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SOMBRA NO PLANALTO
Oposição afirma que, com dado novo, vai ao Supremo para tentar instalar a CPI
Governo sustenta que não existe crime no caso Buratti
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo se apega à informação de executivos da multinacional GTech -de que teriam recusado pagamento de propina na
intermediação de um contrato
milionário com a Caixa Econômica Federal- para barrar uma nova tentativa de instalar uma CPI
(Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar indícios
de tráfico de influência, já articulada pela oposição.
O presidente do PFL, Jorge Bornhausen, disse ontem que recorrerá nos próximos dias ao STF
(Supremo Tribunal Federal) para
tentar garantir o que considera direito da minoria política no Congresso. Ele quer que o Supremo
garanta o funcionamento da CPI
dos Bingos, que está sendo arquivada no Senado porque os líderes
governistas deixaram de indicar
seus membros.
Já o PSDB vai insistir na coleta
de assinaturas para criar uma CPI
específica para investigar o caso
Waldomiro Diniz. Os tucanos
dão como certas e imediatas as
adesões de pelo menos 22 dos 81
senadores, embora admita que
não saiba quanto tempo será necessário para chegar aos 27 nomes
necessários.
Na sua estratégia para se contrapor a oposição, o governo sustenta a tese de que, se não houve pagamento de propina, não foi caracterizada corrupção: eis o principal argumento para limitar as
investigações à Polícia Federal e
ao Ministério Público.
Além disso, o governo investe
para distanciar a atuação do novo
personagem do caso -Rogério
Buratti, um ex-assessor do então
prefeito Antonio Palocci Filho-
do atual ministro da Fazenda.
Outro argumento que o governo irá utilizar para barrar a CPI é
que a investigação determinada
pelo presidente Luiz Inácio Lula
da Silva estaria sendo feita de forma transparente e rigorosa, o que
dispensaria uma investigação no
Congresso. Os governistas pretendem utilizar exatamente o depoimento dos diretores da GTech
à PF, na última sexta-feira, para
reforçar o discurso anti-CPI.
O ex-presidente da GTech Antônio Carlos Lino Rocha e o diretor de Marketing, Marcelo Rovai,
disseram à PF e ao Ministério Público que o ex-assessor do Planalto Waldomiro Diniz intermediara
a renovação do contrato com a
Caixa para processamento de dados das casas lotéricas.
Antes de a renovação sair, Waldomiro teria indicado a contratação dos serviços de consultoria de
Rogério Buratti, que chegou a se
encontrar com Rocha e Rovai.
O preço chegou a ser negociado
-de um valor inicial entre R$ 15
milhões e R$ 20 milhões, caiu para R$ 6 milhões-, mas o pagamento não foi feito, afirmaram os
executivos e nota da multinacional divulgada na sexta-feira. "A
GTech não forneceu dinheiro ou
outro tipo de vantagem indevida
a qualquer pessoa, empresa ou
partido político com a intenção de
influenciar as negociações com a
Caixa", diz a nota.
Detalhes do depoimento foram
repassados no fim de semana por
integrantes da cúpula política do
governo. A conclusão que tentam
sustentar publicamente é que só
haveria um caso de corrupção se o
pagamento de propina tivesse sido consumado.
O contrato entre Caixa Econômica Federal e GTech foi renovado em abril de 2003 por 25 meses.
Segundo a Caixa, sem interferência política e porque ações judiciais ainda impedem a estatal de
abrir licitação a concorrentes da
GTech.
Na avaliação do governo, não
deve prosperar a iniciativa da
oposição, que insiste em investigar indícios de tráfico de influência na administração petista. Para
articuladores políticos de Lula, a
iniciativa de recorrer ao Supremo
Tribunal Federal limita-se a "espuma em água com sabão".
Os novos depoimentos no caso
animaram a oposição a insistir na
abertura de uma CPI, apesar de o
governo ter conseguido barrar
duas nos últimos dias.
Supremo
O presidente do PFL, senador
Jorge Bornhausen (SC), disse que
apresentará um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal para tentar exigir a indicação de membros dos partidos governistas na composição da CPI.
"Cada vez mais temos de lutar para haver a investigação."
O líder do PSDB no senado, Arthur Virgílio (AM), avalia que a
menção do nome de um ex-assessor do ministro Palocci nos depoimentos põe o governo numa
posição delicada: "Não há dúvida
de que isso é grave, mexe com a
economia, com um ministro que
é visto como sério e importante
para a credibilidade do governo".
Para o presidente do PT, José
Genoino, "não tem cabimento"
envolver o ministro Palocci nas
conversas da GTech com Buratti:
"Faz dez anos que ele (Buratti)
saiu do PT e virou empresário."
Buratti deixou a equipe de Palocci na prefeitura de Ribeirão
Preto em outubro de 94, após suspeitas de favorecimento em obras
públicas. Depois, teve participação em empresas que prestam assessoria a prefeituras petistas, a
Assessorarte e a Leão & Leão.
Reeleito ontem presidente do
PMDB, o deputado Michel Temer
(SP) avaliou que as notícias dos
últimos dias "causam embaraço".
Por ora, o partido, que integra a
base de sustentação do governo,
recusa a idéia de uma CPI.
"É um instrumento excepcional, não pode ser banalizado enquanto não houver envolvimento
direto e comprovado de agentes
públicos", argumenta Temer.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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