São Paulo, quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007

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Comissões da Câmara são ocupadas por nomes envolvidos em escândalos

Deputados ligados ao mensalão e à máfia dos sanguessugas ganham vagas em grupos de trabalho

Uma das mais importantes da Casa, CCJ terá Maluf, João Paulo, Genoino e Mentor; acusado de violar sigilo, Palocci está em Finanças


SILVIO NAVARRO
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Deputados acusados de envolvimento nos escândalos do mensalão e dos sanguessugas na legislatura passada foram nomeados ontem para atuarem como titulares das principais comissões da Câmara.
O caso mais emblemático é o da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), considerada a mais importante da Casa, por ter o poder de avalizar ou barrar projetos de lei antes de sua chegada ao plenário.
Neste ano, ganharam assento como titulares da comissão os petistas João Paulo Cunha (SP), José Mentor (SP) e José Genoino (SP), todos acusados de envolvimento com o mensalão. João Paulo e Mentor foram absolvidos pelo plenário. Genoino estava sem mandato na época das acusações.
"Eles foram absolvidos pelo plenário e pela sociedade, o que é mais importante. Não posso considerar a existência de deputados de primeira e segunda categoria", defendeu o líder do PT, Luiz Sérgio (RJ).
Outros parlamentares que enfrentaram denúncias de corrupção, entre eles o ex-prefeito Paulo Maluf (PP-SP), também integram a comissão. Em 2005, ele ficou 40 dias preso, acusado de intimidar uma testemunha. Maluf foi denunciado por crimes de corrupção. "Ninguém em São Paulo tem mais autoridade moral para auditar ou melhorar leis. Tenho 40 anos de vida pública e nenhuma condenação penal", afirmou Maluf.
A polêmica na CCJ começa pelo presidente da comissão. Leonardo Picciani (PMDB-RJ), 27, foi eleito sem unanimidade -houve oito votos nulos e dois brancos. Formado há poucos anos em direito e deputado federal em segundo mandato, ele foi criticado ontem nos bastidores por parlamentares de diferentes partidos.
Mas o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) foi um dos únicos a assumir publicamente a contrariedade à indicação: "A questão [em relação a Picciani] não é etária. É ética".
Filho do presidente da Assembléia do Rio, Jorge Picciani (PMDB), o novo presidente da CCJ é sócio de uma fazenda autuada pelo Ministério Público do Trabalho por trabalho escravo em 2003 -após acordo de R$ 250 mil, a ação foi extinta. A escolha de Picciani, que prometeu dar prioridade aos projetos da área de segurança pública, teve a indicação do governador do Rio, Sérgio Cabral.
"A indicação foi política porque aqui é uma Casa política, mas baseada na minha atuação técnica como relator de projetos", argumentou Picciani.
Picciani não é o único integrante da bancada fluminense do PMDB a gerar polêmica. Geraldo Pudim, ligado ao ex-governador Anthony Gartotinho e acusado de suposta compra de votos, também integrará a CCJ, que terá ainda ao menos cinco novatos como titulares.

Finanças
Segunda mais importante no "ranking" da Casa, a Comissão de Finanças será dirigida por Virgílio Guimarães (MG), que venceu uma acirrada disputa interna no PT. Virgílio enfrentou resistência de parte da bancada após ter sido responsabilizado por levar o empresário Marcos Valério de Souza, apontado como operador do mensalão, à ex-direção do PT.
Além disso, sua candidatura à revelia do partido culminou na vitória de Severino Cavalcanti (PP-PE) à presidência da Câmara em 2005.
Também integram a comissão o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, que deixou o cargo após suspeita de que ele seria o mandante da violação do sigilo bancário de um caseiro, e João Magalhães (PMDB-MG), acusado de envolvimento no esquema dos sanguessugas.
Outros acusados de ligação com a máfia dos sanguessugas também desempenharão papéis relevantes: Wellington Fagundes (PR-MT) presidirá a comissão de Desenvolvimento Econômico, e Marcondes Gadelha (PSB-PB) faturou lugar na de Relações Exteriores.
Outra comissão que reúne acusados de participar do escândalo do mensalão é a do Trabalho, onde ganharam cadeiras de titulares Paulo Rocha (PT-PA), Sandro Mabel (PR-GO) e Pedro Henry (PP-MT) -também investigado na máfia das ambulâncias. Mabel e Henry foram absolvidos pela Câmara, e Rocha renunciou.
Na comissão de Agricultura, estará o petista Beto Faro (PA), que chegou a ser preso em 2003 pela Operação Faroeste da Polícia Federal. À época, ele foi acusado de chefiar esquema de propina para regularizar terras griladas para madeireiros.
O pefelista Jorge Tadeu Mudalen (SP), que enfrentou a CPI dos "Anões do Orçamento", no governo Itamar, comandará a Comissão de Seguridade Social.


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