|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LINHA CRUZADA
Empresa questionará atuação do grupo Opportunity na contratação do advogado
Brasil Telecom vai à Justiça contra Mangabeira
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
A Brasil Telecom vai entrar nos
próximos dias com ações na Justiça e com uma representação na
CVM (Comissão de Valores Mobiliários) contra os ex-administradores da empresa (leia-se grupo Opportunity) questionando a
contratação e atuação do advogado Roberto Mangabeira Unger,
além das quantias pagas a ele na
defesa dos interesses da tele. A
BrT também prepara ações contra o próprio Mangabeira Unger.
A Folha obteve documentos
mostrando que Mangabeira Unger atuava em duas frentes na
Brasil Telecom. Foi consultor da
empresa e atuou como "trustee"
da companhia, recebendo cerca
de US$ 2 milhões pelas funções.
O "trustee" é uma figura jurídica que existe nos EUA mas não é
reconhecida no Brasil e trabalha
para um beneficiário com um determinado fim. O objetivo desse
contrato de "trustee", ainda em
vigor, era o gerenciamento, por
Mangabeira, das ações judiciais
da Brasil Telecom contra a Telecom Italia e os fundos de pensão
Previ, Petros e Telos.
Nessa função de "trustee",
Mangabeira Unger participou de
algumas reuniões com a Kroll,
que foi contratada pela Brasil Telecom em 2002 para investigar supostas ações irregulares cometidas pela Telecom Italia que teriam
causado prejuízos à companhia.
Mangabeira Unger confirmou à
Folha as reuniões, mas disse que
nunca, nos encontros, se falou de
investigações sobre pessoas do
governo (leia texto nesta página).
Procurado, o grupo Opportunity
disse que não irá se pronunciar.
Postulante a uma candidatura à
Presidência da República, Mangabeira Unger se filiou no ano
passado ao PRB (Partido Republicano Brasileiro), partido do vice-presidente José Alencar. Professor da Universidade de Harvard
(EUA), ele é advogado, cientista
social e filósofo e escreve regularmente na Folha às terças-feiras.
Mangabeira Unger atuou como
consultor da Brasil Telecom entre
2002 e 2005, e, por essa função, recebeu US$ 1,176 milhão. Não estão contabilizadas despesas de
hospedagem e refeição e o aluguel
de um apartamento no Rio. Em
passagens, a BrT pagou US$ 269
mil nos anos de 2003, 2004 e 2005.
No mesmo período, a Brasil Telecom também pagou US$ 675
mil ao "trust" administrado por
Mangabeira Unger.
A nova administração da BrT vê
vários problemas na atuação de
Mangabeira Unger. Em primeiro
lugar, o fato de, apesar de contratado como consultor, não ter sido
encontrado na empresa nenhum
trabalho elaborado por ele.
Diante disso, o departamento
jurídico da BrT estuda ações contra os ex-administradores, cobrando responsabilidades na
contratação de Mangabeira Unger. O objetivo principal é obter a
devolução do dinheiro pago a ele.
Há possibilidade de as ações serem movidas tanto no Brasil como nos Estados Unidos, onde foi
constituído o "trust" gerenciado
por Mangabeira Unger.
Ainda segundo os novos gestores da BrT, há indícios de que, como "trustee", Mangabeira Unger
tenha atuado para defender interesses do grupo Opportunity em
detrimento dos da Brasil Telecom, apesar de contratado pela
empresa de telefonia. Nesse caso,
o indício é o fato de ele não ter se
pronunciado até hoje em relação
à extinção das ações judiciais da
BrT contra a Telecom Italia.
A extinção das ações ocorreu logo depois de o Opportunity ter
firmado, em 28 de abril de 2005,
acordo com a Telecom Italia para
tentar transferir o controle da BrT
aos italianos. Para retirar as ações
contra a Telecom Italia, o Opportunity recebeu US$ 65 milhões.
Para a nova administração da
BrT, o fato de Mangabeira Unger
não ter se pronunciado sobre essa
extinção das ações configura conflito de interesse, já que o suposto
prejuízo da empresa de telefonia
com a compra da CRT não foi ressarcido e tampouco a investigação sobre esse caso foi concluída.
Texto Anterior: PT foi menos fiel a Lula do que base aliada, diz estudo Próximo Texto: Outro lado: "Nunca beneficiei Daniel Dantas", afirma filósofo Índice
|