São Paulo, quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/CONEXÃO TUCANA

Secretário de Estado de Minas e deputado foram avalistas de R$ 700 mil tomados pela então agência de Valério no Banco Rural em 2004

Tucanos avalizaram empréstimo da SMPB

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dois tucanos mineiros -o secretário de Estado de Governo de Minas Gerais, Danilo de Castro, e o presidente da Assembléia Legislativa mineira, deputado Mauri Torres- foram avalistas de empréstimo de R$ 700 mil que a agência SMPB tomou no Banco Rural em novembro de 2004, após as eleições municipais.
A agência estava sob o comando do empresário Marcos Valério de Souza, que assumiu em depoimentos ao Ministério Público, à Polícia Federal e à CPI dos Correios ter contraído empréstimos para alimentar campanhas.
Castro e Torres, que fazem parceria em campanhas para deputado federal e estadual, são aliados do governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB).
O secretário disse à Folha, por meio de sua assessoria, ter avalizado o empréstimo a pedido do deputado Mauri Torres, que "queria ajudar" o "amigo" Ramon Cardoso, sócio da SMPB.
O deputado confirmou essa versão à Folha, também por meio de sua assessoria. Marcos Valério disse, segundo sua assessoria, que só voltará a falar com a imprensa após a conclusão da CPI.
Em 2002, além de ser um dos coordenadores da campanha de Aécio, Castro elegeu-se deputado federal pela terceira vez. Licenciou-se do cargo para assumir a Secretaria de Estado de Governo.
Ao Tribunal Regional Eleitoral declarou ter recebido R$ 577,71 mil em contribuições em 2002. O Rural foi o segundo maior doador -R$ 150 mil ou 17% do total.
Reeleito deputado estadual em 2002, no ano seguinte Torres assumiu a presidência da Assembléia Legislativa de Minas. Em 2005, foi reconduzido ao cargo.
Os dados do empréstimo constam do depoimento da presidente do Rural, Kátia Rabello, à PF. No documento enviado à CPI, ela disse não se lembrar da transação. Em 2005, os tucanos saíram do negócio, e o banco rolou a dívida. O empréstimo foi quitado no mesmo ano, com recursos de investimentos que as empresas de Valério tinham no Rural.

Cobrança
A negociação da pendência deu-se em meio a disputas judiciais. O Rural cobrava do empresário o pagamento de empréstimos vencidos. Valério tentava resgatar aplicações que tinha no banco como lastro para seus contratos com a administração pública.
Conforme dados da CPI e dos inquéritos policiais que investigam o "mensalão" e um caixa dois praticado em eleição mineira, a sistemática de empréstimos patrocinados por Valério é recorrente quando se trata de buscar recursos para campanhas.
À PF Valério afirmou que, em 1998, tomou um empréstimo de R$ 9 milhões no Rural. O dinheiro, segundo ele, foi usado na frustrada campanha de reeleição do senador tucano Eduardo Azeredo ao governo de Minas. A operação foi confirmada pelo então tesoureiro da campanha, Cláudio Mourão. Azeredo nega ter tido conhecimento. Valério também diz ter lastreado em empréstimos de R$ 55,9 milhões o dinheiro repassado a petistas e aliados do governo ao longo de 2003 e 2004.


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