São Paulo, domingo, 15 de março de 2009

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Na relação bilateral, sai o "ponto G" e entra o "pepino"

Encontro dura o dobro do previsto e entrevista é marcada por descontração; Obama pede desculpas por falar muito

Sobre a crise, Lula diz que não gostaria de ter "pepino desse na mão'; mesmo sem a tradução da expressão, Obama faz piada de volta

DE WASHINGTON

O encontro deveria durar uma hora de um sábado de manhã. Acabou levando duas, das quais Barack Obama e Luiz Inácio Lula da Silva gastaram meia hora apenas os dois e seus intérpretes e falaram 40 minutos à imprensa no Salão Oval, no que um veterano cinegrafista da CNN quantificou como o mais longo evento do tipo que ele cobriu na Casa Branca.
Se o parâmetro são as reuniões anteriores com os primeiros-ministros Taro Aso (Japão) e Gordon Brown (Reino Unido), os dois únicos líderes que antecederam o brasileiro em recepções na Casa Branca desde a posse do democrata, houve química entre os dois. Lula fez piadas, Obama riu e o norte-americano até pediu desculpas por falar muito.
Ouviu de volta, entre risos: "Na América Latina não nos assustamos com quem fala muito, todos falamos muito". Havia a preocupação entre os assessores brasileiros quanto ao primeiro encontro entre os dois líderes, que falaram antes duas vezes ao telefone. Embora tenham trajetórias historicamente semelhantes -o primeiro operário no Planalto, o primeiro negro na Casa Branca-, eles são muito diferentes.
Ou não. Obama reafirmou frase que havia dito na campanha, referindo-se a sua cor: "Sim, sou parecido com os brasileiros. Ouço que tenho alguns amigos por lá". Confirmou também que visitará o país em breve, embora não tenham "a data certa". "Não sabemos quanto tempo vamos ficar, mas essa será só a primeira visita."
Especula-se que seja logo após o 5º Encontro das Américas, em Trinidad e Tobago, que ocorre entre 17 e 19 de abril. "Mas posso lhes dizer que, como alguém que cresceu no Havaí, seria muito importante que eu vá ao menos ao Rio, onde ouvi dizer que as praias são muito bonitas." Indagado sobre se aproveitaria para visitar Manaus, hipótese aventada nos últimos dias, aproveitou para cutucar a sua oposição.
"Eu adoraria fazer uma viagem pela Amazônia", disse o democrata. "Suspeito que o Partido Republicano adoraria me ver viajar à Amazônia e talvez me perder..." Cerebral e metódico, Obama estava descontraído e brincalhão. Até quando entendeu apenas parcialmente uma graça de Lula.
Na abertura de sua declaração conjunta, o brasileiro repetira o que vem dizendo, que rezava pelo colega por conta da crise. "Rezo mais por ele do que por mim mesmo", disse. "Com apenas 40 dias de mandato [na verdade, 53 dias ontem], ter um pepino desses na mão, eu não queria estar no lugar dele."
O intérprete não traduziu a expressão tipicamente brasileira, dizendo apenas que Lula "não queria estar na sua posição". Obama riu e disse que "você soa como alguém que tem falado com minha mulher". Lula já havia arrancado risadas de George W. Bush na visita deste a São Paulo, em 2006, ao dizer que os dois países ainda não haviam chegado ao "ponto G" nas negociações.
As duas equipes trocaram presentes. A brasileira deu um prisma de pedras preciosas e recebeu uma "Constitution Box", caixa comemorativa com a Constituição norte-americana. Obama levou Lula ao carro, acompanhado só do intérprete. Ouviu atento do brasileiro um pedido por um empenho maior no Fórum dos CEOs, que reúne empresários dos dois países. Por fim, colocou as duas mãos nos ombros de Lula e disse: "Nos vemos em Londres". (SD)


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