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Pragmático, "MST tucano" compra lote e cita mercado
Associação dos Trabalhadores Sem Terra de SP reúne cerca de 100 mil pessoas
Inicialmente ligados ao PT,
líderes passaram a se aliar a
tucanos; ações são criticadas
por outros movimentos por
"amenizarem luta de classes"
FERNANDO BARROS DE MELLO
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os líderes da Associação dos
Trabalhadores Sem Terra do
Estado de São Paulo se orgulham, em tom de brincadeira,
de provavelmente serem um
dos maiores latifundiários da
capital paulista.
Apesar de liderar cerca de
100 mil pessoas num movimento por habitação urbana, o
casal Marcos, 46, e Cleuza Zerbini, 54, diz não acreditar "em
ideologia" e explica os resultados de sua organização -que já
conseguiu moradia para mais
de 17 mil famílias na periferia-
com uma referência incomum
em movimentos sociais: "É
uma questão de lei de mercado.
Para grandes áreas de terra, você não tem muita procura".
Explica-se: a associação, que
existe desde 1986, não invade
terrenos abandonados nem
exige do poder público que dê
moradia a seus militantes. Em
vez disso, usa pequenas poupanças familiares -"são economias individuais, não se trata
de cooperativa"- reunidas em
grande quantidade para comprarem amplos lotes e depois
dividi-los entre os militantes.
"Somos contra ocupar. Ocupação é construir uma nova favela", diz Cleuza.
Como a maioria dos líderes
sociais do país, ela e o marido
iniciaram sua militância nas
pastorais da Igreja Católica e
no PT. Hoje, além de pragmáticos, são ligados ao PSDB paulista -Marcos Zerbini é deputado
estadual pela sigla- e ao movimento católico Comunhão e
Libertação, que apoia o papa
Bento 16 e é crítico da igreja
mais progressista, identificada
com a Teologia da Libertação.
Neste domingo, o maior movimento social "de base" do
PSDB reunirá 10 mil pessoas no
ginásio do Ibirapuera para ouvir o líder internacional de Comunhão e Libertação, padre
Julián Carrón, que visita o país.
Rupturas
O caminho até a configuração atual do movimento foi
marcado por rupturas com a
esquerda e por uma aliança
pragmática com os governos
tucanos do Estado.
"No final dos anos 80, decidimos não participar de uma
grande ocupação", diz Marcos.
"A pessoa, quando participa de
uma ocupação, abandona o aluguel que pagava, geralmente
em alguma favela. Quando é
despejada, não tem onde ficar.
Decidimos então que preferíamos tentar comprar a terra."
A primeira iniciativa reuniu
18 famílias, e um terreno na zona norte da capital foi comprado ao custo de menos de dois
salários mínimos por lote. Hoje
a maior parte das áreas compradas pela associação fica próxima ao quilômetro 23 da rodovia Anhanguera. A maioria das
casas é simples. Muitas têm
acabamento e pintura externa.
Há pontos de ônibus, calçamento, creches e escolas em
parceria com os governos municipal e estadual. O cenário é
de um bairro pobre que escapa,
por pouco, da imagem que se
costuma ter de uma favela.
Marcos e Cleuza dizem ter
recebido críticas de setores da
igreja e de movimentos populares por "amenizarem a luta de
classes". Buscaram parcerias
com governos, que ganharam
intensidade na administração
Mario Covas (1995-2001).
Outra frente "pragmática" de
atuação do grupo é a negociação de descontos para jovens
integrantes da associação em
faculdades privadas. O princípio é similar ao da compra de
terra em grandes lotes: "Se eles
têm muitas vagas ociosas, e nós
temos os alunos, por que não
negociar?", questiona Marcos.
Por esse método, têm hoje
"parcerias" com 16 instituições.
O modelo não escapa de críticas. O MTST (Movimento dos
Trabalhadores Sem Teto), por
exemplo, defende a ocupação
de terrenos e estampa em letras garrafais em seu site aviso
de que não tem convênio com
faculdades. "Lutamos por uma
educação pública, gratuita e de
qualidade" diz o MTST, marcando diferenças.
Deputados do PT também
afirmam que o governo do Estado tem condições de fornecer
moradia à população carente e
que as pessoas não teriam que
comprar os terrenos. "Especialmente os mais pobres já pagam impostos estaduais para
que o governo invista em habitação, o que muitas vezes é contigenciado. Portanto, estão pagando duas vezes", diz o deputado estadual Simão Pedro.
"Em 2007, houve um corte
de R$ 305 milhões. Em 2008,
de R$ 288 milhões. Desse modo, somente nos dois anos da
gestão Serra deixou-se de aplicar mais de R$ 594 milhões, o
que daria para construir aproximadamente 15 mil casas."
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