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Magistrada julga ações sobre banco suíço em que teve conta
Pedido de providências encaminhado pela Procuradoria foi arquivado pelo TRF
Vesna Kolmar preside Turma que tem julgado recursos de executivos do Credit Suisse investigados; segundo ela, conta desativada é do pai
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A presidente do Tribunal Regional Federal da 3ª Região,
Marli Ferreira, arquivou pedido de providências enviado pelo Ministério Público Federal
de São Paulo para que fosse
apurada a existência de conta
bancária em Zurique, na Suíça,
ligada ao nome da desembargadora do TRF Vesna Kolmar.
O pedido para que fossem tomadas "as providências que julgar cabíveis" foi enviado ao
TRF em 25 de junho de 2008
pela procuradora da República
Karen Khan. O ofício explicava
que a conta estava em nome de
Vesna e de seus pais.
A lista com os nomes de 421
brasileiros que manteriam dinheiro em Zurique foi apreendida pela Operação Suíça, desencadeada em 2006 pela Polícia Federal para investigar lavagem de dinheiro e crimes
contra o sistema financeiro supostamente cometidos pelo escritório do banco Credit Suisse
no Brasil. A investigação deu
origem a duas outras operações
policiais, Kaspar 1 e 2.
Vesna preside a Primeira
Turma do TRF, que tem julgado, desde 2006, os recursos
apresentados pelos executivos
do Credit Suisse investigados
pelas três operações da PF.
A decisão de maior repercussão da Turma foi tomada em
agosto, quando foi quebrado o
sigilo dos depoimentos prestados por réus colaboradores da
Justiça, obtidos por meio da
delação premiada, que acusavam os executivos do Credit
Suisse. Com isso, os réus poderão ter acesso indireto à identidade dos colaboradores. A Turma também já devolveu passaportes a diversos dos investigados, que puderam retornar à
Suíça, onde vivem atualmente.
Vesna disse à Folha que nunca soube do arquivamento e do
pedido do Ministério Público
porque, por um lapso, deixou
de abrir envelope enviado a seu
gabinete, em junho de 2008,
pela presidente do tribunal.
O ofício informava a existência da conta e o arquivamento
do pedido da Procuradoria. A
desembargadora disse que só
localizou o envelope na semana passada, após receber perguntas da Folha. Ela afirmou
que a Procuradoria Regional da
República nunca suscitou sua
suspeição no julgamento dos
processos e que a conta, hoje
desativada, é de seu pai, que a
teria aberto nos anos 60, quando morou na Europa. Vesna
também contestou os valores.
Apelido
A lista foi apreendida pela PF
em março de 2006 na sede do
escritório de representação do
"private" (agência voltada para
clientes de alto poder aquisitivo) do Credit Suisse em São
Paulo. O papel traz o nome da
desembargadora, de seus pais,
as datas de nascimento dos três
e a informação de que vivem
em São Paulo, ao lado de um
saldo de "2.778" francos suíços
em dezembro de 2000 -segundo as investigações, os números são em milhões, o que representaria um saldo, em valores atuais, de R$ 4,7 milhões.
A maioria das contas tem um
apelido, alguns esdrúxulos, como "Desce Redondo". A que cita a desembargadora é "Waterfront" (ou "área de praia").
Documento do Credit mostra que a "Waterfront" estava
sob os cuidados de Reto Carlos
Hunziker ou de Thomas Uhlmann, altos executivos do Credit no Brasil e dois dos principais réus nos processos desencadeados pela operação da PF.
A autenticidade da lista foi
confirmada a partir dos depoimentos de pelo menos 13 pessoas identificadas como correntistas do banco.
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