São Paulo, domingo, 15 de janeiro de 2006

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ VALERIODUTO

Término do esquema de distribuição de recursos a aliados coincide com dificuldade em aprovar medidas provisórias na Câmara

Sem repasses, governo coleciona derrotas

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O fim dos repasses do esquema de caixa dois do PT para parlamentares da base aliada do governo Lula no Congresso coincidiu com um aumento expressivo das derrotas do governo em votações de medidas provisórias na Câmara dos Deputados, segundo revelou um levantamento da liderança do PFL no Senado.
De acordo com a pesquisa feita pelos oposicionistas, de janeiro de 2003 a julho de 2004 o governo havia submetido 92 medidas provisórias a votação na Câmara e perdido apenas uma vez.
No segundo semestre de 2004, quando o dinheiro do "valerioduto" começou a rarear, a situação mudou.
De 23 votações, em 15 o governo perdeu. O desempenho do governo continuou ruim no primeiro semestre de 2005. Em 19 votações, houve oito derrotas.
Em junho do ano passado, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) denunciou à Folha um esquema do pagamento de um "mensalão" a integrantes da base aliada em troca de apoio em votações no Congresso.
O governo assistiu a 23 derrotas em um período de um ano. Uma performance muito diferente daquela que vinha tendo: havia passado 18 meses com apenas uma derrota registrada.
No período em que o governo venceu quase todas as votações de medidas provisórias na Câmara -os 18 primeiros meses de mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva-, o esquema do caixa dois montado pelo ex-tesoureiro nacional do PT Delúbio Soares funcionou a pleno vapor.
Naquele ano e meio, mais de R$ 45 milhões já haviam sido distribuídos aos partidos aliados, do total de R$ 55 milhões que o publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza diz ter obtido em bancos com o objetivo de financiar o esquema petista.
Dos sete empréstimos voltados para o esquema, seis ocorreram antes de julho de 2004.
O dinheiro foi entregue principalmente ao longo de 2003 e no início de 2004, numa fase que a versão oficial Valério-Delúbio chamou de "gastos pré-eleitorais", em supostos preparativos para a campanha de 2004.

Escassez
A quebra do sigilo bancário das empresas de Valério, em poder da CPI dos Correios, revelou que data de 14 de julho de 2004 o último empréstimo bancário tomado por Valério com o objetivo de formar um caixa dois para distribuição de recursos aos partidos aliados (R$ 3,5 milhões do banco BMG para a empresa SMPB Comunicação).
Foi também no segundo semestre de 2004, em setembro, que o "Jornal do Brasil" publicou reportagem revelando a existência de um suposto pagamento a parlamentares ordenado pelo Palácio do Planalto.
Uma semana depois dessa reportagem, em 1º de outubro de 2004, ocorreu o último repasse de dinheiro aos partidos registrado pelo valerioduto, conforme a lista entregue em junho por Valério à CPI e à Polícia Federal.
Coincidentemente, a partir daquele segundo semestre o governo revelou-se desastrado nas votações das medidas provisórias, segundo os dados coletados pela liderança do PFL.
De julho de 2004 a dezembro de 2005, o governo submeteu 62 medidas provisórias a votação na Câmara dos Deputados e perdeu 29 vezes -em contraste com as 91 vitórias e uma única derrota registradas entre janeiro de 2003 e julho de 2004.
Para aprovar uma medida provisória é necessária maioria simples na votação na Câmara.
A pesquisa realizada pelo PFL abrangeu 154 votações de medidas provisórias desde o começo do governo Lula, em 2003.
(RUBENS VALENTE)


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