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CONGRESSO
Presidente qualifica pefelista como "líder experiente, leal, um amigo que ajudou muito"
FHC quer recompor base e se reconciliar com Inocêncio
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Fernando Henrique Cardoso nem esperou o resultado das eleições de ontem e
jogou um anzol para o líder do
PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), que perdeu para o tucano
Aécio Neves (MG) na Câmara. O
principal alvo é o PFL, o grande
derrotado do processo.
"Meu impulso é telefonar agora
para o Inocêncio e dizer: "O meu
governo precisa de você'", afirmou FHC numa conversa com a
Folha, na terça-feira à noite, véspera da eleição, em seu gabinete.
Inocêncio, segundo ele, "é um
líder experiente, leal, um amigo
que ajudou muito o governo". E
ratifica: "Eu reconheço isso".
Na reta final da campanha, Inocêncio deu entrevista à Folha destilando mágoa em relação a FHC.
Declarou-se "candidato de oposição" e disse que estava "desembarcando do governo".
Prometeu ainda que, se vencesse, não pisaria no Planalto durante os dois anos na presidência da
Câmara. "Se alguém me vir lá, pode me chamar de homem sem caráter, sem moral", disse.
FHC, porém, releva: "São coisas
do calor da campanha..."
O alvo de FHC é um peixe bem
maior do que Inocêncio: o "PFL
do B", comandado pelo vice-presidente da República, Marco Maciel, e pelo presidente da legenda,
senador Jorge Bornhausen (SC).
"Desde Tancredo (ex-presidente Tancredo Neves) e da Constituinte, tenho ótimas relações com
eles. O Marco tem sido um vice irrepreensível. O Bornhausen é um
amigo", disse o presidente.
Os dois, Maciel e Bornhausen,
atribuem a retumbante derrota
do PFL -que pela primeira vez
fica sem uma das duas presidências do Congresso- ao senador
Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), que começou a crise ao vetar
o nome de Jader Barbalho
(PMDB-PA) para a sucessão.
"Todo mundo sabe que a confusão nasceu lá no Congresso, entre
eles. Não aqui, comigo", diz FHC.
Reforma ministerial
Apesar disso, nega que pretenda
fazer uma reforma ministerial para tirar um dos dois ministros do
PFL da Bahia, ambos ligados a
ACM: Waldeck Ornélas (Previdência) ou Rodolpho Tourinho
(Minas e Energia).
Conforme a Folha apurou, uma
das idéias seria a fusão dos ministérios de Minas e Energia, Transportes e Comunicações numa
única pasta, a da Infra-Estrutura.
Com isso, o Planalto tiraria de
uma só tocada, respectivamente,
o pefelista Tourinho, o peemedebista Eliseu Padilha, que ganharia
um outro cargo, e o tucano Pimenta da Veiga, pré-candidato a
presidente do PSDB.
Reação de FHC: "Eu não vou fazer reforma ministerial nenhuma.
Para que inventar uma reforma
ministerial agora?".
No esforço para manter a sempre questionada versão de neutralidade na disputa e tentar manter
unida sua complexa base, o presidente insistiu todo o tempo que
só ouvia candidatos e partidos,
sem estimular nem uns nem outros. Inclusive Aécio e o PSDB.
Contou que ele e Inocêncio se
encontraram numa solenidade
no Itamaraty no final do ano passado e o pefelista, na época favorito, lhe declarou: "Vou ganhar".
"Mas ele não pediu apoio, só queria neutralidade", disse FHC.
A mesma neutralidade, apesar
de versões em contrário em todos
os partidos, ele jura que manteve
do início ao fim da campanha.
"Alguma vez estimulei o Aécio?
Quando ele me comunicou que
seria candidato, eu lhe dei um tapinha nas costas e foi isso. E, olha,
ele é do meu partido e tenho muito apreço por ele", disse.
"Eu sabia que daria a maior
confusão. Não estimulei o Aécio,
mas não poderia estiolar (enfraquecer) o PSDB. Não poderia dizer: "Tira o Aécio". Primeiro, porque não é meu estilo. Segundo,
porque é uma questão do partido,
não minha".
Confusão
A "neutralidade", segundo o
presidente, deu certo: "Imagine se
eu tivesse me metido nessa confusão? Agora, ia aparecer até quem
me culpasse por essas fitas", disse,
referindo-se ao "grampo" de deputados baianos dando a entender que trocaram o PFL pelo
PMDB por dinheiro.
Na mesma terça-feira em que
conversava com a Folha, FHC recebeu um telefonema do senador
e seu ex-ministro da Agricultura
Arlindo Porto (PTB-MG), comunicando que aceitara ser a "terceira via" articulada pelo PFL contra
Jader e Jefferson Péres (PDT), o
candidato da oposição.
O presidente mais ouviu do que
falou: "Sim", "ótimo", "boa sorte". Depois, comparou: "Todos
me ligaram, e eu falei desse mesmo jeito com todos eles".
Ele também admitiu que houve
articulações em diferentes direções. Diz que ouviu atentamente
todas, mas não se meteu.
FHC desautorizava, assim, notícias de que teria jogado a favor do
acordo PMDB-PSDB e, portanto,
das candidaturas de Jader no Senado e de Aécio na Câmara.
Na véspera da eleição, ainda diziam no Congresso que ele havia
telefonado para governadores
aliados pedindo interferência a favor de Jader. Uns falavam em José
Ignácio Ferreira, do Espírito Santo. Outros, nos governadores de
Tocantins, Siqueira Campos, e de
Roraima, Neudo Campos. "Eu?
Isso é uma mentira!", reagiu.
A "neutralidade" vai servir de
trunfo para recompor a trincada
base governista.
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