São Paulo, domingo, 15 de março de 2009

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Painel

RENATA LO PRETE - painel@uol.com.br

Lógica do palanque

Em privado, alguns setores do governo manifestam preocupação com a "retórica de campanha" que atrasa e/ou contamina as ações de combate à crise. O exemplo mais citado é o do pacote habitacional, no forno desde janeiro e portador de uma promessa -a construção de um milhão de casas- que o próprio Lula já sabe ser impossível de cumprir. Outro é a demora em reconhecer publicamente que não haverá dinheiro para pagar os reajustes combinados antes da crise com os servidores federais, eleitorado do PT.
O problema, na avaliação dos descontentes, é que da forma como o governo está hoje organizado tudo passa por Dilma Rousseff. E a ministra está no palanque.



Calendário. Henrique Meirelles formalizará em setembro, no prazo-limite, sua já acertada filiação ao PP, partido pelo qual pretende disputar o governo de Goiás. No entender de aliados, não haverá problema em que ele, já com a ficha assinada, continue na presidência do Banco Central até a data da desincompatibilização. Há quem discorde.

Nem pensar. Em conversa com Lula, Jaques Wagner (PT) manifestou o desejo de desalojar do governo da Bahia os indicados do PMDB, partido que o ajudou a se eleger em 2006, mas que ameaça abandoná-lo em 2010, lançando candidato o ministro Geddel Vieira Lima (Integração). Com jeitinho, o presidente mandou o amigo esquecer a ideia. Por Dilma, a meta de Lula é ficar bem com o PMDB em todas as praças possíveis.

Milhagem. Enquanto a cúpula do PSDB protesta contra as viagens de Dilma, José Serra irá a Curitiba amanhã. No Palácio das Araucárias, assinará convênio sobre política fiscal com o colega Roberto Requião (PMDB). Depois, o prefeito e correligionário Beto Richa o levará para visitar obras -algumas do PAC.

"Dilmo". Quem se impressiona com a agenda de Dilma deve conferir a quilometragem de Aloysio Nunes. Cotado para a sucessão de Serra, o chefe da Casa Civil de São Paulo é uma máquina de visitar prefeitos e entregar obras.

Números. Enquanto Aloysio participa de inaugurações em série, deputados próximos a Geraldo Alckmin recorrem ao velho expediente de encomendar pesquisas. Elas mostram o secretário do Desenvolvimento com acachapante vantagem sobre Aloysio ou qualquer outro tucano que postule a cadeira de Serra.

Espelho. Em jantar que reuniu a cúpula do DEM com José Serra, na quinta, o prefeito Gilberto Kassab fez piada com o visual careca-total do supersecretário Alexandre de Moraes (Transportes e Serviços): "É a cabeça mais brilhante do meu governo".

Na mira. José Gomes Temporão (Saúde) foi momentaneamente esquecido, mas Reinhold Stephanes (Agricultura) continua sob ataque especulativo da bancada do PMDB na Câmara. Os deputados reclamam que o secretário-executivo indicado por eles, Silas Brasileiro, está "esvaziado de atribuições".

Para ontem. A Asbin, espécie de sindicato dos arapongas, divulgou manifesto no qual cobra a nomeação do substituto de Paulo Lacerda: "Urge a definição do nome do novo diretor-geral. A Abin vive há sete meses com uma não-saudável situação de interinidade. Os servidores entendem que deve ser indicado um funcionário de carreira para comandar a instituição". O interino é Wilson Trezza.

GPS. Arquivos enviados pela Justiça Federal à CPI dos Grampos dão conta de que arapongas da Abin, a serviço do delegado Protógenes Queiroz na Operação Satiagraha, monitoraram "in loco" Naji Nahas em pelo menos duas viagens feitas pelo megainvestidor ao exterior: à Arábia Saudita e ao Reino Unido.

com VERA MAGALHÃES e SILVIO NAVARRO

Tiroteio

"É um governo sob suspeição permanente. Primeiro, denúncias de corrupção. Agora, acusação de espionagem entre seus membros. Imagine o que não fizeram com os adversários."


Do deputado ELVINO BOHN GASS, líder do PT na Assembleia gaúcha, sobre o fato de o ouvidor da Segurança ter deixado o governo de Yeda Crusius (PSDB) apontando a existência de uma central de grampos.

Contraponto

Mulher de visão

Chamada a participar, há uma semana, da cerimônia do quarto centenário do Tribunal de Justiça da Bahia, a ministra da Casa Civil foi recebida pela presidente e por outras três mulheres com assento na Mesa Diretora do TJ.
Quando chegou sua vez de discursar, a presidente, Silvia Zarif, dirigiu-se à convidada ilustre:
-Eu gostaria de saudar a presidente Dilma Rousseff!
Diante do riso geral, a desembargadora explicou que se enganara porque a ministra estava ali como representante de Lula. Na plateia, um petista entusiasmado com a candidatura presidencial de Dilma emendou baixinho:
-É que o tribunal faz 400 anos, mas está dois à frente...


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