São Paulo, sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

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Sessão sobre transposição no Senado acaba em bate-boca

Ex-ministro Ciro Gomes, favorável à obra, e Letícia Sabatella, contrária, discutem

Acusado pela atriz como um dos deputados que mais faltam, Ciro diz que foi o mais votado do país; d. Luiz Cappio esteve presente à audiência

ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Defensores e críticos da transposição do rio São Francisco travaram um duelo verbal ontem no plenário do Senado. Enquanto aliados do governo defendiam a obra, artistas e o bispo de Barra (BA), dom Luiz Cappio, que por duas vezes fez greve de fome para tentar impedir o projeto, acusaram a gestão petista de insistir na obra para atender a interesses de empreiteiras.
O ex-ministro da Integração Nacional e deputado federal Ciro Gomes (PSB) bateu boca com a atriz Letícia Sabatella, uma das principais vozes contrárias à transposição, e acusou dom Luiz de se considerar "intérprete superior do valor moral", quando coloca os que são a favor da transposição como "movidos por interesses subalternos", aproveitando-se de sua condição religiosa.
"Eu não estou movido por interesses subalternos. Eu estou, equivocadamente ou não, movido pelo mais superior interesse público. Eu não falo por Deus, falo pelo mundanismo dos pecadores como eu sou um deles", disse Ciro, pedindo que o bispo o encarasse. "Não vou responder ao Ciro Gomes.
Quem desconsidera o debatedor, desconsidera o debate", disse d. Luiz. "Não colocaria conotação moral no debate." Ao lembrar que a transposição já está em andamento, Ciro, pré-candidato a presidente em 2010, observou que o esforço agora deve ser para recuperar a área, plantando mudas, por exemplo. E se comparou a Letícia Sabatella que, embora em lado diferente, luta por suas convicções. "Eu, ao meu jeito, escolhi a opção de meter a mão na massa, às vezes suja de cocô, às vezes, mas minha cabeça, não, meu compromisso, não."
O ex-ministro afirmou ainda que os críticos do projeto precisam "tomar juízo" e, sem citar nomes, avisou que "não tem respeito" por alguns dos que se posicionam contra a obra porque "eles não agem de boa-fé". Encerrada a audiência pública, Ciro procurou Sabatella e os atores Carlos Vereza e Osmar Prado, também presentes, para continuar o debate. E não gostou quando a atriz se referiu a ele como senhor. "Nós nos conhecemos desde o seu primeiro trabalho, por que essa formalidade?", questionou. "Porque não temos intimidade", retrucou a atriz. E emendou: "Li no jornal que o senhor é um dos que mais faltam ao Congresso".
Novo embate: "Eu sou o deputado mais votado do país [proporcionalmente, foi o que teve mais votos para a Câmara em 2006]. Hoje levei falta na Câmara e estou aqui no Senado".

O ministro
O titular da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), participou do início da audiência, convocada pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP). Ele negou que o fato de a iniciativa ter partido de um governista o tenha irritado. "O meu problema é que tinha um compromisso hoje cedo em Fortaleza." Geddel trocou farpas com César Borges (PTB-BA), seu adversário no Estado, que lhe cobrou coerência. "O ministro sempre se colocou contra o projeto, mas mudou de opinião pelo "Diário Oficial"." "Todo mundo pode mudar. Não posso acreditar que seja pelo "Diário Oficial" que Vossa Excelência mudou de partido [o DEM pelo PTB] e passou a apoiar o governo", rebateu Geddel. Segundo ele, nos próximos dias será lançado mais um lote para licitação, e o presidente Lula deve visitar as obras.
Ontem, o plenário da Câmara aprovou medida provisória liberando R$ 185 milhões para o projeto. "Evidentemente que a obra vai beneficiar as empreiteiras. O que interessa é se estão sendo beneficiadas de forma correta ou não", afirmou.


Colaborou ADRIANO CEOLIN, da Sucursal de Brasília


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