São Paulo, sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

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Painel

RENATA LO PRETE - painel@uol.com.br

Guerra Fria

Embora prefiram não ter de usar o arsenal, os governistas envolvidos na criação da CPI dos cartões corporativos já armazenam dados sobre gastos realizados por autoridades na gestão FHC. Descobriram, por exemplo, que um ministro da era tucana tinha por hábito passar os fins de semana no Rio de Janeiro -não raro saindo de Brasília na sexta e voltando apenas na segunda ou terça- e lançar todas as suas despesas numa conta "tipo B". A fatura apresentada incluía hotel de primeira linha, carro com motorista (sob a rubrica "transporte executivo") e até mesmo as pastilhas Tic-Tac consumidas durante os dias de descanso. "Se abrir esse baú, a Matilde vira uma freira franciscana", afirma um líder da base aliada.

Barafunda 1. A confusão com os gastos é tão grande que a maioria dos cartões corporativos de assessores da Secretaria da Pesca é cedida pelo Ministério da Agricultura.

Barafunda 2. Superintendentes estaduais da Pesca dispõem de cartões. No governo Lula, a área foi desmembrada da pasta da Agricultura, mas não obteve autonomia para emiti-los em larga escala.

É com ela. Líderes aliados lembram que, por se tratar de uma CPI mista, a coordenação da atuação dos deputados e senadores da base deveria ficar a cargo de Roseana Sarney (PMDB-MA), a líder do governo no Congresso. Por ora, Henrique Fontana (PT-RS) e Romero Jucá (PMDB-RR) é que estão à frente da tropa.

Uníssono. O governo padronizou suas entrevistas: o ministro Paulo Bernardo (Planejamento), o líder do PT, Maurício Rands (PE), e o relator indicado da CPI, Luiz Sérgio (PT-RJ), repetiram que o comportamento da gestão Lula é diferente do de José Serra (PSDB), que "tenta abafar" CPI em São Paulo.

Padrão 1. Petistas da Assembléia paulista estão debruçados sobre os gastos de um investigador da Delegacia Seccional de São José dos Campos com cartões numa oficina da cidade, a Fitcar. De agosto a dezembro de 2007, ele pagou quantias que variavam de R$ 8.000 a R$ 10 mil, sempre em cifras redondas.

Padrão 2. A Secretaria de Segurança Pública do governo paulista diz que os pagamentos se referem a consertos de carros de polícia. E não vê problemas nas cifras redondas e quase sempre do mesmo valor. "A verba autorizada para a manutenção das viaturas é de R$ 16 mil", afirma a pasta.

Blockbuster. O assessor presidencial Marco Aurélio Garcia submeteu os convidados do Aerolula, na volta da Guiana, a uma hora e meia de documentário feito pela TV canadense sobre a política externa do governo petista.

Musas. Não foi só o rio São Francisco que capturou a atenção dos senadores ontem, na tumultuada audiência sobre a transposição. Enquanto corria o debate, veteranos da CPI de PC Farias promoviam uma enquete: Letícia Sabatella hoje ou Tereza Collor então? Deu Tereza na cabeça.

Rebelde. Dilma Rousseff foi surpreendida por Beto Albuquerque (PSB-RS) na reunião do conselho político. O vice-líder na Câmara reclamou da exclusão da duplicação de uma rodovia gaúcha das prioridades do PAC. A ministra não gostou. Quase virou bate-boca.

Autógrafo. Presidente da CUT, Artur Henrique aproveitou a concentração de parlamentares na festa de aniversário do PT, anteontem em Brasília, para recolher assinaturas pró-redução da jornada de trabalho. Conseguiu 25.

Letras. O escritor Jorge Caldeira, autor de "Mauá, Empresário do Império", foi eleito para a Academia Paulista de Letras. O ex-governador Cláudio Lembo (DEM), que também concorria à vaga, desistiu na manhã de ontem.

Tiroteio

"É o sacrifício da ética, do decoro e dos recursos públicos no altar da impunidade."


Do filósofo ROBERTO ROMANO sobre o ex-deputado Bispo Rodrigues, do PR, que ao final de seu depoimento à Justiça dentro do inquérito do mensalão disse que a vida de parlamentar "é um sacrifício".

Contraponto

Pela tangente

Mentor da audiência pública sobre a transposição do rio São Francisco realizada no Senado, Eduardo Suplicy (PT-SP) assistiu de camarote à acalorada discussão que teve, de um lado, o ministro Geddel Vieira Lima e seu antecessor, Ciro Gomes, e, de outro, adversários da obra como dom Luiz Cappio e a atriz Letícia Sabatella.
Passadas seis horas, Suplicy ia encerrar o tiroteio quando foi interrompido por Heráclito Fortes (DEM-PI):
-Senador, a sessão não pode terminar sem que saibamos: afinal, o senhor é contra ou a favor da transposição?
Sorrindo amarelo, Suplicy respondeu:
-Como presidente não devo me manifestar, mas quero ir até a região de Barra para conhecer a realidade local...


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