São Paulo, segunda-feira, 15 de março de 2004

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Lula afirma que vai mexer e fazer ajustes no governo

VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Lula tem dito em conversas reservadas que, baixada a poeira do caso Waldomiro Diniz, vai "mexer e fazer ajustes no governo", segundo expressão ouvida pela Folha na cúpula do Palácio do Planalto e do PT.
Entre os ajustes, o principal seria um "esvaziamento" da Casa Civil do ex-todo-poderoso ministro José Dirceu, enfraquecido pelo caso Waldomiro. A substituição do ministro da Saúde, Humberto Costa, é outra mexida em estudo.
No quadro de hoje, Lula acha que deve manter o ministro Dirceu no posto. No entanto, quer avaliar, passado um tempo de decantação do caso Waldomiro, qual o tamanho do estrago nas condições para o chefe da Casa Civil continuar a ser o "capitão do time", definição dada pelo presidente antes do caso Waldomiro.
Waldomiro Diniz apareceu em vídeo de 2002 pedindo propina e contribuição de campanha a um empresário do ramo de loterias eletrônicas. Na época, ele presidia a Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro), no governo Benedita da Silva (PT).
Homem da confiança de Dirceu por 12 anos, Waldomiro foi nomeado subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil em 2003. Foi demitido "a pedido" com a revelação do vídeo pela revista "Época", em 13 de fevereiro. Desde então, o governo vive a maior crise em 14 meses da gestão Lula.
Na última sexta-feira, surgiu um novo nome no caso Waldomiro Diniz: o de Rogério Buratti, ex-secretário de Antonio Palocci Filho em seu primeiro mandato (1993-1996) à frente da Prefeitura de Ribeirão Preto (SP).
Em depoimento prestado à Polícia Federal, representantes da multinacional GTech disseram que Waldomiro Diniz teria condicionado a renovação do contrato com a Caixa Econômica Federal à contratação de Buratti.
A novidade pode esquentar novamente a crise, que o governo acreditava estar perdendo força. Agora, no curto prazo, a grande preocupação do presidente Lula é evitar que o nome de seu ministro da Fazenda seja envolvido no caso Waldomiro, o que poderia prejudicar sua política econômica.
Mas Lula avalia que, até para sair da crise, precisa dar uma nova dinâmica a seu governo.
Por isso Lula avaliará as condições de Dirceu para continuar como "capitão do time". Não é sua intenção afastá-lo do governo nem tirá-lo da Casa Civil, mas pelo menos retirar algumas medidas de sua órbita de decisão.
O presidente tem demonstrado insatisfação com o fato de que alguns assuntos chegam à Casa Civil e ficam praticamente engavetados, atrasando o andamento de programas, gerando um grau de imobilidade no governo.
Já há, por sinal, ministros reclamando com Lula da morosidade da Casa Civil para analisar seus projetos, que, obrigatoriamente, devem passar pela pasta de Dirceu para uma última análise antes da assinatura presidencial.
Na reforma ministerial de janeiro, Lula retirou as atribuições políticas da Casa Civil a fim de dar a Dirceu mais tempo para cuidar da coordenação de governo, o chamado "gerenciamento". Lula avalia que ele "não tinha pernas" para tocar as duas tarefas.
O presidente também já tem tratado mais diretamente com alguns ministros do que fazia antes do caso Waldomiro vir à tona.
Segundo pessoas próximas ao presidente, ele tem procurado ampliar o leque de pessoas com que ele conversa para formar sua opinião a respeito de futuras decisões de governo.



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