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Na relação bilateral, sai o "ponto G" e entra o "pepino"
Encontro dura o dobro do previsto e entrevista é marcada por descontração; Obama pede desculpas por falar muito
Sobre a crise, Lula diz que não gostaria de ter "pepino desse na mão'; mesmo sem a tradução da expressão, Obama faz piada de volta
DE WASHINGTON
O encontro deveria durar
uma hora de um sábado de manhã. Acabou levando duas, das
quais Barack Obama e Luiz
Inácio Lula da Silva gastaram
meia hora apenas os dois e seus
intérpretes e falaram 40 minutos à imprensa no Salão Oval,
no que um veterano cinegrafista da CNN quantificou como o
mais longo evento do tipo que
ele cobriu na Casa Branca.
Se o parâmetro são as reuniões anteriores com os primeiros-ministros Taro Aso
(Japão) e Gordon Brown (Reino Unido), os dois únicos líderes que antecederam o brasileiro em recepções na Casa Branca desde a posse do democrata,
houve química entre os dois.
Lula fez piadas, Obama riu e o
norte-americano até pediu desculpas por falar muito.
Ouviu de volta, entre risos:
"Na América Latina não nos assustamos com quem fala muito, todos falamos muito". Havia
a preocupação entre os assessores brasileiros quanto ao primeiro encontro entre os dois líderes, que falaram antes duas
vezes ao telefone. Embora tenham trajetórias historicamente semelhantes -o primeiro operário no Planalto, o primeiro negro na Casa Branca-,
eles são muito diferentes.
Ou não. Obama reafirmou
frase que havia dito na campanha, referindo-se a sua cor:
"Sim, sou parecido com os brasileiros. Ouço que tenho alguns
amigos por lá". Confirmou
também que visitará o país em
breve, embora não tenham "a
data certa". "Não sabemos
quanto tempo vamos ficar, mas
essa será só a primeira visita."
Especula-se que seja logo
após o 5º Encontro das Américas, em Trinidad e Tobago, que
ocorre entre 17 e 19 de abril.
"Mas posso lhes dizer que, como alguém que cresceu no Havaí, seria muito importante que
eu vá ao menos ao Rio, onde ouvi dizer que as praias são muito
bonitas." Indagado sobre se
aproveitaria para visitar Manaus, hipótese aventada nos últimos dias, aproveitou para cutucar a sua oposição.
"Eu adoraria fazer uma viagem pela Amazônia", disse o
democrata. "Suspeito que o
Partido Republicano adoraria
me ver viajar à Amazônia e talvez me perder..." Cerebral e
metódico, Obama estava descontraído e brincalhão. Até
quando entendeu apenas parcialmente uma graça de Lula.
Na abertura de sua declaração conjunta, o brasileiro repetira o que vem dizendo, que rezava pelo colega por conta da
crise. "Rezo mais por ele do que
por mim mesmo", disse. "Com
apenas 40 dias de mandato [na
verdade, 53 dias ontem], ter um
pepino desses na mão, eu não
queria estar no lugar dele."
O intérprete não traduziu a
expressão tipicamente brasileira, dizendo apenas que Lula
"não queria estar na sua posição". Obama riu e disse que
"você soa como alguém que
tem falado com minha mulher". Lula já havia arrancado
risadas de George W. Bush na
visita deste a São Paulo, em
2006, ao dizer que os dois países ainda não haviam chegado
ao "ponto G" nas negociações.
As duas equipes trocaram
presentes. A brasileira deu um
prisma de pedras preciosas e
recebeu uma "Constitution
Box", caixa comemorativa com
a Constituição norte-americana. Obama levou Lula ao carro,
acompanhado só do intérprete.
Ouviu atento do brasileiro um
pedido por um empenho maior
no Fórum dos CEOs, que reúne
empresários dos dois países.
Por fim, colocou as duas mãos
nos ombros de Lula e disse:
"Nos vemos em Londres".
(SD)
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