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Derrota vai obrigar governo a rever PACs
Perda de R$ 38 bilhões da CPMF deve significar a primeira redução efetiva da carga tributária desde o Plano Real, de 1994
Novo cenário torna menos ambiciosos os planos do Planalto, a começar pelo PAC da Saúde, que teria
R$ 4 bilhões novos em 2008
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A derrocada da CPMF deve
significar a primeira redução
efetiva da carga tributária desde o Plano Real, o que obrigará
o governo a rever a estratégia
orçamentária traçada para o
segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de
expansão acelerada de gastos
por meio da miríade de PACs já
lançados e ainda por lançar.
Sem a contribuição provisória que expira no final do mês, o
peso dos tributos federais deve
cair de 24,5% para 24,1% da
renda nacional, conforme as
estimativas oficiais para a arrecadação deste e do próximo
ano. Mesmo que a área econômica consiga atenuar a queda,
trata-se de uma interrupção da
trajetória seguida desde a segunda metade da década passada, quando foram abandonados
os tempos em que a carga federal oscilava em torno de 18% do
Produto Interno Bruto.
O novo cenário torna necessariamente menos ambiciosos
os planos governamentais, a
começar, de imediato, pelo
PAC da Saúde, que teria R$ 4
bilhões em dinheiro novo no
próximo ano, e pelo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) propriamente dito e
seus R$ 18 bilhões no projeto de
Orçamento de 2008
Não será necessário promover uma redução real do volume total de gastos federais para
compensar a perda dos R$ 38
bilhões da CPMF. A arrecadação esperada dos demais tributos permite manter a atual meta de superávit fiscal e ainda
elevar as despesas em 4,3%,
praticamente a mesma taxa de
inflação projetada para o período. Com a contribuição provisória, porém, planejava-se elevar o gasto em 12,3%.
Ainda que o governo anuncie
a intenção de preservar o pacote de estímulo à economia, as
obras em infra-estrutura e os
demais investimentos são os alvos preferenciais de qualquer
ajuste orçamentário, por não
serem despesas permanentes
nem obrigatórias. Mesmo que
sejam mantidos no papel, dificilmente serão cumpridos.
A despeito de todas as ameaças feitas pelo governo nos últimos meses, as verbas para a
saúde não serão reduzidas, na
comparação com o volume
atual. Como manda a Constituição, serão elevadas no próximo ano conforme a variação do
PIB, com ou sem CPMF, incluindo as parcelas repassadas
aos Estados e municípios. Do
tributo só dependiam as verbas
adicionais que estavam em negociação com o Congresso.
Como também há pouca
margem de manobra nos recursos destinados a previdência,
assistência social e pessoal, a
revisão do Orçamento terá de
se concentrar nas chamadas
despesas discricionárias (nas
quais o Executivo tem poder de
decisão), que haviam sido contempladas com a proposta de
Orçamento mais generosa já
elaborada no governo petista.
No texto, os ministérios teriam R$ 123 bilhões para usar
livremente no próximo ano, e
os parlamentares já se preparavam para adicionar R$ 16,3 bilhões à conta.
A Defesa terá -ou teria- o
maior reforço em valores totais, de R$ 6,5 bilhões para R$
10 bilhões em 2008. Ao todo, a
área social -Saúde, Desenvolvimento Social, Educação, Previdência, Esportes, Trabalho e
Cultura- tiveram suas verbas
elevadas de R$ 62,6 bilhões para R$ 73 bilhões e respondem
por quase 60% das despesas
não obrigatórias.
Todos esses aumentos só
eram possíveis com a expectativa de uma nova alta da carga
tributária federal, desta vez para mais de 25% do PIB. É improvável que o governo consiga
restabelecer esse patamar no
próximo ano, porque, sem a
aprovação do Congresso, só pode elevar impostos de caráter
regulatório, quase todos com
baixo potencial de arrecadação.
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