São Paulo, quarta-feira, 15 de março de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/HORA DAS CASSAÇÕES

Relatório contra petista recebeu 9 votos; plenário vota hoje dois processos de perda de mandato

Conselho pede a cassação de João Paulo; tucano foi contra

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Conselho de Ética da Câmara aprovou ontem à noite o pedido de cassação do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP), pelo placar de 9 votos a 5. O parecer do deputado Cezar Schirmer (PMDB-RS) agora segue ao plenário, onde irá a voto provavelmente em 29 de março.
A surpresa foi o voto do tucano Bosco Costa (SE), suplente no conselho, que apareceu na última hora e ficou contra a cassação. Costa substituiu Mendes Thame (PSDB-SP), que teria viajado repentinamente. "Votei de acordo com minha consciência, porque tenho dúvidas sobre a responsabilidade atribuída ao deputado João Paulo", afirmou.
Votaram também contra a cassação Ângela Guadagnin (PT-SP), Benedito de Lira (PP-AL), Sandes Junior (PP-GO) e Edmar Moreira (PFL-MG). Acompanhando o parecer do relator ficaram Chico Alencar (PSOL-RJ), Orlando Fantazzini (PSOL-SP), Nelson Trad (PMDB-MS), Ann Pontes (PMDB-PA), Jairo Carneiro (PFL-BA), Moroni Torgan (PFL-CE), Carlos Sampaio (PSDB-SP) e Julio Delgado (PSB-MG).
A sessão durou o dia inteiro e foi tensa. Houve pesadas acusações de João Paulo a Schirmer, chamado pelo ex-presidente da Câmara de "mentiroso", "omisso", "agressivo" e "preconceituoso".
Pouco antes, Schirmer, que em seu parecer já havia acusado João Paulo de mentir sobre o saque feito por sua mulher no valor de R$ 50 mil do "valerioduto", havia feito um duro discurso acusando o petista de ter como único argumento a palavra do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.
"O tempo vai se encarregar de julgar a mim, mas também ao deputado Schirmer. (...) V. Exa. [Schirmer] mente, usa a mentira. Não é só a mentira. V. Exa. é omisso. Para não dizer do caráter", afirmou petista, para quem Schirmer falseou provas.
O peemedebista ouviu e, ao final, atribuiu a explosão a "angústia e sofreguidão" de João Paulo.
A troca de acusações veio ao final de um dia quente. Logo no começo, Guadagnin, agindo de forma coordenada com João Paulo, formulou uma questão de ordem pedindo a exclusão de um capítulo inteiro do relatório de Schirmer, que tratava do contrato firmado entre a Câmara e a agência SMPB, do publicitário Marcos Valério de Souza.
O contrato foi contestado por um relatório do Tribunal de Contas da União, que, segundo Guadagnin, tem caráter preliminar.
Após uma hora de debate, a questão de ordem foi recusada pelo presidente do conselho, Ricardo Izar (PTB-SP), com o argumento de que não poderia interferir no voto do relator.
Guadagnin não se deu por vencida e passou a ler um contra-relatório, contestando uma a uma as acusações do parecer de Schirmer. Levou três horas para ler as 80 páginas, apesar de seu tempo regimental ser de dez minutos.
A petista rebateu a tese de que houve irregularidades no contrato com a SMPB, dizendo que a licitação comandada por João Paulo obedeceu a critérios técnicos.

No plenário
Após as duas absolvições da semana passada, em que foram mantidos os mandatos dos deputados Roberto Brant (PFL-MG) e Professor Luizinho (PT-SP), o plenário da Câmara vota hoje, a partir das 16h, os processos de cassação do ex-líder do PP Pedro Henry (MT) e do presidente do partido, Pedro Corrêa (PE).
No primeiro caso, o relatório do Conselho de Ética recomenda a absolvição de Henry, apontado pelo ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como o responsável por "distribuir" os recursos do caixa dois do PT para a bancada. Os integrantes do conselho aceitaram o argumento de que não havia provas contra o deputado.
Já a tendência em relação ao deputado Corrêa é de aprovar o relatório do conselho, que pediu sua cassação. Corrêa é apontado como destinatário de R$ 4,1 milhões do esquema do publicitário Marcos Valério de Souza.


Texto Anterior: Elio Gaspari: O mico ferroviário é um gênio
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.