o verdadeiro embate que o governo vai ter são com as forças de direita. Tenho medo que alguns se transformem em inocentes úteis nas mãos da direita.


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