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Membro do Codefat agiu em favor de empresas da família em 2004
Atual presidente do conselho do FAT, Luiz Fernando Emediato pediu a banco que firmas fossem contratadas como intermediárias na concessão de crédito consignado
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O atual presidente do Codefat (Conselho Deliberativo do
FAT), Luiz Fernando Emediato, intercedeu, na condição de
conselheiro do órgão, em favor
de duas empresas de sua família para que fossem contratadas
como intermediárias na concessão de empréstimos para
trabalhadores com desconto
em folha: o crédito consignado.
Emediato tem, em família,
uma empresa de consultoria de
crédito, a Ativa. Em outubro de
2003, foi constituída a CAN
Captação, da qual o irmão, Renato, era sócio. Até hoje, as
duas operam como correspondentes bancárias, uma espécie
de representante dos bancos,
nas empresas que aderem ao
programa de crédito consignado. Para isso, ganham uma comissão sobre as operações.
Os sindicatos -segundo informou Emediato num e-mail à
Folha- podem se unir aos
bancos para indicar às empresas as instituições financeiras
de sua preferência. A Força
Sindical até assinou com bancos acordos de cooperação.
Emediato é o representante
da Força Sindical no Codefat.
Também representou a central
no Conselho de Desenvolvimento Econômico Social.
Em fevereiro de 2004, enviou ao atual vice-presidente
do Banco BMG, Márcio Alaor,
um e-mail em que pede "um
apoio para o pessoal" da Ativa e
da CAN. Segundo o e-mail, ao
qual à Folha teve acesso, a Ativa estaria enfrentando prejuízos com outro banco.
"Peço mais uma vez seu
apoio para o pessoal da Ativa
-que está tendo prejuízos, infelizmente, com o Santander,
mas não podem deixar de atender- e da CAN."
Mais adiante, ele afirma que
as consultorias -segundo ele,
de pequeno porte- poderiam
operar na execução de contrato, recém-assinado, entre o
banco e a Empresa de Correios
e Telegráfos: "Esse trabalho
nos Correios pode ser muito
bem atendido por eles". "No
que puder ajudar, sem privilegiar, seria bom para eles terem
um pouco de oxigênio."
Ao responder se as empresas
atuaram como prestadoras de
serviço com os Correios, o
BMG informou, via assessoria,
que "todos os correspondentes
do banco, aproximadamente
500, podem trabalhar todos os
convênios e produtos".
Segundo o banco, entre 2005
e 2008, os empréstimos intermediados pela CAN, nos Correios, somaram R$ 39,3 mil. Da
Ativa, R$ 18,8 mil.
Segundo a assessoria do
BMG, as duas empresas participam, juntas, com R$ 19,8 milhões de toda a carteira de crédito consignado do banco, que
é R$ 10,3 bilhões.
No e-mail endereçado ao
BMG, Emediato registra ainda
a pressão dos sindicatos filiados à Força contra a "morosidade" dos bancos no atendimento às pequenas empresas:
"Convivo há 12 anos com estes
sindicalistas e eles são assim
mesmo -querem pressa em
tudo. Geralmente têm razão".
À época, Emediato integrava
o Codefat, mas não como presidente. As empresas da família
estavam também sob responsabilidade dos irmãos Solange
e Renato Emediato.
Pelo modelo de crédito
-permitido pelo governo federal desde setembro de 2003-,
o banco concede o empréstimo, que é abatido do salário do
funcionário.As empresas podem negociar diretamente com
o banco. Mas é autorizada a
participação de sindicatos.
Embora Emediato afirme
não ter cometido ilegalidade, o
advogado Luiz Gustavo de Oliveira Ramos afirma que integrantes de conselhos devem se
submeter às regras do serviço
público. Falando em hipótese,
o advogado afirma que, configurada a tentativa de vantagem
pessoal, o conselheiro fica sujeito a sanções disciplinares, da
advertência à perda do cargo.
Para Ventura Alonso Pires,
da Pires e Gonçalves advogados, "há um conflito de interesses, que pode resvalar em ilegalidade". Também falando em
hipótese, diz: "O caso precisa
ser analisado com cuidado".
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