São Paulo, segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Magistrada julga ações sobre banco suíço em que teve conta

Pedido de providências encaminhado pela Procuradoria foi arquivado pelo TRF

Vesna Kolmar preside Turma que tem julgado recursos de executivos do Credit Suisse investigados; segundo ela, conta desativada é do pai

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

A presidente do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, Marli Ferreira, arquivou pedido de providências enviado pelo Ministério Público Federal de São Paulo para que fosse apurada a existência de conta bancária em Zurique, na Suíça, ligada ao nome da desembargadora do TRF Vesna Kolmar.
O pedido para que fossem tomadas "as providências que julgar cabíveis" foi enviado ao TRF em 25 de junho de 2008 pela procuradora da República Karen Khan. O ofício explicava que a conta estava em nome de Vesna e de seus pais.
A lista com os nomes de 421 brasileiros que manteriam dinheiro em Zurique foi apreendida pela Operação Suíça, desencadeada em 2006 pela Polícia Federal para investigar lavagem de dinheiro e crimes contra o sistema financeiro supostamente cometidos pelo escritório do banco Credit Suisse no Brasil. A investigação deu origem a duas outras operações policiais, Kaspar 1 e 2.
Vesna preside a Primeira Turma do TRF, que tem julgado, desde 2006, os recursos apresentados pelos executivos do Credit Suisse investigados pelas três operações da PF.
A decisão de maior repercussão da Turma foi tomada em agosto, quando foi quebrado o sigilo dos depoimentos prestados por réus colaboradores da Justiça, obtidos por meio da delação premiada, que acusavam os executivos do Credit Suisse. Com isso, os réus poderão ter acesso indireto à identidade dos colaboradores. A Turma também já devolveu passaportes a diversos dos investigados, que puderam retornar à Suíça, onde vivem atualmente.
Vesna disse à Folha que nunca soube do arquivamento e do pedido do Ministério Público porque, por um lapso, deixou de abrir envelope enviado a seu gabinete, em junho de 2008, pela presidente do tribunal.
O ofício informava a existência da conta e o arquivamento do pedido da Procuradoria. A desembargadora disse que só localizou o envelope na semana passada, após receber perguntas da Folha. Ela afirmou que a Procuradoria Regional da República nunca suscitou sua suspeição no julgamento dos processos e que a conta, hoje desativada, é de seu pai, que a teria aberto nos anos 60, quando morou na Europa. Vesna também contestou os valores.

Apelido
A lista foi apreendida pela PF em março de 2006 na sede do escritório de representação do "private" (agência voltada para clientes de alto poder aquisitivo) do Credit Suisse em São Paulo. O papel traz o nome da desembargadora, de seus pais, as datas de nascimento dos três e a informação de que vivem em São Paulo, ao lado de um saldo de "2.778" francos suíços em dezembro de 2000 -segundo as investigações, os números são em milhões, o que representaria um saldo, em valores atuais, de R$ 4,7 milhões.
A maioria das contas tem um apelido, alguns esdrúxulos, como "Desce Redondo". A que cita a desembargadora é "Waterfront" (ou "área de praia").
Documento do Credit mostra que a "Waterfront" estava sob os cuidados de Reto Carlos Hunziker ou de Thomas Uhlmann, altos executivos do Credit no Brasil e dois dos principais réus nos processos desencadeados pela operação da PF.
A autenticidade da lista foi confirmada a partir dos depoimentos de pelo menos 13 pessoas identificadas como correntistas do banco.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Saiba mais: Credit Suisse é alvo de operação da PF desde 2006
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.