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QUESTÃO AGRÁRIA
Famílias que já estavam na terra e só receberam regularização documental figuram como novos assentados
Governo volta a inflar total de assentamentos
EDUARDO SCOLESE
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo Luiz Inácio Lula da
Silva, que anunciou ter cumprido
a meta de assentamentos rurais
de 2005, voltou a inflar seus balanços de reforma agrária ao incluir
entre os "assentados" famílias
que já estavam na terra e que só
receberam regularização documental. Além disso, reconheceu
como da União projetos de assentamentos criados em anos anteriores por governos estaduais.
Segundo documento do Ministério do Desenvolvimento Agrário, das 127,5 mil famílias assentadas, 51,3 mil (40%) ou já estavam
na terra havia anos ou foram colocadas em projetos antigos -de
antes de 2005.
Indagado sobre os números em
seu Estado, o superintendente do
Incra no Maranhão, Raimundo
Monteiro dos Santos, explicou
que há dois tipos de "assentamento". "Há assentamento que já
existe, mas não está completo, aí a
gente vai e completa com outras
famílias que estão precisando. Ou
então [famílias] que moram lá e
que não têm documentos."
O cumprimento da meta estabelecida pelo governo para o ano
passado, 115 mil famílias, deverá
ser anunciado nesta semana.
Acomodar sem-terra em projetos antigos e tratar como novo assentado aquele que já estava na
terra e passou a receber créditos
da União não é uma prática ilegal,
mas destoa das diretrizes dos petistas quando na oposição e se assemelha ao modo que o governo
Fernando Henrique Cardoso utilizou para inflar seus balanços
anuais de reforma agrária.
Em 2003 e 2004, o governo não
conseguiu cumprir suas metas de
reforma agrária. No ano passado,
teve sucesso. Para isso, por exemplo, tratou de reconhecer como
seus alguns projetos de assentamento criados por governos estaduais. Na prática, dá créditos a famílias já assentadas nos Estados e
passa a contabilizá-las em seu balanço anual de reforma agrária.
Assentar em projetos antigos
também significa preencher lotes
abandonados por outros trabalhadores rurais. O Incra (Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária) faz a varredura nos
Estados para localizar espaços vagos em projetos de assentamentos
e, em seguida, seleciona famílias
para ocupar tais espaços.
Os movimentos sociais criticam
esse procedimento, pois avaliam
que um lote tornou-se vago justamente pela falta de infra-estrutura
(água tratada, energia elétrica e
rede de esgoto) do assentamento.
Outra forma que o governo Lula
tem utilizado para inchar seus balanços, como no caso atual do
Maranhão, é a simples regularização documental de famílias que já
viviam nos assentamentos há
anos. O trabalhador rural entrega
nome completo e CPF (Cadastro
de Pessoa Física) ao governo e vira assentado.
A reforma agrária em Rondônia
tinha a meta de assentar 2.000 famílias, chegou a 1.741. A checagem dos números, no entanto, revela que apenas 14 famílias efetivamente passaram a ocupar assentamento criado em 2005. O
restante foi alocada em áreas já
existentes, com infra-estrutura
construída em anos anteriores.
A superintendente interina do
Incra no Estado, Maria Amália,
admite a instalação de famílias em
lotes vagos de projetos antigos.
"[Eram] lotes vagos e retomados
de outras pessoas que não tinham
o perfil da reforma agrária. E lotes
abandonados também".
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