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JANIO DE FREITAS
Os craques do Planalto
Na historiada de revela/
não revela documentos tidos como secretos, o governo
acabou se enrolando tanto
quanto os militares. Há dois
anos esse assunto martela em cima de Lula com freqüência diária. Se Lula e os manda-chuvas
da Presidência não perceberam
o custo, para os militares, da
longa persistência do assunto,
de uma equipe presidencial se
esperaria que percebesse ao menos o seu próprio problema.
Deu-se o oposto: de cada vez que
as cobranças públicas os obrigaram a mover-se, Lula e o grupo
palaciano mais se enredaram,
até chegarem ao patético na madrugada da última sexta-feira.
A necessidade de que os ministros da Justiça e dos Direitos Humanos entrassem pela madrugada em múltiplas negociações, com palacianos e militares, para
recompor as regras (adulteradas) de abertura do sigilo, já é
um despropósito em assunto que
se espicha por tantos meses. O
motivo que agitou Marcio Thomaz Bastos e Nilmário Miranda
é, porém, ainda mais espantoso:
o texto divulgado mais cedo pela
Presidência, em vez de diminuir,
como fora afinal acertado e divulgado, aumentava os prazos
de abertura de documentos. É
incrível que algo assim aconteça
em uma Presidência da República, pior ainda se superlotada
de ministros e assessores. O velho Freud explicou direitinho os
lapsos induzidos por desejos reprimidos, mas até lapsos assim
têm lugar e hora inaceitáveis.
As regras de governo e política
não são diferentes das demais
regras. E uma destas, entre as
mais simples, ensina que, se deixarmos um problema crescer, é
certo que crescerá. Na multidão
que habita a Presidência isso
ainda não é sabido. Os exemplos
se sucedem, semana após semana. Mais um se oferecia às manchetes, enquanto a encrenca
com os documentos secretos subia ao seu paroxismo: a decisão
do PMDB de desligar-se do governo.
Adotado na convenção do fim
de semana, o desligamento provém, em boa parte, de um problema que a Presidência deixou
crescer até que, ao tentar agir, já
perdera qualquer possibilidade
de controlá-lo. Foi o problema
da reeleição de José Sarney e
João Paulo Cunha para as presidências do Senado e da Câmara.
O governo não cuidou dos meios
para reelegê-los, nem buscou a
solução alternativa. Com isso,
facilitou a fertilização de insatisfações no PMDB. E tem, agora,
um risco sério com a probabilidade de presidências insatisfatórias na Câmara e no Senado. O
que, somado à atitude hostil de
peemedebistas e ao rompimento
também do PPS com o governo,
é promessa de um senhor problema para os craques da Presidência deixarem crescer até explodir sobre eles.
Quando ficarem um pouco
menos cheios de si, os da Presidência talvez se dêem conta da
desproporção entre a imagem
que se fazem e a imagem do que
fazem.
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