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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ VALERIODUTO
Término do esquema de distribuição de recursos a aliados coincide com dificuldade em aprovar medidas provisórias na Câmara
Sem repasses, governo coleciona derrotas
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O fim dos repasses do esquema
de caixa dois do PT para parlamentares da base aliada do governo Lula no Congresso coincidiu
com um aumento expressivo das
derrotas do governo em votações
de medidas provisórias na Câmara dos Deputados, segundo revelou um levantamento da liderança do PFL no Senado.
De acordo com a pesquisa feita
pelos oposicionistas, de janeiro de
2003 a julho de 2004 o governo
havia submetido 92 medidas provisórias a votação na Câmara e
perdido apenas uma vez.
No segundo semestre de 2004,
quando o dinheiro do "valerioduto" começou a rarear, a situação
mudou.
De 23 votações, em 15 o governo
perdeu. O desempenho do governo continuou ruim no primeiro
semestre de 2005. Em 19 votações,
houve oito derrotas.
Em junho do ano passado, o ex-deputado Roberto Jefferson
(PTB-RJ) denunciou à Folha um
esquema do pagamento de um
"mensalão" a integrantes da base
aliada em troca de apoio em votações no Congresso.
O governo assistiu a 23 derrotas
em um período de um ano. Uma
performance muito diferente daquela que vinha tendo: havia passado 18 meses com apenas uma
derrota registrada.
No período em que o governo
venceu quase todas as votações de
medidas provisórias na Câmara
-os 18 primeiros meses de mandato do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva-, o esquema do
caixa dois montado pelo ex-tesoureiro nacional do PT Delúbio
Soares funcionou a pleno vapor.
Naquele ano e meio, mais de R$
45 milhões já haviam sido distribuídos aos partidos aliados, do
total de R$ 55 milhões que o publicitário mineiro Marcos Valério
Fernandes de Souza diz ter obtido
em bancos com o objetivo de financiar o esquema petista.
Dos sete empréstimos voltados
para o esquema, seis ocorreram
antes de julho de 2004.
O dinheiro foi entregue principalmente ao longo de 2003 e no
início de 2004, numa fase que a
versão oficial Valério-Delúbio
chamou de "gastos pré-eleitorais", em supostos preparativos
para a campanha de 2004.
Escassez
A quebra do sigilo bancário das
empresas de Valério, em poder da
CPI dos Correios, revelou que data de 14 de julho de 2004 o último
empréstimo bancário tomado
por Valério com o objetivo de formar um caixa dois para distribuição de recursos aos partidos aliados (R$ 3,5 milhões do banco
BMG para a empresa SMPB Comunicação).
Foi também no segundo semestre de 2004, em setembro, que o
"Jornal do Brasil" publicou reportagem revelando a existência de
um suposto pagamento a parlamentares ordenado pelo Palácio
do Planalto.
Uma semana depois dessa reportagem, em 1º de outubro de
2004, ocorreu o último repasse de
dinheiro aos partidos registrado
pelo valerioduto, conforme a lista
entregue em junho por Valério à
CPI e à Polícia Federal.
Coincidentemente, a partir daquele segundo semestre o governo revelou-se desastrado nas votações das medidas provisórias,
segundo os dados coletados pela
liderança do PFL.
De julho de 2004 a dezembro de
2005, o governo submeteu 62 medidas provisórias a votação na Câmara dos Deputados e perdeu 29
vezes -em contraste com as 91
vitórias e uma única derrota registradas entre janeiro de 2003 e
julho de 2004.
Para aprovar uma medida provisória é necessária maioria simples na votação na Câmara.
A pesquisa realizada pelo PFL
abrangeu 154 votações de medidas provisórias desde o começo
do governo Lula, em 2003.
(RUBENS VALENTE)
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